Todos, todos, todos. A imagem central que permeou a visita do Papa Francisco a Portugal, entre 2 e 6 de agosto, foi de uma Igreja aberta a todas as pessoas – como a capelinha das aparições de Maria em Fátima, ela é “sem portas”. Ela é para todos. Uma Igreja que, na visão do Pontífice, está próxima das pessoas e ilumina o mundo ao refletir a luz de Cristo, seu fundador, que entra em uma relação direta e pessoal com cada ser humano.
“O Senhor os chamou, não só nestes dias, mas desde o começo de suas vidas. A todos Ele nos chamou desde o começo da vida. Ele os chamou por seus nomes”, afirmou o Papa na cerimônia de acolhida da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), no dia 3. A JMJ foi o principal motivo da viagem do Papa a Lisboa, em Portugal. Ele também fez uma rápida parada em Fátima, para rezar o Terço.
“Nenhum de nós é cristão por casualidade, todos fomos chamados pelo nosso nome”, continuou. “Você, você, você, aqui; todos nós; eu; todos fomos chamados pelo nosso nome. Não fomos chamados automaticamente, fomos chamados pelo nome. Pensemos nisto: Jesus me chamou pelo meu nome. São palavras escritas no coração, e depois pensemos que estão escritas dentro de cada um de nós, em nossos corações, e formam uma espécie de título da sua vida.”
A Jornada Mundial da Juventude, conhecida internacionalmente como um grande encontro de jovens com o Papa, foi apresentada por Francisco – como já dizia São João Paulo II, que a criou – como um encontro de jovens do mundo inteiro com Cristo. Nesse sentido, o Papa Francisco disse aos jovens que eles têm a chance de ecoar a “vibração do chamado amoroso de Deus” por cada ser humano.
UMA IGREJA COM LUGAR PARA TODOS
Embora nossos olhos estejam muitas vezes tampados por “negatividade e deslumbrados por tantas distrações”, para Deus “não somos só mais um número”. Cada pessoa é “uma cara, um coração”. A Igreja, portanto, é a “comunidade dos que foram chamados”, disse ele, no mesmo evento.
Uma comunidade de pecadores, é verdade, “mas com desejo de ser melhor, com desejo de triunfar”. Acrescentou o Santo Padre: “Somos chamados como somos. Pensem nisto: Jesus me chama como sou, não como gostaria de ser. Somos comunidade de irmãos e irmãs de Jesus, filhos e filhas do mesmo Pai.”
“Na Igreja há espaço para todos”, insistiu. “Para todos. Na Igreja, ninguém é de sobra. Nenhum está a mais”, disse. “Quando manda os apóstolos chamar para o banquete daquele senhor que o havia preparado, Cristo diz: ‘Ide e trazei todos’, jovens e idosos, sãos, doentes, justos e pecadores. Todos, todos, todos!”
E continuou: “Jesus nunca fecha a porta, nunca. Mas te convida a entrar: ‘entra e vê!’ Jesus recebe, Jesus acolhe. Nestes dias, cada um de nós transmite a linguagem do amor de Jesus. Deus te ama, Deus te chama. Que belo é isto! Deus me ama, Deus me chama. Quer que eu esteja perto Dele.”
UM GRANDE RETIRO ESPIRITUAL
Essa mensagem central voltou em diferentes momentos da passagem do Papa por Portugal – como se fosse um grande retiro espiritual, em que um tema compartilhado leva a reflexões individuais.
Na reunião final com voluntários da JMJ, por exemplo, uma das últimas cerimônias do evento, Francisco respondeu a testemunhos dos jovens. A um deles, afirmou: “Você disse que viveu aqui um duplo encontro, um encontro com Jesus e um encontro com os demais. Isso é muito importante. O encontro com Jesus é um momento pessoal e único, que só pode ser descrito e narrado até certo ponto, mas sempre acontece graças a um caminho percorrido em companhia, realizado graças à ajuda de outros. Encontrar Jesus e encontrá-lo no serviço aos outros.”
Na Via-Sacra da sexta-feira, um dos momentos tradicionais da JMJ, Francisco colocou em oração as dores do mundo e convidou os jovens a encontrar Cristo em suas próprias dificuldades. “Jesus caminhou. Quando estava entre nós, Jesus andava. Ele caminhou, curando os enfermos, cuidando dos pobres, fazendo justiça, caminhou pregando, nos ensinando”, refletiu. “Jesus caminha, mas espera alguma coisa, espera a nossa companhia, espera que olhemos”, disse.
“Jesus caminha e espera com o seu amor, espera com a sua ternura, confortando-nos, enxugando as nossas lágrimas. Eu te faço uma pergunta agora, mas não respondas em voz alta, cada um responda para si mesmo: eu choro de vez em quando? Há coisas na vida que me fazem chorar? Todos nós na vida já choramos, e ainda choramos. E aí está Jesus conosco, Ele chora conosco, porque nos acompanha na escuridão que nos leva às lágrimas.” Na presença de Cristo, a “alma voltará a sorrir”, declarou.
ANGÚSTIAS DA IGREJA
Como em toda viagem papal, a passagem do Sumo Pontífice por um país não se limita aos acontecimentos públicos. Francisco também se encontrou em privado com vítimas de abuso sexual perpetrado por membros do clero – situação que marcou duramente a Igreja em Portugal. Em fevereiro deste ano, um relatório encomendado pela própria conferência dos bispos recolheu informações sobre todos os casos conhecidos de violências contra os menores entre 1950 e 2022. A própria Igreja expôs o problema e isso está levando a reformas, comportamento que Francisco tem elogiado.
Na coletiva de imprensa durante a viagem de retorno a Roma, jornalistas buscaram repercutir, como é comum, falas do Papa sobre a participação de pessoas homossexuais na Igreja. Ele repetiu que “a Igreja está aberta para todos”, mas também observou que “há legislações que regulam a vida dentro da Igreja”. Sem entrar em detalhes, continuou: “Cada um encontra Deus pela própria estrada, dentro da Igreja; e a Igreja é mãe e guia cada um pela sua estrada. Venham todos e depois cada um, na oração, em conversa íntima com Deus, no diálogo pastoral com os agentes de pastoral, procura o modo de avançar.”
Ainda com os jornalistas, o Papa também foi questionado sobre o motivo de não ter feito uma oração pela paz em Fátima, no contexto da guerra entre Rússia e Ucrânia, ao que ele respondeu: “Eu a fiz, mas em privado”. O principal motivo dessa escolha deve ter sido diplomático: entre as mensagens das aparições de Nossa Senhora de Fátima, em 1917, estava um pedido de oração pela Rússia que, à época, vivia sob a ideologia comunista. Embora tenha condenado a invasão da Ucrânia pela Rússia, a Santa Sé – e o Papa– têm buscado um papel de mediação e, portanto, evitado fazer críticas abertas à Rússia.
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