Reciclar e reutilizar: atitudes sensatas perante a cultura do descarte

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Diariamente, cada brasileiro produz, em média, 1,04kg de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU), incluindo materiais secos que poderiam ser reciclados ou reutilizados como papéis, plásticos, vidros, borrachas, couros e metais. Nesta conta, apresentada no Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2023, produzido pela Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), também estão os resíduos úmidos, como os restos de alimentos, e os rejeitos que não podem ser reciclados ou reutilizados, a exemplo dos resíduos sanitários.

Este mesmo relatório indica, ainda, que das 77,1 milhões de toneladas de RSU geradas em 2022, cerca de 39% tiveram uma disposição final inadequada.

“O custeio adequado da gestão de resíduos não só garante a manutenção de serviços que protegem o meio ambiente e a saúde pública como possibilita a adoção de tecnologias adicionais ao longo de todo o processo de manejo, como reciclagem e aproveitamento energético, que contribuem para um modelo de economia mais sustentável”, lê-se na conclusão do relatório.

UM SINAL DA CULTURA DO DESCARTE

Na encíclica Laudato si’ (LS), o Papa Francisco alerta que devido à crescente produção de toneladas de resíduos, “a terra, nossa casa, parece transformar-se cada vez mais em um imenso depósito de lixo” (LS 21).

O Pontífice enfatiza que esta situação está intimamente ligada à cultura do descarte, “que afeta tanto os seres humanos excluídos quanto as coisas que se convertem rapidamente em lixo. Note-se, por exemplo, como a maior parte do papel produzido se desperdiça sem ser reciclado… Ainda não se conseguiu adotar um modelo circular de produção que assegure recursos para todos e para as gerações futuras e que exige limitar, o mais possível, o uso dos recursos não renováveis, moderando o seu consumo, maximizando a eficiência no seu aproveitamento, reutilizando-os e reciclando-os” (LS 22).

Na mesma encíclica, Francisco exorta as autoridades a incentivar modalidades de produção industrial com a máxima eficiência energética e menor utilização de matérias-primas, e promover a alteração do consumo, por meio de uma economia de resíduos e da reciclagem (cf. LS 180).

MARCO LEGAL NO BRASIL

Instituída pela lei 12.305/2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece a seguinte ordem de prioridade para a gestão e gerenciamento de resíduos sólidos: “não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos” (Art. 9).

Assim, reutilizar os itens ou reciclá-los antes de que sejam descartados estão entre as prioridades desta política, que tem como um dos princípios “o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania”. (Art. 7, VIII).

GANHOS PARA TODOS COM SIMPLES AÇÕES

Na encíclica Laudato si’, Francisco exorta a humanidade a buscar um desenvolvimento produtivo que leve a “formas inteligentes e rentáveis de reutilização, recuperação funcional e reciclagem” (LS 192).

Trata-se de um sonho exequível, como indicou, em maio de 2023, o Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) no relatório “Fechando a torneira: como o mundo pode acabar com a poluição plástica e criar uma economia circular”.

Conforme o estudo, até 2040 é possível reduzir em até 80% a poluição por plásticos se houver mais reutilização, reciclagem e reorientação e diversificação de itens, a fim de abandonar o uso maciço dos plásticos.

Quanto ao reúso, a adoção de garrafas reabastecíveis, dispensadores a granel e esquemas de devolução de embalagens poderá levar a uma redução de 30% na poluição por plástico. Já a reciclagem poderá responder por mais de 20% nesta redução – “a remoção dos subsídios aos combustíveis fósseis, a aplicação de diretrizes de design para melhorar a reciclagem e outras medidas podem aumentar a parcela de plásticos economicamente recicláveis de 21% para 50%”, diz o mesmo estudo –; enquanto a substituição de embalagens plásticas e sachês por produtos feitos de materiais como papel ou itens compostáveis levará a uma redução de 17% na poluição plástica.

REÚSO E RECICLAGEM NO COTIDIANO

A reutilização é a continuação do uso de um produto, na mesma função ou em outra, sem que o item passe por qualquer transformação biológica, física ou química. É o que ocorre no ambiente doméstico, por exemplo, quando o recipiente de requeijão vazio passa a ser usado como um copo, a garrafa PET descartada se torna um vaso de plantas e o pote de margarina em desuso começa a servir para guardar alimentos.

Em âmbito industrial, a reciclagem é mais comum do que o reúso e envolve o reaproveitamento da matéria-prima de um item a partir da alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos.

Conforme dados da associação Cempre – Compromisso Empresarial para Reciclagem, apenas 23,4% dos itens plásticos são reciclados no Brasil, percentual bem inferior aos da reciclagem de vidro (25,8%), caixas de leite longa vida (39,1%), aço (47,8%), papel (85%) e alumínio (que chega a quase 100%).

Esta edição do Caderno Laudato si’- Por uma Ecologia Integral reporta experiências de reúso e reciclagem que têm proporcionado benefícios ao meio ambiente, dignidade de vida a moradores de bairros mais pobres e despertado a consciência ambiental, desde a construção de casas com blocos a base de polipropileno; passando por asfaltos compostos de plásticos e lâmpadas solares feitas com garrafas PET , até as estruturas dos Jogos de Paris 2024 que utilizam plástico reciclado e as medalhas que levam pedaços de ferro da Torre Eiffel.

ANTES DE JOGAR ALGO NO LIXO:

  • Separe os resíduos orgânicos, como os restos de comida, dos itens recicláveis;
  • Ajunte em um outro saco vidros, plásticos, metais, papelões e papéis secos para reciclagem ou reutilize estes itens para outras funções domésticas;
  • Lave bem e deixe secar as embalagens de alimentos como caixas de leite, garrafas PET e potes em geral (como os de requeijão e margarina) antes de enviá-las à reciclagem.

DEPOIS DE FAZER ESTA SEPARAÇÃO:

  • Coloque o saco com o lixo orgânico para a coleta de rua, como de costume;
  • Já o saco com os recicláveis deve ser colocado na rua, nos dias e horários específicos em que o caminhão da empresa coletora passa em cada endereço. Em São Paulo, consulte nos sites da Loga (http://www.loga.com.br) – que atende as zonas Norte, Oeste e Centro – e da Ecourbis (https://www.ecourbis.com.br) – responsável pelo serviço nas zonas Sul e Leste;
  • Você também pode levar os recicláveis aos Pontos de Entrega Voluntária (PEV’s), aquelas grandes caixas verdes em forma de contêiner fechado, instaladas em locais com intenso fluxo de pessoas. Informe-se sobre o mais próximo de sua casa na subprefeitura de seu bairro.

VOCÊ PODE AINDA ENTREGAR SEU RECICLÁVEL EM UM DESTES PROJETOS:

Reciclázaro: Entre ações desta associação de inspiração católica está o projeto de coleta seletiva, pelo qual os materiais recolhidos em prédios, escolas, igrejas e empresas são classificados e repassados às cooperativas parceiras. Saiba mais detalhes pelo telefone (11) 3871-5972 ou pelo site www.reciclazaro.org.br.

Recifran: O Serviço Franciscano de Apoio à Reciclagem (Rua Junqueira Freire, 176, Liberdade) oferece ações formativas e de inclusão – por meio da separação de recicláveis – a mais de 60 pessoas, para inserção no mundo do trabalho e construção de sua autonomia. Saiba mais detalhes pelo telefone (11) 3209-4112.

Green Mining: Esta startup de logística reversa busca reaver embalagens descartadas pós-consumo para que sejam devolvidas ao ciclo de produção. Por meio do projeto “Estação Preço de Fábrica”, remunera a quem entrega o resíduo reciclável em seus contêineres. Saiba mais em: https://greenmining.com.br.

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