‘Caminhemos na esperança, olhemos para nossas raízes e sigamos adiante, sem medo!’

Exortou o Papa Francisco, na Vigília com os jovens, no sábado, 5, no Parque Tejo, em Lisboa, com a participação de 1,5 milhão de pessoas

Fotos: Vatican Media

No penúltimo dia da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023, uma multidão de 1,5 milhão de pessoas – público acima do esperado pelos organizadores desta edição da Jornada – lotou o Parque Tejo, no espaço Campo da Graça, para participar da Vigília do Papa Francisco com os jovens.

A maioria ali chegou após um dia de peregrinação, sob forte sol. Além dos peregrinos, em sua maioria jovens, participaram da Vigília clérigos, religiosos e diversas autoridades e personalidades portuguesas e estrangeiras.

ENCONTRO, AÇÃO E TESTEMUNHO

A Vigília foi iniciada ao pôr do sol, com uma performance artístico-musical, conduzida pelo grupo Ensemble23, composto por 50 jovens, de 21 nacionalidades.

A performance estruturada em três atos – Encontro, Levanta-te e Segue-me – retratou o encontro de um jovem que se deixou interpelar por Deus e teve sua vida transformada e, desde então, passou a contagiar todos aqueles com quem teve contato.

Foi um forte momento de espiritualidade que também buscou expressar a gratidão por tudo o que foi vivido na JMJ Lisboa 2023, além de convidar que cada peregrino aprofunde o desejo de continuar a louvar a Deus e a servir aos outros ao regressar para casa após a participar desta edição da JMJ, que será concluída na manhã do domingo, 6 (às 5h, no horário de Brasília), com a missa de envio no Parque Tejo.

Ao longo da vigília, a multidão de fiéis também pôde ouvir dois testemunhos de fé: o do padre português Antônio Ribeiro de Matos, 33, que escapou de um acidente, tornou-se seminarista e decidiu-se pela vocação sacerdotal após a JMJ da Cidade do Panamá em 2019; e da moçambicana Marta Luís, de 18 anos, que vive na Província de Cabo Delgado, local onde tem havido constantes conflitos há cinco anos, mas que não intimidam os católicos em testemunhar a fé no Cristo mesmo diante de ameaças e perseguições.  

MARIA, A MISSIONÁRIA DA ALEGRIA

Após a performance artístico-musical e o testemunho dos jovens, O Papa Francisco se dirigiu aos peregrinos e como já fez em outras ocasiões nesta JMJ, deixou o discurso previamente preparado de lado, para falar de improviso, “falar com o coração”, e de modo interativo com os jovens.

O Papa iniciou sua reflexão fazendo alusão à passagem bíblica que é tema da JMJ Lisboa 2023 – “Levantou-se e partiu apressadamente’ (Lc 1,39)”. Ele recordou que assim como os peregrinos que caminharam até o Campo da Graça, a Virgem Maria também decidiu, por conta própria, ir até a casa de sua prima Isabel, impulsionada pela dupla alegria de que seria a mãe do Salvador e de que sua parente, já idosa, também daria à luz

“Maria realiza um gesto não solicitado e sem ser obrigada, porque ama e ‘quem ama voa, corre feliz’. Isso é o que fazemos”, destacou o Papa. “É curioso, que em vez de pensar em si mesma, Maria pensa na outra. E por quê? Porque a alegria é missionária, a alegria não é para uma pessoa, é para levar algo. E pergunto a vocês que estão aqui, que vieram encontrar-se e ouvir a mensagem de Cristo: estão a fazer isto por vocês ou para levar aos outros? É para levar para os outros, porque a alegria é missionária.Repitamos, juntos: a alegria é missionária!”, frisou.

RAÍZES DA ALEGRIA

O Pontífice, então, pediu aos peregrinos que fizessem um instante de silêncio para se lembrar daqueles que “foram raios de luz em nossa vida: pais e avós, amigos, padres e freiras, catequistas, animadores, professores. Eles são como as raízes da nossa alegria”, por terem lhes transmitido a fé.

“Nós temos raízes de alegria e temos que dá-las. E também podemos ser para as demais pessoas raízes de alegria. E não se trata de uma alegria passageira, de momento, trata-se de levar uma alegria que cria raízes”, insistiu.

Francisco lembrou, porém, que é preciso que cada pessoa se transforme nestas raízes de alegria, mas alertou que a alegria precisa ser desejada e buscada pelas pessoas, o que às vezes pode ser cansativo, mas isso jamais deve se tornar razão para desânimo permanente.

MÃO ESTENDIDA E OLHAR DE COMPAIXÃO

O Papa lembrou que, por vezes, há aqueles que se cansam na vida, se abandonam, deixam de caminhar e caem. “Mas vocês acreditam que uma pessoa que cai na vida é um fracasso, inclusive aquelas que comentem erros graves? Essa pessoa já está terminada? Não!”, enfatizou, fazendo na sequência um chamado ao agir misericordioso e não de superioridade em favor de quem ‘cai’ na vida.

“Os alpinistas têm uma expressão muito bonita que diz: ‘na arte de subir a montanha, o que importa não é não cair, mas não permanecer caído’. Que coisa linda! O que permanece caído é o que terminou, fechou-se para esperança. E quando vemos amigos nossos que estão caídos, o que temos de fazer? Levantá-los, e forte! E quando alguém tem que ajudar o outro a se levantar, que gesto faz? Olha para essa pessoa de cima para baixo. Esse é, aliás, o único momento em que é lícito olhar uma pessoa de cima para baixo, pois é para ajudar que ela se levante. Porém, quantas vezes vemos pessoas que olham para as demais por cima, com a sobrancelhas de cima para baixo. Isso é triste. Repito: a única vez em que é lícito olhar para uma pessoa de cima para baixo é para ajudar que ela se levante”, ressaltou o Papa, sendo aplaudido pela multidão.

DETERMINAÇÃO E FÉ

Francisco também falou aos jovens que para se alcançar os objetivos na vida é preciso ter constância, treinamento, tal qual faz um jogador de futebol. “O que há por trás de um gol? O que há? Muito treino”, disse, lembrando que sempre é necessário se pôr a caminho, aprender durante o próprio percurso, e se houver alguma queda, se levantar, seja por forças próprias, seja com a ajuda de outras pessoas.

“Deixo-vos esta ideia: caminhar com uma meta, e se alguém cai, levantar-se e treinar todos os dias na vida, pois na vida nada é gratuito, tudo se paga. Só uma coisa é gratuita: o amor de Jesus. Com o amor de Jesus, com a vontade de caminhar, caminhemos na esperança, olhemos para nossas raízes e sigamos adiante, sem medo! Não tenham medo!”, concluiu.

Após a fala do Pontífice, a vigília teve continuidade com a adoração ao Santíssimo Sacramento, com orações e cânticos animados por um um coro e orquestra de 210 cantores e 100 músicos de todas as dioceses de Portugal, além dos membros do projeto Mãos que Cantam, um coral formado por pessoas surdas.

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