
Reconhecida como a região mais populosa da capital paulista, a zona Leste ainda enfrenta grandes desafios quanto ao descarte irregular de lixo e à coleta seletiva de resíduos.
Esta também é a percepção de André Silva, morador da Vila Prudente e membro do Movimento de Defesa das Favelas. Ao O SÃO PAULO, ele afirmou que apesar de a coleta seletiva ser apresentada atualmente como universalizada na cidade, na prática muitas áreas permanecem descobertas, especialmente periferias e favelas.
“Os maiores desafios enfrentados por moradores, catadores e cooperativas têm muito a ver com a falta de incentivos, comunicação limitada, ausência de clareza e de informação sobre a coleta seletiva. Nos bairros mais estruturados, isso já acontece com melhor qualidade, mas nas periferias, o uso de caçambas e a ausência de coleta porta a porta dificultam a implementação da coleta seletiva. A universalização ainda não é uma realidade”, apontou.
André destacou que para impulsionar a coleta seletiva, “é fundamental aumentar o número de cooperativas, valorizar os catadores avulsos e garantir-lhes pagamento pelos serviços prestados. Melhorar a coleta seletiva não é só destinar material, mas dar dignidade, renda e qualidade de vida às pessoas envolvidas”.
Para ele, a mensagem central é de responsabilidade e cuidado: “Inspirado no Papa Francisco e no conceito da Laudato si’, precisamos entender que esta é nossa casa, nosso planeta. Do micro ao macro, cada ação conta: desde não jogar um papel na rua até compreender a logística reversa e cobrar responsabilidades”.
Entender os fatores que dificultam a reciclagem
Para Cristiano Cardoso, 40, catador de material reciclável há duas décadas, a falta de educação ambiental da população e a invisibilidade enfrentada pelos catadores continuam sendo os principais empecilhos para o avanço da coleta seletiva na zona Leste. Outro complicador, segundo ele, é a falta de financiamento adequado para modernizar as cooperativas.
Cristiano destacou que a atenção a esses fatores pode solucionar a problemática da falta de coleta seletiva adequada, especialmente se considerado que os grandes caminhões não conseguem entrar nas regiões mais periféricas e que são os próprios catadores que, dentro de suas limitações, ajudam a minimizar o impacto do acúmulo de lixo no território.
Outro ponto destacado pelo catador é que a população ainda não compreende o que de fato é reciclável, o que dificulta a separação correta dos resíduos. Além disso, a participação da comunidade no tema ainda é tímida.
Segundo ele, o engajamento das pessoas varia conforme o perfil social e, para mudar esse cenário, é preciso que haja investimento em ações concretas em universidades, escolas e empresas da região: “Quando o tema entra nesse ecossistema, as pessoas começam a entendê-lo mais e o impacto positivo virá aos poucos”.
Fortalecer a comunidade
A Fundação Tide Setubal, presente na zona Leste há 20 anos, é responsável pelo gerenciamento do projeto Recicla Lapenna. A iniciativa busca fortalecer a coleta seletiva, promover a educação ambiental e gerar renda para catadores e cooperativas locais.
Segundo Marcelo Ribeiro, gerente de projetos estratégicos da fundação, o Recicla Lapenna conecta ações comunitárias já existentes e potencializa o engajamento dos moradores, diante da necessidade de crescimento da compreensão e de práticas que coloquem o tema da coleta seletiva no centro das discussões.
“Apesar dos avanços, a coleta seletiva ainda enfrenta desafios estruturais. Muitas áreas permanecem desassistidas e a infraestrutura pública é insuficiente, sobrecarregando catadores e cooperativas. A conscientização ambiental também é um ponto crítico, e a falta de informações acessíveis e de coleta regular dificulta o engajamento da população”, comentou.
Para Marcelo, a solução está no envolvimento de todos: “Cada atitude conta para transformar nosso território. Separar corretamente os resíduos, reduzir desperdício e apoiar iniciativas locais fortalece a economia circular e gera oportunidades para todos”, expressou.
Celebrar com sustentabilidade
A 99ª Festa de Nossa Senhora Achiropita marcou o início de uma parceria desta paróquia no bairro do Bixiga com a Loga e o Instituto Soul do Plástico, que resultou em uma estratégia sustentável ancorada nos pilares da capacitação da equipe para separação de resíduos e no engajamento dos visitantes por meio de mensagens no som e telão com conteúdo educativo. A coleta de resíduos ganhou amparo técnico com a SP Regula, e a Loga, além de coletar os materiais, encaminhou os recicláveis para processamento automatizado em suas unidades parceiras.

TORNE A RECICLAGEM PARTE DE SUA VIDA
1º Faça uma limpeza mínima no item a ser reciclado, retirando sobras de alimentos ou de líquidos;
2º Certifique-se de que o reciclável esteja seco. Um papel com óleo, por exemplo, poderá “contaminar” os demais, ou seja, sujar itens que estavam prontos para ser reciclados;
3º Sempre que possível, compacte o reciclável: amasse as latinhas, tire o ar das garrafas plásticas, desmonte e dobre as embalagens e papéis;
4º Se for incluir vidro quebrado entre os recicláveis, coloque-o em embalagens de leite ou garrafas plásticas e escreva sobre seu estado. Por exemplo, “vidro quebrado”;
5º Coloque os recicláveis em um saco separado e de cor diferente daquele do lixo comum.
ATENÇÃO:
Pilhas, baterias, remédios, óleo de cozinha, roupas, lâmpadas, eletrônicos e pneus não devem ser descartados com os recicláveis. Saiba para onde destiná-los no site do Recicla Sampa, na aba resíduos especiais.
OUTRAS POSSIBILIDADES:
O descarte dos recicláveis também pode ser feito nos 129 ecopontos e nos diversos Pontos de Entrega Voluntária (PEV’s), aquelas grandes caixas-box instaladas em alguns locais com intensa movimentação de pessoas, como praças, parques, avenidas e estações de trem e metrô.
Para mais dicas e informações sobre a coleta de recicláveis: https://www.reciclasampa.com.br