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Canonista alerta sobre perigos das redes sociais para os padres

Padre Gianfranco Ghirlanda, jesuíta, destacou, ainda, que uma vida espiritual saudável requer um tempo longe do mundo digital para oração e meditação sobre as Escrituras e a vida de Jesus

Foto: Pontifícia Universidade Gregoriana

Em recente conversa com o site Crux, o Padre Gianfranco Ghirlanda, canonista jesuíta, disse que a vida espiritual de um padre é essencial para o seu ministério e o maior perigo que vê para uma vida espiritual saudável é o que o Papa Francisco apelidou de “mundanismo espiritual”.

O mundanismo espiritual, disse, significa “esconder-se atrás de formas externas de devoção, correção litúrgica, ortodoxia até ao amargo fim, de ‘maneiras sempre corretas’, de estar sempre em ordem, mas para proteger a própria busca de segurança e benefício pessoal”.

É uma obsessão por detalhes externos, como botões extravagantes nas mangas de uma camisa e é uma atitude espiritual que “pode levar ao carreirismo, perdendo de vista o fato de que o ministério é um serviço para os outros e não para si mesmo”, afirmou.

Ex-reitor da Pontifícia Universidade Gregoriana, administrada pelos jesuítas, e conselheiro do Vaticano para assuntos canônicos, Padre Ghirlanda falou antes de um grande seminário do Vaticano sobre o sacerdócio programado para decorrer de 17 a 19 de fevereiro, intitulado “Rumo a uma Teologia Fundamental do Sacerdócio”. Ele irá ministrar uma palestra sobre a “Vida santa dos clérigos: perspectiva teológico-canónica”, no último dia do seminário, que será aberto pelo Papa Francisco a falar sobre “Fé e o sacerdócio hoje”.

O seminário irá explorar vários aspectos da vida sacerdotal, incluindo o celibato.

Na entrevista ao Crux, Padre Ghirlanda alertou sobre o perigo que a “eficiência” representa para a vida espiritual de um padre, dizendo que se torna um problema quando um padre está “a exercer o ministério como se os efeitos positivos dependessem dos seus próprios esforços e dos meios aplicados, esquecendo-se de que só é eficaz pela ação da graça, ainda que combinada com tudo o que o sacerdote põe à sua disposição”.

“Está a perder de vista que tudo deve ser feito como se dependesse de nós, conscientes de que tudo depende de Deus”, disse ele, citando a passagem bíblica: “Assim, também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: ‘Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer’.”

PREOCUPAÇÃO COM O USO DAS REDES SOCIAIS

Padre Ghirlanda também alertou contra o uso indevido das redes sociais na era digital, dizendo que “podem distrair muito um padre” e “roubar muito tempo desnecessariamente”.

“Não quero demonizar as redes sociais, porque se bem usadas também podem ser uma ferramenta apostólica muito válida”, disse, mas podem levar à “armadilha” do que chamou de curiosidade doentia.

O ecrã, afirmou, “gera uma curiosidade que nunca é satisfeita e, portanto, gera outra curiosidade sobre notícias, informações etc., que nem sempre é necessária”, enquanto uma vida espiritual saudável requer um tempo longe do mundo digital para oração e meditação sobre as Escrituras e a vida de Jesus.

“Às vezes, a intrusão das redes sociais elimina” esse espaço de “silêncio interior” necessário para uma oração genuína, explicou.

Padre Ghirlanda apontou para a natureza hiperpolitizada, polêmica e muitas vezes tóxica do discurso público de hoje, especialmente no mundo on-line, e observou que a própria Igreja não está imune a isto.

“A Igreja e, portanto, os sacerdotes, vivem na história e numa sociedade específica. Infelizmente, o espírito de divisão e polêmica também penetra na Igreja”, entre os sacerdotes e dentro dos institutos religiosos e associados e movimentos eclesiais, disse.

As polarizações, indicou, “são criadas onde todos acreditam que têm a verdade absoluta e não estão dispostos a ouvir os outros”.

Isso, afirmou Padre Ghirlanda, é o que o Papa Francisco denominou de “autorreferencialidade”, que é uma atitude em que “encontro a verdade apenas em mim mesmo e não preciso de nenhuma verificação externa, nenhuma objetificação”.

“Isso fecha todo o diálogo, leva a uma atitude polêmica e excludente de outros que não pensam como eu”, o que não é saudável para a vida e para o ministério sacerdotal, explicou.

Na visão de Padre Ghirlanda, o sinal mais forte de uma vida espiritual saudável para um padre “é o serviço, passar a vida inteira ao serviço dos outros, não reservando nada para si mesmo”.

“Claro que isto não é fácil e a busca por implementação é para toda a vida”, afirmou, dizendo que um verdadeiro espírito de serviço “é aquele ‘deixar tudo’ que Jesus pede e que esperamos poder deixar em pelo menos no fim da vida”.

Fontes: Diocese de Braga e site Crux

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