
No coração de Nova York, nos Estados Unidos, a Igreja São Pio X recebeu, em setembro, a abertura do Speaker Series, ciclo de palestras que propõe unir fé, história e reflexão contemporânea sobre a Igreja Católica. O encontro inaugural trouxe como foco a espiritualidade agostiniana e a trajetória de dois de seus expoentes: o Papa Leão XIV e Padre Peter Donohue, OSA, Reitor da Universidade Villanova.
Nascido em Chicago, Robert Francis Prevost, atual Papa Leão XIV, formou-se em Matemática e Filosofia pela Universidade Villanova, na Pensilvânia, em 1977. Sua vida religiosa, marcada pelo carisma agostiniano, foi moldada por experiências internacionais que revelam compromisso social e dedicação missionária. Durante 25 anos, atuou em comunidades pobres da América Latina e da África.
“Ele não é apenas um americano, mas um cidadão do mundo”, destacou Padre Peter Donohue durante a palestra, ressaltando que o Pontífice conhece de perto as realidades do Sul Global e que se doa em favor dos mais vulneráveis.
O atual Reitor da Universidade de Villanova, que foi colega de turma de Prevost, sublinhou a força da tradição agostiniana como via de diálogo entre fé, razão e serviço comunitário, algo que cada vez mais aparece como uma marca do pontificado de Leão XIV, estando o Papa próximo das pessoas, atento às diferenças culturais, insistindo na comunhão como caminho de fé.
A CONSTRUÇÃO DE COMUNIDADES

Inspirado pelos ensinamentos de Santo Agostinho, Leão XIV tem construído sua liderança sobre o diálogo e a formação de comunidades, sempre atento à escuta e à integração de diferentes perspectivas culturais. “Colocar-se à escuta do Espírito, em um certo sentido em analogia com o que dizia o nosso pai Agostinho, recordando a importância da interioridade no caminho da fé: ‘Não saias de ti, volta para ti mesmo: a verdade habita no homem interior’”, disse o Papa em discurso aos participantes do Capítulo Geral da Ordem de Santo Agostinho.
Durante audiência com moderadores de Associações de Fiéis, Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades, em junho, o Pontífice destacou que “ninguém é cristão sozinho”, e ressaltou a necessidade de que todos sejam “fermento em unidade” para que a Igreja tenha a contínua comunhão espiritual.
“Graças aos carismas que deram origem aos seus movimentos e suas comunidades, muitas pessoas se aproximaram de Cristo, redescobriram a esperança na vida, descobriram a maternidade da Igreja e desejam ser ajudadas a crescer na fé, na vida comunitária, nas obras de caridade e a levar aos outros, por meio da evangelização, o dom recebido”, disse o Pontífice na ocasião.
“Ser comunidade é rever nossas ações e nos abrir ao próximo”, comentou Iliriana Ramsey, 17, de Nova York, que prestigiou o Speaker Series.
“O que as pessoas buscam em qualquer lugar é o mesmo: amor, comunidade e esperança”, disse James Kouame, 43, da Costa do Marfim, que também foi ao evento.
OS PILARES DE SANTO AGOSTINHO

Em meio ao Ano Santo da Esperança, o Reitor da Universidade Villanova resgatou o fortalecimento da fé na comunidade em tempos de crises, e ressaltou que “é sobre construir pontes e vínculos, que seremos abençoados”, disse. “Estamos todos em uma jornada juntos”, salientou o Padre Peter Donohue, parafraseando Leão XIV.
Os três pilares deixados por Santo Agostinho à Igreja, segundo o Sacerdote são:
Dom da escuta-ativa: Reconhece a ação de Deus no coração humano e na disposição de cada indivíduo para o bem. Esse princípio reforça a importância de ouvir com atenção e acolher a diversidade de experiências, lembrando que a transformação começa quando nos abrimos para escutar o próximo.
Vida em comunidade e as relações humanas: Santo Agostinho enfatiza a necessidade de cultivar laços sólidos dentro da comunidade e valorizar a diversidade cultural. Esses vínculos reacendem a chama da fé e destacam a riqueza que surge do encontro entre diferentes perspectivas, promovendo um ambiente de respeito e solidariedade.
Fé como elemento unificador e a centralidade do amor: A máxima de Santo Agostinho – “Ama e faz o que quiseres” – sintetiza a essência da vida cristã orientada pela caridade e pelo cuidado com o próximo, transcendendo barreiras culturais e unindo pessoas em torno de valores universais.
SANTO AGOSTINHO NAS REFLEXÕES DO PAPA LEÃO XIV
- Escuta, humildade e unidade: eis três sugestões úteis que a liturgia nos oferece”;
- Vocação e amor: “Santo Agostinho, que dizia: ‘Amem aquilo que serão’”;
- Ouvir os pobres e marginalizados: “Antes de falar, dizia Santo Agostinho, devemos ouvir… temos a oportunidade e a responsabilidade de ouvir o Espírito Santo, de ouvir uns aos outros, de ouvir a voz dos pobres e das pessoas marginalizadas.”
- Amor missionário e centralidade da vida cristã: “No centro de tudo está o amor.”
- Lei, dignidade humana e ‘Cidade de Deus’: “O ensinamento de Santo Agostinho… na sua memorável obra De civitate Dei apresenta a história como uma luta entre dois modelos de vida: o da Cidade do Homem e o da Cidade de Deus.”
- Tradição e comunhão: ‘In Illo uno unum’ [lema do Papa Leão XIV], Trata-se das palavras que Santo Agostinho pronunciou em um sermão, a Exposição sobre o Salmo 127, para explicar que ‘embora nós cristãos sejamos muitos, no único Cristo somos um’.
- Comunhão eclesial: “Acredito que é muito importante promover a comunhão na Igreja, e sabemos bem que comunhão, participação e missão são as três palavras-chave do Sínodo. Portanto, como agostiniano, promover a unidade e a comunhão é fundamental. Santo Agostinho fala muito sobre a unidade na Igreja e sobre a necessidade de vivê-la”.
