Ao relembrar o 10º aniversário do início da guerra na Síria, a Caritas Internationalis lançou uma campanha para ajudar as crianças sírias que mais necessitam de recursos médicos, humanitários e educacionais
O dia 15 de março marca o triste aniversário de 10 anos de guerra na Síria. O Banco Mundial estima que o país perdeu cerca de 200 bilhões de dólares em danos à infraestrutura durante o conflito.
“As crianças sírias não conheceram nada além da guerra”, afirma a Caritas Internationalis em seu site.
A campanha caritativa “O amanhã está em nossas mãos” visa a aumentar as oportunidades educacionais para as crianças sírias depois que a pandemia de COVID-19 tirou 50% delas do sistema educacional.
Estima-se que 2,45 milhões de crianças sírias já não frequentavam a escola no fim de 2019, de acordo com a instituição. Agora, duas a cada três crianças no país estão fora da escola.
“A falta de acesso à educação por parte das crianças sírias pode ter um impacto devastador no futuro do país. O setor da educação precisa urgentemente de recursos e os doadores devem financiar intervenções destinadas a tirar famílias da pobreza”, afirma.
A Caritas está procurando fornecer refeições de acordo com os indicadores internacionais de nutrição para crianças nas escolas, além de lançar workshops direcionados ao público infantil a fim de ajudar a prevenir a propagação da COVID-19 e outras doenças.
POBREZA CRESCENTE
Na Síria, oito a cada dez pessoas vivem abaixo da linha da pobreza, com cerca de 11 milhões de habitantes necessitando de alguma forma de assistência humanitária, incluindo 4,7 milhões de pessoas com necessidades ainda mais graves em 2020. Crianças, mulheres grávidas, pessoas com deficiência e idosos são os grupos que mais requerem atenção.
O Cardeal Dom Mario Zenari, diplomata do Vaticano na Síria nos últimos 13 anos, disse que depois de quase uma década de guerra, o povo sírio foi atingido por uma “bomba da pobreza” em meio à pandemia do coronavírus.
CONSEQUÊNCIAS
O Padre Firas Lutfi, franciscano que serviu como missionário em Aleppo no auge da violência, testemunhou o trauma sofrido por uma geração de crianças sírias que passaram a vida inteira na incerteza e na tragédia da guerra.
O franciscano procurou criar um local seguro e de cura para essas crianças, muitas das quais sofriam de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático.
“Observamos que muitas crianças de Allepo tiveram traumas no pós-guerra. Muitas perderam os pais, algumas sofreram mutilações, perderam as mãos ou pernas e têm medo de tudo”, disse o Padre Firas.
INICIATIVAS
O Padre Firas fundou o programa de tratamento pós-traumático da guerra do Franciscan Care Center em Aleppo, em 2017. Desde então, sua equipe de psicólogos clínicos, voluntários e assistentes sociais atendeu 1,5 mil crianças e jovens sírios de 6 a 17 anos de idade.
Muitas crianças nascidas na Síria em meio aos bombardeios e ao caos da guerra nunca receberam uma certidão de nascimento porque seu nascimento não foi registrado pelo governo.
Para dar uma identidade a essas crianças esquecidas, os franciscanos iniciaram o projeto “Nome e Futuro”, no Leste de Aleppo.
“Cuidamos dessas crianças e demos a elas um registro oficial … Temos em cada centro 500 crianças”, disse o Padre Firas.
Entre os atendidos pelos franciscanos nos centros de Aleppo encontram-se jovens abandonados com síndrome de Down e autismo, bem como mães grávidas que precisam de assistência.
ESTATÍSTICAS PREOCUPANTES
De acordo com o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR), mais de 5,6 milhões de pessoas deixaram a Síria desde 2011. A maioria dos refugiados ficou no Oriente Médio, com mais da metade vivendo na Turquia (3,6 milhões em 2021) e outros 1,6 milhão de refugiados também vivendo no Líbano ou na Jordânia, que também fazem fronteira com a Síria.
Dentro da própria Síria, existem 6,7 milhões de pessoas deslocadas internamente, de acordo com a Caritas.
APOIO PAPAL
O Papa Francisco encorajou instituições de caridade que buscam reconstruir a Síria em uma mensagem de vídeo em dezembro.
“Todo esforço – grande ou pequeno – feito para favorecer o processo de paz é como colocar um tijolo na construção de uma sociedade justa, aberta ao acolhimento e onde todos possam encontrar um lugar para morar em paz”, disse o Papa.
“Meu pensamento se dirige especialmente às pessoas que tiveram que deixar suas casas para escapar dos horrores da guerra, em busca de melhores condições de vida para si e seus entes queridos”, acrescentou.
“Faço um apelo à comunidade internacional para que faça todos os esforços para facilitar esse retorno, garantindo a segurança e as condições econômicas necessárias para que isso aconteça. Cada gesto, cada esforço nessa direção é precioso”, concluiu o Pontífice.