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No Butantã, uma proposta ambiental para renovar a paisagem urbana

Corredor iniciado em 2023 busca conectar áreas verdes, melhorar a qualidade de vida da população e nela despertar maior conscientização ambiental

Fotos: Daniel Reis/SVMA

Um caminho verde começou a ser construído há dois anos na zona Oeste de São Paulo. O Corredor Verde do Butantã, que liga a Cidade Universitária ao Parque da Previdência, deu à região uma nova dimensão de preservação ambiental e busca transformar a cidade em um espaço melhor para se respirar e mais acessível e habitável a todos os seres vivos.

A ideia surgiu após a participação de moradores e voluntários do bairro em uma capacitação promovida pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente (SVMA).

O projeto começou a ser concretizado em julho de 2023, por meio de uma parceria entre a SVMA, a Subprefeitura do Butantã e o coletivo Corredor Ecológico Urbano Butantã, com o plantio inicial de 16 mudas de espécies como carobinha, cereja-do-rio-grande, grumixama, oiti, babosa-branca, manacá-da-serra, ipê-branco e chuva-de-ouro.

Um espaço vivo e diverso

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Bruno Rodrigues, um dos fundadores do coletivo que encabeça a iniciativa, explicou que o objetivo do corredor vai além de criar uma faixa de vegetação: o que se busca é um espaço vivo de convivência e permanência para pessoas, animais, plantas e micro-organismos.

“O corredor almeja acolher tanto seres humanos quanto não humanos – vegetais, animais, fungos e até bactérias. Todos os reinos dos seres vivos, de alguma forma, são beneficiados por esse lugar de passagem, mas também de estadia, de sombra, de tranquilidade”, disse Bruno.

Ele também ressaltou a preocupação com a qualidade urbana da região, com calçadas largas, acessíveis e sombreadas, equipadas com rampas e afastadas das vias, garantindo mais segurança e conforto para todos: “Sonhamos com calçadas nas quais uma cadeira de rodas possa passar com tranquilidade. Árvores, vegetação e bancos para descanso são parte dessa cidade mais humana que queremos construir.”

Mobilização e educação ambiental

O projeto é ancorado na mobilização dos moradores e de voluntários engajados em pautas ambientais, vindos de diferentes regiões da cidade. Chamados de “dindos”, eles cuidam do plantio, da preservação e, sobretudo, do desafio de sensibilizar a população sobre a importância da presença e manutenção correta das árvores nas calçadas.

Como o corredor ainda está em fase inicial, as árvores são jovens e de pequeno porte. Bruno compartilhou à reportagem que o ideal é que o corredor se estabeleça no solo, em uma faixa gramada com árvores plantadas próximas à sarjeta, criando uma área contínua e permeável, modelo já visto em bairros como o Jardim Europa.

“A verdade é que quanto mais árvores, mais segurança. Elas se protegem mutuamente. As raízes se entrelaçam, os troncos se apoiam, e o vento perde força entre elas. Árvores isoladas são mais vulneráveis, como tudo que está sozinho na cidade.”

Segundo ele, é preciso parar de pensar a arborização como exceção ou elemento decorativo e enxergá-la como parte da infraestrutura essencial da cidade, ao lado do asfalto e da rede de esgoto: “A cidade do futuro precisa ser um grande bosque urbano.”

Pertencimento

Élio Gilberto Bueno de Camargo, 82, é aposentado, fundador do coletivo e conselheiro do Conselho Regional de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Butantã (Cades Butantã). À reportagem, ele recordou as transformações da região ao longo das últimas cinco décadas: “Quase não sobra mais área sem residência. E junto com essa transformação, veio o corte de árvores.”

Segundo ele, um dos propósitos do projeto é ampliar o envolvimento da comunidade local, pois, muitas vezes, pessoas de fora realizam atividades nas áreas verdes, enquanto os moradores ao redor não participam: “O desafio não é só entender, mas se envolver.”

O coletivo mapeou cerca de 20 atividades possíveis nas áreas verdes como hortas, compostagem e oficinas, e pretende apresentá-las à vizinhança, apoiando quem quiser se engajar.

Apesar das dificuldades, Élio celebrou os vínculos estabelecidos ao longo de dois anos de projeto: “Criamos laços com moradores de outras áreas por onde o corredor passa. A gente vai até lá, eles vêm até aqui. A ligação ecológica virou uma ligação entre pessoas. A cada muda plantada, é colocada uma plaquinha com o nome da árvore e de quem se comprometeu a cuidar dela, fortalecendo o senso de pertencimento.”

Uma cidade mais viva e integrada

Renato Fernandes Araújo, morador do Butantã e voluntário do projeto, reforça a importância da conexão entre as áreas verdes já existentes na região, como a USP, o Instituto Butantan e o Parque da Previdência: “Essa necessidade de conexão entre áreas naturais já é conhecida, e o corredor representa exatamente essa solução.”

Ele também lembra que São Paulo já foi famosa por seus bairros-jardins, modelo que hoje tornou-se esquecido. Renato defende que as áreas verdes não sejam privilégio de bairros nobres: “Os novos bairros e os bairros populares também precisam de árvores e jardins. As áreas verdes ajudam na infiltração da água, reduzem enchentes e recuperam nascentes. Isso é vida, é qualidade de vida.” 

Renato frisou que os voluntários que aderiram ao projeto demonstram preocupação com a preservação do espaço: “Se alguém quebra uma muda, já há o cuidado de repô-la. O benefício imediato é a beleza. O verde encanta, muda a paisagem. Algumas espécies florescem rápido; logo aparecem flores e frutos. É muito bonito ver isso acontecer”.

Para o futuro, o coletivo planeja estender o Corredor Verde para a Rodovia Raposo Tavares, conectando o Butantã a municípios vizinhos, como Taboão da Serra e Cotia.

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