
A última Assembleia Plenária dos Bispos do Sudão e do Sudão do Sul foi encerrada com uma declaração que transmite um nível de urgência raramente visto nos documentos episcopais da região. Sua mensagem, divulgada em Malakal ao final de uma semana de deliberações, descreve um cenário marcado pela intensificação da violência, fragmentação política e colapso humanitário.
A guerra no Sudão continua a expandir-se em escala e brutalidade. Relatos de El Fasher, no norte de Darfur, documentam assassinatos em massa, violência sexual e deslocamento em larga escala causados pelas Forças de Apoio Rápido. Comunidades inteiras estão presas entre o avanço dos combatentes, rotas bloqueadas e o colapso dos serviços básicos.
No Sudão do Sul, de acordo com avaliações recentes de observadores regionais, a prisão de altos funcionários, incluindo o primeiro vice-presidente, Riek Machar, acelerou as divisões políticas dentro do governo de transição. Diversas facções armadas ressurgiram, tropas ugandenses foram mobilizadas e as Forças de Defesa Popular do Sudão do Sul estão envolvidas em novas ofensivas contra unidades do SPLM/A-IO (sigla em inglês para Movimento de Libertação Popular do Sudão/Exército de Oposição) e seus aliados. Os bispos alertam que a frágil transição pode se fragmentar, reabrindo um conflito que já custou inúmeras vidas.
Em sua declaração, os bispos falam com uma franqueza incomum sobre os atores políticos em ambos os países. Eles acusam os líderes de buscarem o poder com intenções “maliciosamente egoístas”, desconsiderando a dignidade do povo que afirmam servir. Observam que ambas as nações possuem recursos naturais significativos, mas a má gestão e a corrupção deixaram a maioria dos cidadãos na pobreza. Apontam, também, para o aumento das divisões étnicas e tribais exploradas para ganho político, uma tendência que consideram “sem precedentes” em sua escala e impacto.

Embora reconheçam a gravidade do momento, os bispos também enfatizam seu compromisso contínuo com o povo a que servem. Eles escrevem que “compartilham sua dor e sofrimento” e se comprometem a continuar trabalhando pelo diálogo com os líderes políticos, bem como com as comunidades mais afetadas pelo conflito. Seu apelo ecoa a insistência do Catecismo da Igreja Católica de que a paz requer “respeito e desenvolvimento da vida humana” (CIC 2304), um princípio que sublinha cada seção de sua mensagem.
Fonte: Aleteia (versão em inglês)






