
Há vários bancos de dados usados por oficiais da ocupação russa para comercializar crianças ucranianas sequestradas para famílias russas de acolhimento e adoção. Esses bancos de dados — sobre os quais o pesquisador da Escola de Saúde Pública da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, Nathaniel Raymond, testemunhou perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas em dezembro de 2024 — fazem parte de um esforço coordenado da Rússia, há mais de uma década, para remover e “renacionalizar” milhares de crianças ucranianas, violando diversas leis internacionais.
A afirmação acima foi destacada publicamente por Mykola Kuleba, defensor dos direitos da criança na Ucrânia, que está pedindo a ajuda da Santa Sé para reverter a situação.
“Precisamos de uma posição firme do Vaticano e de pressão sobre a Rússia para que forneça todas as informações sobre crianças ucranianas em territórios ocupados ou que foram transferidas para o país invasor – para nos ajudar a identificá-las e a conhecer suas condições de saúde e de vida”, disse o fundador da organização de defesa da criança Save Ukraine e ombudsman da criança na Ucrânia, de 2014 a 2021.
“O Papa Leão XIV fará o possível para nos ajudar a encontrar mais crianças”, acrescentou.
No dia 7, Kuleba — que afirmou ter garantido até o momento o retorno de mais de 750 crianças ucranianas transferidas à força — publicou diversas postagens nas redes sociais, mostrando imagens (com traduções) atribuídas a um banco de dados operado pela não reconhecida “República Popular de Luhansk” (RPL), território ocupado pela Rússia na região de Donbass, no leste da Ucrânia.
Nas imagens publicadas, o “Ministério da Educação e Ciência” da RPL é visto convidando “futuros pais adotivos” a verem fotos das crianças ucranianas, juntamente com seus supostos primeiros nomes (muitos dos quais foram alterados por autoridades russas, de acordo com diversos relatórios de direitos humanos), idades e uma lista de suas características.
Uma imagem separada fornecida por Kuleba exibia um portal de busca no qual os usuários podiam especificar gênero, idade, cor do cabelo e dos olhos das crianças que desejavam selecionar, indicando se buscavam um filho único ou um com irmãos.
“É realmente horrível”, disse Kuleba. “É como um mercado de escravos.”
Ao longo dos 11 anos de guerra contra a Ucrânia — iniciada em 2014 com a tomada da Crimeia e o apoio militar aos separatistas em Donbass e que se intensificou em 2022 com a invasão em larga escala da Ucrânia — a Rússia deportou sistematicamente pelo menos 19.546 crianças ucranianas, submetendo-as à “reeducação patriótica” destinada a apagar sua identidade ucraniana, além de abusos e adoção forçada por famílias russas.
Teme-se que o número real de crianças deportadas seja muito maior. Kuleba afirmou que, contando todas as crianças ucranianas em territórios ocupados pela Rússia, o verdadeiro número de menores em perigo é de cerca de 1,6 milhão.
A deportação sistemática de crianças ucranianas pela Rússia — coordenada por múltiplos atores e amplamente documentada em relatórios do Laboratório de Pesquisa Humanitária da Universidade de Yale —, viola diversos instrumentos do direito internacional, incluindo a 4ª Convenção de Genebra, a Convenção sobre Genocídio e a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.
Fontes: OSV News e UCA News