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Desafios educacionais e culturais da América Latina e do Caribe são tratados em evento do Celam

ADN Celam

O Conselho Episcopal Latino-Ame­ricano e Caribenho (Celam) realizou em sua sede, em Bogotá, na Colômbia, entre os dias 11 e 15, um encontro com os bispos e agentes responsáveis pelas pastorais da cultura, educação, universi­dades e esportes na América Latina e no Caribe.

A proposta foi refletir sobre os de­safios educacionais e culturais no conti­nente. Na abertura dos trabalhos, Dom Lizardo Estrada, Secretário-Geral do Celam, lembrou que a concentração de poder e o individualismo cultural con­tinuam a gerar isolamento e marginali­zação, afetando particularmente os mais pobres e vulneráveis. Referindo-se ao trabalho pastoral no campo da educa­ção e da cultura, reforçou que este deve sempre ocorrer a partir da escuta às realidades das comunidades, e motivou que a pastoral educativa forme agen­tes empenhados e fortaleça processos evangelizadores.

RESPOSTAS PARA UMA MUDANÇA DE ÉPOCA

Participante do encontro, Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar de São Paulo e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade, disse ao O SÃO PAULO que um dos objetivos da atividade foi o de a Igreja no continen­te assumir, “em chave sinodal, a reali­dade latino-americana, seus desafios e esperanças pastorais, diante das impli­cações da constituição apostólica Pra­edicate Evangelium, do Papa Francisco, na qual se indica a necessidade de dar uma resposta a essa mudança de época, manifestada principalmente pela crise antropológica, ética e cultural dos nos­sos povos”.

Dom Carlos, que também é Bispo Referencial do Setor Universidades da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), destacou que o encontro foi um espaço de escuta e fraternidade, no qual os participantes puderam “dis­cernir os avanços que o Magistério da Igreja Católica vem gerando em matéria de educação e cultura, considerando, por exemplo, o texto do Secretariado de Edu­cação do Celam acerca do Documento de Aparecida sobre a educação (2011), as­sim como a proposta do Pacto Educativo Global (2019), indicando um conjunto de novos princípios, critérios de juízo e diretrizes de ação, com o fim de iluminar nosso trabalho pastoral cotidiano, nessas áreas tão significativas da evangelização”.

Segundo Dom Carlos, também foi dada grande ênfase à necessidade de tra­balhar em rede, a fim de mostrar “a to­dos os âmbitos da sociedade o potencial transformador da pessoa bem formada. A educação é a forma mais eficiente de inclusão social: por isso, temos que levar o nosso influxo de formação a todos os membros da sociedade, especialmente os que estão ainda alheios à cultura e educação”.

Similar percepção teve a Irmã Ma­ría Inés Castellaro, Secretária-Geral da Confederação Latino-Americana e Cari­benha de Religiosos e Religiosas (Clar). “Levo do encontro a ideia de continuar trabalhando em redes. Não podemos trabalhar sozinhos na pastoral educati­va”, disse em entrevista ao site ADN Ce­lam, apontando, também, que diante da crescente crise antropológica, deve-se ressaltar ainda mais às pessoas as raízes e a memória da fé, bem como a centra­lidade de Cristo, que dá todo o sentido para a vida.

PACTO EDUCATIVO GLOBAL

Ainda na abertura das atividades, Dom Lizardo recordou que os objetivos do encontro estavam em sintonia com os propósitos do Pacto Educativo Global, apresentado pelo Papa Francisco em se­tembro de 2019 e ratificado pelo Pontífi­ce em outubro de 2020.

Dom Carlos Lema reforçou que a tônica do encontro se concentrou em tratar dos sete compromissos do Pac­to Educativo Global, relembrados pelo Bispo Auxiliar de São Paulo: “A centra­lidade da pessoa na educação; a escuta às gerações mais novas; a promoção da mulher; a responsabilização da família; a acolhida; a renovação da economia e da política; e o cuidado com a ‘casa co­mum’ (o meio ambiente). Essas metas visam a formar uma sociedade mais hu­mana e solidária. A proposta é um cha­mado global para instituições, governos e pessoas se mobilizarem por uma edu­cação humanista que promova a paz, a justiça e a sustentabilidade. Nesse senti­do, as dioceses da América Latina e do Caribe têm proposto iniciativas variadas para implementar alguns desses com­promissos”.

A DIMENSÃO HUMANA E ESPIRITUAL DO ENSINO

A pedido dos organizadores, Dom Carlos Lema leu a mensagem enviada aos participantes pelo Cardeal José To­lentino de Mendonça, Prefeito do Dicas­tério para a Cultura e a Educação.

“A mim me marcou a seguinte con­sideração do Cardeal: ‘Nós sabemos que a pastoral educativa dispõe de inúmeros atores, desde os alunos, os professores, os dirigentes escolares, os colaboradores, mas também os bispos e delegados epis­copais são chamados a um papel impres­cindível nesta pastoral. A eles compete dois compromissos fundamentais: ajudar a discernir as ações concretas desta pas­toral educativa; acompanhar e encorajar as realidades educativas a si confiadas. É importante que não se trabalhe apenas a parte técnica ou curricular, mas igual­mente se cuide da dimensão humana e espiritual, por meio de uma criatividade pastoral que cada um saberá certamente promover. Não esqueçamos nunca a raiz profunda daquilo que distingue uma escola/universidade católica de outras instituições de ensino: a irradiação explí­cita da pessoa de Jesus Cristo.’”, recordou, apontando que neste trecho da mensa­gem está algo que o Papa Leão XIV tem insistido: a centralidade de Cristo.

PRÁTICAS PASTORAIS

Durante o encontro, cada participan­te falou sobre a organização da pastoral da educação em relação às sete propostas do Pacto Educativo Global. Dom Carlos Lema, por exemplo, explanou sobre as visitas pastorais que fez nos últimos dois anos às escolas católicas da Arquidiocese de São Paulo; bem como da cerimônia da bênção das mochilas dos alunos no início do ano letivo, sempre com grande participação das famílias nas dioceses do Regional Sul 1 da CNBB.

“Além disso, relatei os encontros que estamos organizando no Setor Univer­sidades, seguindo a proposta de quatro eixos de ação que recebemos do Cardeal Tolentino para realizar nos campi uni­versitários: espiritualidade (abertura à transcendência), reflexão (grupos de es­tudo sobre temas relativos à fé e ciência), comunidade acadêmica (promoção de atividades formativas e de convivência), atividades socioeducativas (trabalhos de voluntariado com a população mais vul­nerável: medicina, direito, odontologia, serviço social etc.)”.

Dom Carlos Lema também comen­tou sobre experiências educativas de ou­tros países da América Latina, como, por exemplo, aqueles em que os governos subsidiam as escolas católicas; além da oferta da disciplina de Ensino Religioso, que contribui “para a formação do cará­ter e das virtudes humanas para o exer­cício da cidadania, o que é um benefício para a sociedade e, como consequência, para o bem estar social”.

“Em relação à pastoral universitária, reparei que há muita semelhança com as atividades que realizamos no Brasil”, comentou, apontando, porém, experiên­cias que lhe chamaram a atenção, como a de uma graduação em Pedagogia da Religião, na Universidade Católica do Chile, para formar professores de ensino religioso católico; e cursos de educação para pais de família em universidades do México e da Colômbia.

A íntegra da entrevista com Dom Carlos Lema Garcia pode ser lida aqui.

(Com informações de ADN Celam)

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