‘Deus Amor vem ao nosso encontro para nos fazer filhos seus e irmãos entre nós’

Destacou o Papa Francisco, na missa que presidiu no domingo, 3, em Ulan Bator, capital da Mongólia

Fotos: Vatican Media

A pequena comunidade católica da Mongólia – nação centro-asiática cuja a quantidade de batizados é de cerca de 1,5 mil pessoas – viveu um momento especial no domingo, 3: pela primeira vez, pôde participar de uma missa presidida por um papa em seu país.

No espaço Steppe Arena, um ginásio na capital Ulan Bator, os católicos mongóis e de alguns de países vizinhos ouviram o Papa Francisco destacar que só Deus é capaz de oferecer o verdadeiro amor que sacia a sede de felicidade e que para o cristão só há um caminho: abraçar a cruz de Cristo, independentemente das circunstâncias de vida em que esteja.

NÃO ESTAMOS SOZINHOS NO CAMINHO

O Pontífice iniciou a homilia aludindo a uma passagem do salmo proclamado neste 22o Domingo Tempo Comum – “Ó Deus, (…) a minha alma tem sede de vós, todo o meu ser anela por Ti, como terra árida, exausta, sem água” (Sl 63,2).

“É precisamente nesta terra árida que recebemos uma boa notícia: no nosso caminho, não estamos sozinhos; a nossa aridez não pode tornar estéril para sempre a nossa vida; o grito da nossa sede não passa despercebido. Deus Pai enviou seu Filho para nos dar a água viva do Espírito Santo a fim de saciar a sede da nossa alma (cf. Jo 4,10)”, afirmou o Pontífice.

O Papa lembrou, ainda, que Cristo mostra o caminho para verdadeiramente saciar a sede do homem: “é o caminho do amor, que Ele percorreu até ao fim, até à cruz; e de lá chama-nos a segui-Lo, perdendo a nossa vida para a reavermos nova (cf. Mt16, 24-25). Detenhamo-nos juntos a pensar nestes dois aspetos: a sede que nos habita e o amor que nos dessedenta”, prosseguiu.

A FÉ CRISTÃ SACIA A SEDE DE FELICIDADE

Ao destacar que muitos na Mongólia têm o hábito de caminhar em meio à aridez das estepes e do deserto, o Papa lembrou que o ser humano é como um nômade a peregrinar na procura da felicidade e sedento de amor, com um coração que “deseja descobrir o segredo da verdadeira alegria, aquela que nos pode acompanhar e sustentar mesmo no meio da aridez existencial”.

Cada pessoa – enfatizou o Pontífice – traz dentro de si “uma sede inextinguível de felicidade; andamos à procura de significado e orientação para a nossa vida, de motivação para as atividades que realizamos cada dia; e sobretudo temos sede de amor, porque só o amor nos sacia verdadeiramente, faz sentir bem, abre à confiança fazendo-nos saborear a beleza da vida”, disse, destacando que “a fé cristã é resposta a esta sede; toma-a a sério; não a remove, não procura aplacá-la com paliativos ou substituintes. Porque, nesta sede, reside o nosso grande mistério: ela abre-nos ao Deus vivo, ao Deus Amor que vem ao nosso encontro para nos fazer filhos seus e irmãos e irmãs entre nós”.

O Papa enfatizou o Deus Amor e seu Filho, Jesus, querem partilhar com cada pessoa a vida, as fadigas, os sonhos e a sede de felicidade.

“É verdade que, às vezes, nos sentimos como terra deserta, árida e sem água, mas é igualmente verdade que Deus cuida de nós e nos oferece a água límpida e refrescante, a água viva do Espírito que, brotando em nós, nos renova, libertando-nos do perigo da secura. É Jesus quem nos dá esta água”, afirmou.

AMAR, ABRANÇANDO A CRUZ DE CRISTO

O Pontífice recordou que diante da sede da humanidade, Deus teve misericórdia e enviou seu Filho, aquele que “abriu-nos um caminho no deserto” e “proporcionou-nos uma consolação no deserto: os pregadores da sua Palavra. Ofereceu-nos água no deserto, enchendo de Espírito Santo os seus pregadores para que neles se formasse uma fonte de água que jorra para a vida eterna”.

Dirigindo-se aos católicos no país, que são a minoria da população, o Papa ressaltou que o Senhor jamais deixará que lhes falte “a água da sua Palavra, especialmente por meio dos pregadores e missionários que, ungidos pelo Espírito Santo, a semeiam em toda a sua beleza. E a Palavra sempre nos remete para o essencial da fé: deixar-se amar por Deus para fazer da nossa vida uma oferta de amor, porque só o amor sacia verdadeiramente a nossa sede”.

Francisco alertou, ainda, que é um erro pensar que para saciar a sede da “aridez da nossa vida” bastam o sucesso, o poder, as coisas materiais – “pelo contrário, isso deixa-nos mais áridos do que antes”.

“Jesus indica-nos o caminho: ‘Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me. Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas, quem perder a sua vida por minha causa, há de encontrá-la’ (Mt16, 24-25). Irmãos, irmãs, o melhor caminho de todos é este: abraçar a cruz de Cristo”, afirmou, apontando para o centro da mensagem cristã:

“No coração do Cristianismo, temos esta notícia impressionante e extraordinária: quando perdes a tua vida, quando a ofereces generosamente, quando a pões em risco comprometendo-a no amor, quando fazes dela um dom gratuito para os outros, então a vida volta para ti em abundância, derrama dentro de ti uma alegria que não passa, uma paz do coração, uma força interior que te sustenta. Esta é a verdade que Jesus nos convida a descobrir, que Jesus quer desvendar a todos vós, nesta terra da Mongólia: para ser feliz, não serve ser grande, rico ou poderoso. Só o amor nos dessedenta o coração, só o amor cura as nossas feridas, só o amor nos dá a verdadeira alegria”.

O Papa lembrou que, por vezes, amar significa renunciar a si mesmo, lutar contra os egoísmos pessoais e mundanos, viver a fraternidade, atitudes que podem custar fadiga e sacrifício ou levar mesmo ao caminho da cruz, mas que só reforçam a essência do testemunho cristão de que “quando perdemos a nossa vida pelo Evangelho, o Senhor no-la dá em abundância, cheia de amor e alegria, por toda a eternidade”.

‘OBRIGADO POR SEREM BONS CRISTÃOS E HONESTOS CIDADÃOS’

Após a comunhão, o Cardeal Giorgio Marengo, Prefeito Apostólico de Ulan Bator, manifestou, em nome de todos os católicos da Mongólia, a gratidão pela visita do Pontífice e a felicidade em saber o quanto são queridos pelo Papa. O Purpurado pediu que o Santo Padre continue a apoiá-los “com sua palavra e exemplo”. E concluiu: “Obrigado, nossos corações estão repletos de alegria, a Evangelii gaudium, que o senhor nos transmite”.

Francisco, em seu discurso de agradecimento, expressou alegria em poder ter estado com o povo da Mongólia por estes dias e especialmente com os católicos. “Obrigado, por serem bons cristãos e honestos cidadãos! Continuai a sê-lo, com mansidão e sem medo, sentindo a proximidade e o encorajamento de toda a Igreja, e sobretudo o olhar terno do Senhor que não Se esquece de ninguém e olha com amor para cada um dos seus filhos”.

O Papa externou gratidão especial a todos aqueles que ajudam, espiritual e materialmente, a Igreja Católica na Mongólia. Também agradeceu às autoridades locais e aos que se empenharam para a realização desta viagem apostólica; e  dirigindo-se aos membros de outras confissões cristãs e demais religiões, pediu: “Continuemos a crescer juntos na fraternidade, como sementes de paz em mundo tristemente funestado por demasiadas guerras e conflitos”.

A todo o povo mongol, ele agradeceu “pelo dom da amizade que recebi nestes dias, pela vossa capacidade genuína de apreciar até os aspetos mais simples da vida, de preservar sabiamente as relações e as tradições, de cultivar com cuidado e solicitude a vida do dia a dia”.

“Irmãos e irmãs da Mongólia, obrigado pelo vosso testemunho, bayarlalaa [obrigado]! Que Deus vos abençoe. Estais no meu coração e, no meu coração, permanecereis. Por favor, lembrai-vos de mim nas vossas orações e nos vossos pensamentos”, concluiu.

Antes de proferir estas palavras finais, o Pontífice dirigiu, de improviso, uma mensagem aos católicos na China – país com o qual a Santa Sé tem feito acordos em busca da ampla liberdade ao Catolicismo – pedindo que sejam “bons cristãos e bons cidadãos” e desejou “o melhor a todo povo”. Ele o fez cumprimentando o Cardeal John Tong Hon, Bispo emérito de Hong Kong, e o Cardeal eleito Stephen Chow Sau-yan, SJ, atual Bispo de Hong Kong, que concelebraram a missa.

ÚLTIMO DIA DA VIAGEM

A 43a viagem apostólica internacional do Papa Francisco será concluída na segunda-feira, 4.

O Papa terá um encontro com os agentes da caridade e vai inaugurar a Casa de Misericórdia (às 22h30 do domingo, 3, no horário de Brasília), antes da cerimônia de despedida no Aeroporto Chinggis Khaan (às 0h30 – horário de Brasília).

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários