É isto que propõe um projeto da Pastoral da Ecologia Integral do Regional Sul 2 da CNBB, a ser implementado este ano em paróquias no Estado do Paraná

Quando já não há mais comidas e bebidas sendo servidas, quando a música já parou de tocar e as conversas silenciaram após a animação típica das festas paroquiais, restam os muitos resíduos do que foi consumido, não raro, misturados no mesmo saco, para serem levados pelo caminhão de lixo.
A fim de reverter esta típica cena das festas paroquiais, os agentes da Pastoral da Ecologia Integral do Regional Sul 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) idealizam o projeto “Festa Paroquial + Sustentável”, que este ano será implementado em até cinco paróquias no estado do Paraná, com vistas a favorecer a correta separação e destinação dos resíduos e promover a consciência ambiental.
“Nessas festas, na maioria dos casos, se junta tudo: reciclável, orgânico e rejeito. Geralmente, não há uma destinação correta dos resíduos. Diante disso, nós, da Pastoral da Ecologia Integral (PEI), nos perguntamos se talvez não esteja faltando conscientização das pessoas e sensibilização sobre o tema e, por isso, pensamos nesse projeto”, detalhou, ao O SÃO PAULO, Letícia Framesche, da coordenação da PEI do Regional Sul 2 da CNBB.
METODOLOGIA
A metodologia do projeto está estruturada em três passos principais. O primeiro consistirá na identificação da realidade de cada paróquia, para entender quais são as pessoas que poderiam atuar como voluntárias. O segundo passo será o de capacitá-las, presencialmente ou de modo on-line, para que entendam no que consiste a separação dos resíduos, como fazê-la a partir do que será gerado na festa e as maneiras para divulgar a iniciativa e seus resultados.
“Não será simplesmente chegar a uma festa na paróquia e começar o projeto. Será preciso ir trabalhando aos poucos a proposta, tanto com o pároco quanto com os fiéis”, explicou Letícia, ressaltando que o projeto só será começado e levado adiante em uma paróquia se houver o consentimento do pároco. Este, ao inscrever sua paróquia, assina uma carta de intenção, explicando o interesse em participar do projeto, citando eventuais práticas de sustentabilidade já adotadas na paróquia e as expectativas em relação à assessoria da PEI.
O passo seguinte será o de fazer o levantamento dos materiais necessários para que se realize a coleta dos resíduos, tais como luvas, big bags e outros itens a serem comprados pela própria paróquia ou obtidos em parceria com o poder público ou apoiadores privados. Nessa fase, também deverá ser feito o contato com aqueles que serão os responsáveis pela destinação final dos resíduos, como as cooperativas de reciclagem ou os catadores autônomos.
MÚLTIPLA ABRANGÊNCIA
“O projeto é muito amplo, pois abarca a questão ambiental, no que se refere ao destino adequado dos resíduos, e, também, envolve o social, porque inclui pessoas na cadeia de destino dos resíduos, e há a questão econômica, pois esses resíduos serão comercializados, de maneira direta ou indireta, pelos catadores autônomos ou pelas cooperativas”, ressaltou a coordenadora da Pastoral da Ecologia Integral.
“Há também a questão religiosa, ou seja, de pessoas da Igreja Católica sendo tocadas por essa temática”, apontou Letícia, destacando que a iniciativa poderá ser feita mesmo nas paróquias em que ainda não haja a Pastoral da Ecologia Integral: “Temos dito que este projeto não é do ‘grupinho ecológico’ da paróquia. Todas as pessoas, das diversas pastorais, devem se envolver”.
Em entrevista ao site do Sul 2 da CNBB, Dom Aparecido Donizeti de Sousa, Bispo Auxiliar de Cascavel (PR) e Referencial da Pastoral da Ecologia Integral no Regional, destacou que a meta é que “todas as paróquias se sintam envolvidas nesse projeto, para que ele possa produzir frutos” e que, com isso, se crie entre os paroquianos “uma consciência maior sobre a corresponsabilidade de todos no respeito e cuidado com a casa comum. Outro fruto que também desejo é que a sociedade civil, vendo acontecer essa iniciativa dentro das nossas comunidades, seja sensibilizada, pois é obrigação de todos nós termos esse cuidado com a casa comum”.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Cada paróquia selecionada deverá escolher uma de suas festas para a aplicação do projeto, que pode ser a festividade principal do ano, no geral a festa do padroeiro, ou outra, como uma quermesse, por exemplo.
Segundo Letícia, as peculiaridades de cada paróquia e a festa escolhida levarão a resultados diferentes quanto aos resíduos coletados: “Uma festa da macarronada, por exemplo, vai gerar como resíduo as embalagens nas quais se coloca o macarrão. Já se for um churrasco, o resíduo será o palito do espetinho. No caso das bebidas, geralmente vai ter latinhas, garrafas PET de água ou de suco, canudinhos, copos descartáveis”.
A coordenadora da PEI lembrou, ainda, que a reversão da tendência de um demasiado uso de descartáveis nas festas só acontecerá por meio de um processo de educação ambiental permanente.
“Não se imagina que se diga, ‘ah, este ano a minha paróquia usou muitos descartáveis, no ano que vem não vai ter mais nada’. Sabemos que não é assim. Deve-se motivar reflexões: se já é sabido que as sacolas que comumente se usa têm uma lenta degradação, por que não mudar para uma sacola biodegradável ou se produzir, com a ajuda de alguma pastoral, sacolas ecológicas? Em vez de entregar talheres descartáveis, por que não talheres de bambu? Portanto, é um caminhar para a sustentabilidade, e daí porque o nome do projeto é ‘Festa Paroquial + Sustentável’ e não ‘Festa Paroquial Sustentável’, pois se trata de um processo”, explicou Letícia.
Ela também destacou que para a iniciativa ter êxito, será fundamental o engajamento dos párocos, os quais devem entender que, inicialmente, uma festa paroquial mais sustentável poderá ser mais custosa, mas gerará benefícios para todos a longo prazo.
“Sabemos que é mais custoso. Será preciso, portanto, um ‘trabalho de formiguinha’ para essa sensibilização. Não se romperá hábitos do dia para a noite, mas a comunidade precisa caminhar para isso. E será possível conectar este propósito com a Campanha da Fraternidade 2025, que trata da Ecologia Integral, e com o que pede o Papa Francisco na encíclica Laudato si’, bem como outros documentos da Igreja”, prosseguiu.
Letícia Framesche lembrou, ainda, que tal sensibilização “acabará criando uma atmosfera diferente na comunidade, e, indiretamente, envolvendo todos os fiéis e os que participam das festividades. ‘Nossa, que legal, naquela festa na paróquia fizeram a separação dos resíduos. E aqui na minha casa, que eu gero bem menos, não faço isso’. Portanto, essa iniciativa ajudará a conscientizar as pessoas também”.
As paróquias do Paraná em que o projeto será implementado serão anunciadas em março. Ao término da aplicação da iniciativa, elas deverão compartilhar os resultados alcançados e aprendizados. A proposta é que nos próximos anos o projeto seja amplamente replicado.