Anunciando o Evangelho na prisão

Petr Jasek, membro de uma organização que reúne várias denominações cristãs e procura ajudar cristãos perseguidos, que esteve preso por 445 no Sudão do Sul

(Crédito: Reprodução da internet)

O serviço de notícias Crux entrevistou Petr Jasek, membro da Voice of the Martyrs (Voz dos Mártires), organização que reúne várias denominações cristãs e procura ajudar cristãos perseguidos, que esteve preso por 445 no Sudão do Sul, sob acusação de espionagem e trabalho em ONG sem autorização. A detenção ocorreu em 2015 e Petr foi sentenciado a prisão perpétua. Em 2017, porém, após impressionantes experiências, foi libertado.

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O testemunho de Petr tem muito a ensinar: o olhar da fé que vê os desígnios de Deus por detrás dos desafios; o uso da reclusão para crescer “para dentro” e assim estar pronto para o serviço no futuro (algo especialmente útil em tempos de pandemia); a coragem de anunciar o Evangelho etc.

A INJUSTA PRISÃO

Em outubro de 2015, Petr estava no Sudão do Norte para participar de uma conferência com os líderes das Igrejas do País. Naquela ocasião, foram apresentadas fotos de igrejas demolidas no Sudão do Sul e a história de alguns perseguidos, entre os quais um homem de origem muçulmana que sobrevivera a uma tentativa de assassinato e que precisava de auxílio médico. Isso convenceu Petr a visitar o país, o que se deu em dezembro do mesmo ano.

No Sudão do Sul, encontrou e pôde ajudar aquele novo cristão e visitou as igrejas demolidas durante a noite, único momento em que era possível. Após quatro dias, tendo feito o que planejara, estava no aeroporto, prestes a deixar o país, quando foi preso pela polícia secreta. Todos os seus bens foram confiscados e ele foi interrogado por quase 24 horas. Depois, foi preso.

“Não importou o que nossos advogados disseram, o juiz apenas seguiu as indicações da polícia secreta. Então, posso honestamente dizer que se eu sequer tivesse um advogado para me defender, não faria muita diferença”, disse Petr.

A EXPERIÊNCIA NO CÁRCERE

Durantes os três primeiros meses na cadeia, Petr perdeu 25 quilos e enorme quantidade de sangue com sangramentos internos. Dividia a cela com seis membros do Estado Islâmico, os quais o agrediram e torturaram. Petr estava proibido de iniciar qualquer conversa. Procurava anunciar o Evangelho por meio das respostas às perguntas e de seus atos.

Lá, diz ele, aprendeu uma das lições mais difíceis, isto é, “que a força do Senhor pode ser manifesta em nossa fraqueza, e é isso o que Paulo diz em 2Cor 12,10”. Quando era agredido, procurava anunciar o Evangelho oferendo a outra face. “Posso honestamente dizer para você que não era eu, mas Cristo em mim que era capaz de fazer isso”.

Soube na cadeia que um daqueles homens fora guarda-costas de Osama Bin Laden. Em 2015, fizera parte de um grupo que decapitara 21 cristãos no litoral da Líbia.

Um dia, quando estavam para torturar Petr com técnicas de afogamento, um dos guardas, o único que não se submetia aos dos membros do Estado Islâmico, interviu e o fez mudar de cela. Ele passou para uma solitária, onde foi torturado de outro modo: não tinha roupas adequadas e os guardas deixavam entrar o ar frio da noite.

‘ESSES HOMENS PRECISAVAM OUVIR O EVANGELHO’

Depois, foi transferido para outra prisão e amontoado com várias pessoas, às vezes 50 na mesma cela. Lá, sentiu-se inspirado por Deus para pregar o Evangelho a uns refugiados da Eritréia, recém-chegados, os quais acolheram a pregação e, naquela mesma noite, rezaram todos juntos. Foi um momento de virada para Petr, que disse dentro de si: “Senhor, agora compreendo porque tive que estar na cadeia, porque esses homens precisavam ouvir o Evangelho”. Começou então a pregar mais ativamente aos muçulmanos.

Seguiu-se uma segunda estadia na solitária. “Algo quase entusiasmante porque eu tinha mais espaço para mim mesmo e podia rezar em voz alta, falar em voz alta, cantar em voz alta”. Um funcionário do consulado tcheco providenciou uma Bíblia e, durante três meses, a única coisa que Petr fez foi ler as Escrituras. Em três semanas lera da Gênesis ao Apocalipse.

Por fim, após 8 meses de cárcere, foi transferido para outra prisão com capacidade para 10 mil prisioneiros, onde ficou com cerca de 100 pessoas na mesma cela. Os muçulmanos tinham permissão de deixar as celas e frequentar mesquitas internas. Os não muçulmanos podiam frequentar uma cela esvaziada e transformada em capela.

“Então, eu pude pregar o Evangelho lá, e pude entender por que o Senhor me deu os três meses na solitária, tendo um estudo privado da Bíblia com o Espírito Santo. Eu estava pregando para pessoas absolutamente sem esperança, desesperadas e esquecidas e eles estavam respondendo positivamente ao Evangelho. O número dos frequentadores subiu de cerca de 20 para mais de 200 em seis meses. Esses seis meses foram absolutamente os melhores seis meses da minha prisão. Eu estava cheio de alegria e também começava a me recuperar fisicamente”, disse Petr. Segundo ele, no Sudão do Sul, quem prega o Evangelho a muçulmanos é processado. E, se um muçulmano abandona sua fé, recebe a pena de morte.

“Naquele momento, deixamos de nos preocupar com quanto tempo teríamos ainda na prisão, porque sabíamos que o Senhor estava no controle”.

LIBERTADO

Durante esse período, corria seu processo, e Petr acabou sendo liberado. Muitas pessoas rezavam por ele enquanto estava preso, e muitos enviaram petições às embaixadas do Sudão em sua defesa. Petr garante que certamente voltaria ao Sudão se fosse necessário.

“Quando o Senhor abre uma porta, ninguém pode fechá-la, e isso é algo que testemunhei quando crescia na Tchecoslováquia comunista e nosso País estava cercado pela Cortina de Ferro e as pessoas que tentavam ultrapassá-la eram eletrocutadas, mas Daniel 2,21 diz que o Senhor é quem estabelece e remove os reis. Embora naquela época parecesse impossível que o regime comunista fosse derrubado, ele colapsou em novembro de 1989, e nós fomos libertados! Houve um tempo em que éramos perseguidos e necessitávamos de ajuda. Recebíamos literatura cristã e Bíblias que eram trazidas secretamente para a Tchecoslováquia, então achamos natural ajudar aqueles que hoje são perseguidos”.

Que nós tenhamos coragem de anunciar o Evangelho, onde quer que estejamos!

Fonte: Crux

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