Na China, entre 1980 e 2015, a política do filho único configurou a prática do controle populacional extremo adotada pelo governo. Em 2016, houve um afrouxamento e se passou a admitir dois filhos por casal. Desde 2021, a nova meta do país para enfrentar os baixos índices de fecundidade é três filhos por família.
Hoje, poucas famílias chinesas têm tantos membros, porém, diante da primeira queda populacional desde a grande fome dos anos 1960, o governo tem incentivado seus cidadãos a procriar, com táticas que variam de casamentos em massa a ligações telefônicas incentivando os casais a terem filhos.
A política adotada no passado faz da China hoje um reino de filhos únicos. Além disso, tal postura deixou marcas trágicas, especialmente nas mulheres, devido aos abortos seletivos e ao abandono de meninas recém-nascidas.
A nova política populacional, contudo, tem um motivo: apesar do crescimento econômico espetacular nos últimos 30 anos, a China ainda tem um longo caminho a percorrer antes de poder ser considerada um dos países mais desenvolvidos do mundo: em 2020, classificou-se apenas em 79º lugar em termos de PIB per capita e em 85º no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). A nação enfrenta desafios demográficos, com uma taxa de fertilidade muito baixa, que caiu para 1,3 filho por mulher em 2020; há uma redução da sua população em idade ativa (20-64 anos) em cerca de 70 milhões de pessoas entre 2020 e 2035, diminuindo de 65% para 57% da população total; por fim, o rápido envelhecimento populacional, com a proporção da população com 65 anos ou mais provavelmente aumentando de 12% para 21% nos próximos 15 anos. A “política dos três filhos”, portanto, visa a atenuar essas tendências. De acordo com o governo chinês, seu objetivo é atingir “crescimento populacional estável a longo prazo”, garantindo “desenvolvimento econômico sustentável”.
Há oito anos, segundo estudiosos, o anúncio da política de dois filhos foi recebido na China com “entusiasmo e esperança”, diz a antropóloga Susan Greenhalgh, professora emérita de Sociedade Chinesa da Universidade Harvard, em um artigo recente. Parecia um sinal de que o governo havia “ouvido as demandas da população e aberto o círculo da liberdade após um longo inverno de descontentamento reprodutivo”.
O anúncio em 2021 da política de três filhos, entretanto, “foi um grande golpe”, continua ela. “Agora estava claro que, em vez de os cidadãos terem voz em seus próprios assuntos, as pessoas eram meramente objetos passivos de controle por um governo autoritário preocupado apenas com números agregados”, escreveu em um texto publicado no Made in China Journal.
Fonte: Istitut National D’Estudés Démographiques (Ined) e O Globo