Uma multidão de jovens lotou o Parque Eduardo VI e seus arredores, em Lisboa, Portugal, para a Cerimônia de Acolhida com o Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023.
Por volta das 17h (13h no Brasil), o Santo Padre percorreu as ruas da capital portuguesa a bordo do papamóvel em direção ao local do evento, conhecido durante a JMJ como “Colina do Encontro”, onde foi erguido um grande palco.
A cerimônia contou com apresentações musicais e um momento no qual o foram compartilhados trechos de cartas de jovens que apresentaram ao Papa suas dúvidas e questões existenciais.
Ao saudar o Pontífice, o Patriarca de Lisboa, Cardeal Manuel Clemente agradeceu a Francisco por acolher a proposta de realizar uma JMJ em Portugal com boa vontade e incentivo.
“Muito precisamos de rejuvenescer com a Vossa presença e a Vossa palavra nestes dias, para que a beleza do Evangelho resplandeça ainda mais, aqui e pelo mundo além, nestes tempos em que não faltam obstáculos ao desenvolvimento integral e pacífico dos povos e entre os povos. Povos de que os jovens aqui reunidos são rosto e expressão eloquente e promissora, mesmo os que chegaram de países onde as dificuldades não faltam”, afirmou o Patriarca.
Chamados pelo nome
Dirigindo-se aos jovens, o Papa manifestou sua felicidade por vê-los e escutar o “simpático barulho” que fazem, contagiando-o com sua alegria.
“Amigos, não estais aqui por acaso. O Senhor chamou-vos, não só nestes dias, mas desde o início dos vossos dias. Sim, Ele vos chamou pelo nome”, continuou o Santo Padre, convidando os jovens a refletirem sobre o chamado pessoal que Deus faz a cada um.
“Ao princípio da teia da vida, ainda antes dos talentos que possuímos, das sombras e feridas que carregamos dentro de nós, recebemos um chamamento. Chamados, porque amados. Aos olhos de Deus somos filhos preciosos, que Ele cada dia chama para abraçar e encorajar; para fazer de cada um de nós uma obra-prima única e original, cuja beleza mal conseguimos vislumbrar”, afirmou.
O Bispo de Roma ressaltou seu desejo de que os dias da JMJ sejam “ecos vibrantes do chamado amoroso de Deus, porque somos preciosos a seus olhos, apesar do que às vezes os nossos olhos veem, enevoados pela negatividade e ofuscados por tantas distrações”.
“Amigo, amiga, se Deus te chama pelo nome significa que, para Ele, não és um número, mas um rosto. Quero fazer-te notar uma coisa: muitos, hoje, sabem o teu nome, mas não te chamam pelo nome. Com efeito, o teu nome é conhecido, aparece nas redes sociais, é processado por algoritmos que lhe associam gostos e preferências. Mas tudo isso não interpela a tua singularidade, mas a tua utilidade para pesquisas de mercado”, continuou Francisco, chamando a atenção para as ilusões do mundo virtual quer atraem e prometem felicidade, mas, na verdade, são coisas vãs, supérfluas, substitutos que deixam o vazio interior. “Jesus, não! Ele tem confiança em ti, para Ele tu contas”, completou.
Comunidade dos chamados
“E assim nós, sua Igreja, somos a comunidade dos chamados: não dos melhores – não, absolutamente não –, mas dos convocados, de quantos acolhem, juntamente com outros, o dom de ser chamados”, reforçou o Santo Padre, enfatizando que, na Igreja, há espaço para todos e deve ser cada vez mais, “aquela casa onde ressoa o eco da chamada pelo nome que Deus dirige a cada um”.
Em seguida, o Pontífice convidou os jovens a fazer uma segunda coisa nos dias da JMJ: “As perguntas que trazeis dentro de vós, aquelas importantes, que dizem respeito aos vossos sonhos, afetos, grandes anseios, à esperança e ao sentido da vida, não as guardeis para vós, mas colocai-as a Jesus. Chamai-O pelo nome, como Ele faz convosco. Levai-Lhe os vossos interrogativos e confiai-Lhe os vossos segredos, a vida dos vossos queridos, as alegrias e preocupações, e também os problemas do vosso país e do mundo inteiro”.
Francisco acrescentou que, quando se pergunta ao Senhor, e se abre a ele o coração diariamente, quando se reza de verdade, “verifica-se uma reviravolta interior”. “Pois, no diálogo da oração, Deus não cessa de surpreender-te: já que Ele não é um motor de busca, mas o Amigo verdadeiro, não Se limita a dar respostas simples às perguntas que Lhe fazes, mas prefere em vez disso apresentar-te solicitações”.
Enviados por Cristo
Referindo-se ao Evangelho proclamado na cerimônia, que narra quando Jesus envia os discípulos em missão “como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10, 3-4), o Papa exorta: “Jesus deposita a mesma confiança em vós”.
“Amigos, há uma felicidade que Jesus preparou para vós, para cada um de vós: não passa por acumular coisas, mas por colocar em jogo a vida. Também a ti diz o Senhor: ‘Vai, porque há um mundo que precisa daquilo que tu, e só tu, lhe podes dar’. Poderias replicar: ‘Mas o que é que eu posso levar aos outros?’ Uma coisa só, uma notícia maravilhosa, a mesma que Ele confiou aos seus discípulos: ‘Deus está próximo’ (cf. Lc 10, 9). Esta é a pérola preciosa da existência. Todos precisam de saber que Deus está próximo; espera apenas o mínimo aceno do coração para cumular de maravilha as nossas vidas”, disse Francisco.
Diante do medo que pode surgir para assumir a missão recebida, o Santo Padre argumentou: “Deus chama-nos precisamente nos nossos medos, nos nossos fechamentos e solidões. Não chama aqueles que se sentem capazes, mas torna capazes aqueles que chama. O Senhor fez maravilhas com Abraão que era velho e já se sentia chegado ao fim, com Moisés que tinha medo de falar porque gaguejava, com Pedro que era impulsivo e errava com frequência, com Paulo que estava manchado por grandes culpas. Nenhum deles era perfeito, mas todos se uniram ao Senhor, «conectaram-se» com Ele”.
Por fim, o Pontífice afirmou que o segredo está em “permanecer conectado com o Senhor”. Em seguida, indicou a ajuda de uma “mãe”, a Virgem Maria, que toma pela mão e indica o caminho.
