A vida humana possui a maior das dignidades e, portanto, reclama o maior dos cuidados. Decidir cada um por sua conta quando dar-se a morte, é um direito humano?, quem o disse, onde está escrito?’, escreveu o Bispo a legisladores do país
Apesar da pandemia do coronavírus, o esforço por propagar ideologias não arrefeceu, escancarando várias contradições de nossa sociedade. Ao mesmo tempo em que estátuas de “colonizadores” e “opressores” são vandalizadas nos Estados Unidos e Europa, funcionários das Nações Unidas exigem de países pobres, em troca de ajuda humanitária, a implementação do aborto, da ideologia de gênero e da doutrinação de crianças em escolas.
No Brasil, já houve algumas tentativas de levar adiante essa agenda em meio à pandemia. Foi o que ocorreu, por exemplo, quando o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, decidiu votar virtualmente uma ação que pedia a liberação do aborto para gestantes que tivessem contraído o zika vírus, independentemente de confirmação de que o bebê tivesse problemas. Felizmente, grupos se mobilizaram e, mesmo em meio às dificuldades da pandemia, conseguiram que o STF rejeitasse a ação.
Também o Uruguai sofre com isso. No momento, se discute um projeto de lei sobre a eutanásia e o suicídio assistido. Por esse motivo, Dom Jaime Fuentes, bispo emérito de Minas, escreveu aos legisladores do País uma carta aberta.
Segue tradução da mesma, na qual Sua Excelência manifesta as contradições do projeto e aponta alguns dos verdadeiros problemas:
Senhor legisladores:
Aliviar o sofrimento das pessoas que, padecendo uma enfermidade terminal, sofrem dores que podem chegar a ser insuportáveis, é um desejo generalizado. Coincidiremos todos quanto à necessidade de buscar os modos de fazê-lo, mais e melhor; como sociedade, temos um deve a cumprir.
Por essa linha quer seguir o Projeto de lei eutanásia e suicídio assistido. Mas entendo que erra feio.
(1) Não é um completo sem sentido legalizá-los, em um país que tem o maior número de suicídios da América Latina e um dos maiores do mundo?
(2) Somente em cinco países é legal a eutanásia: Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Canadá e Colômbia; e somente na Suíça se permite o suicídio assistido. Na Bélgica, depois de sua legalização, havia só umas centenas de casos de eutanásia por ano. Atualmente, há mais de 2.300 casos oficialmente registrados e a tendência vai em aumento (Deutsche Welle, 26.II.20), como no Uruguai. Queremos seguir por esse caminho, encorajando os suicidas em potência? As leis influem, para o bem e para o mal, no conjunto do comportamento social.
(3) Resulta macabra a mensagem que receberão as poucas novas gerações, se os médicos recebem licença para matar. Em todo caso, por que só eles?… O médico estuda para curar, não para matar.
(4) Dizem que, com a lei, se respeitará a liberdade individual de decidir quando acabar com a própria vida. Mas, não vivemos em sociedade e somos interdependentes? Se alguém vê uma pessoa que tenta se suicidar, não procura todos os modos de dissuadi-la? Porque é humano, nada mais! Com a lei que se propõe, “por mim que se mate, se é legal! ”… Esta é a sociedade que queremos, individualista até o limite?
(5) Se esquece que o fim não justifica os meios. A vida humana possui a maior das dignidades e, portanto, reclama o maior dos cuidados. Decidir cada um por sua conta quando dar-se a morte, é um direito humano?, quem o disse, onde está escrito?
No tempo pandêmico que estamos vivendo, enquanto nos cuidamos de um contágio mortal, o projeto de lei de eutanásia e suicídio parece por demais sombrio. Hoje, mais que nunca, necessitamos no Uruguai de um projeto coletivo entusiasmante: nosso maior problema é a falta de população. Hungria, Rússia, Sérvia, Alemanha…, que também o tem, fizeram planos concretos para incentivar a natalidade e estão conseguindo; no nosso próximo e silencioso Paraguai, que no ano 2000 tinha 5 milhões e o pico de habitantes, há hoje mais de 7 milhões e seu PIB crescerá 4% em 2021 (Banco Mundial). E nós, não podemos fazer nada?
Senhores legisladores: estudar o problema e trabalhar por um Uruguai melhor – “são precisas crianças para amanhecer”, claro que sim! – é o que se espera de vós. Agradeço a atenção prestada e me despeço,
Atentamente,
Dr. Jaime Fuentes, Bispo Emérito de Minas
Fontes: Conferência Episcopal do Uruguai, Agência Fides e CitizenGo
Por: João Fouto