É possível reduzir em 90% os resíduos plásticos nos oceanos?

Esta é a meta da Ocean Cleanup, organização internacional criada em 2013 nos Países Baixos, com ações reconhecidas pelas Nações Unidas

Tecnologia da Ocean Cleanup retira resíduos plásticos, de tamanhos diversos, de rios e mares
The Ocean Cleanup

A cada ano, cerca de 14 milhões de toneladas de resíduos plásticos danificam os ecossistemas aquáticos, conforme dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Essa poluição marinha impacta a economia dos países – com prejuízos para o turismo e a pesca, por exemplo – e a saúde humana, já que espécies marinhas que se alimentam destes plásticos acabam sendo ingeridas pelo homem. No ano passado, em um estudo feito em 22 amostras de sangue de doadores anônimos foram encontradas micropartículas de plástico em 17 delas.

Atualmente, existem ao menos cinco grandes “ilhas de plástico” no planeta. A maior delas é a Grande Mancha de Lixo do Pacífico, localizada entre o Havaí e a Califórnia, com 1,6 milhão de quilômetros quadrados. São aproximadamente 100 mil toneladas de plástico, considerando as áreas interna e externa da Grande Mancha. As outras “ilhas de plástico” estão no Atlântico Norte, no oceano Índico, no Pacífico Sul e no Atlântico Sul.

Todas elas foram formadas ao longo das últimas décadas, compostas majoritariamente por microplásticos (pequenas partículas com menos de 5 milímetros) que acabam ficando muito próximas devido à ação de correntes marinhas e à rotação da Terra e formam como que um bloco unificado, que só tende a crescer.

A ATUAÇÃO DA OCEAN CLEANUP

Em 2013, Boyan Slat fundou, nos Países Baixos, a Ocean Cleanup, uma organização sem fins lucrativos, atualmente com abrangência global, que desenvolve e amplia tecnologias para retirar os resíduos plásticos dos oceanos. Em 2019, teve início a captura de tais resíduos nos mares, e tempos depois também nos rios.

Em abril deste ano, a Ocean Cleanup publicou um estudo na revista Science Advances revelando que mil rios no planeta são os responsáveis por quase 80% das emissões de plástico que vão parar nos oceanos. “Estas novas descobertas indicam que a poluição plástica nos oceanos é causada por um maior número de rios de pequena e média dimensão, definidos por um conjunto de fatores geográficos que determinam a maior contribuição para o fluxo de plástico nos nossos oceanos. Este entendimento é contrário às estimativas anteriores de que um pequeno número de grandes rios são os principais contribuintes”, consta na publicação.

DUAS FRENTES DE AÇÃO

“Precisamos limpar o plástico que já está nos oceanos e interceptar o plástico que atravessa os rios”, explica a Ocean Cleanup em seu site.

Em rios da Guatemala, Malásia, Jamaica, Estados Unidos e República Dominicana, a Ocean Cleanup já instalou captadores de plásticos, evitando que os resíduos cheguem aos mares. Em maio, por exemplo, foi instalado o Interceptor 020 para evitar que cerca de mil toneladas de plástico do rio Cisadane desemboquem no Mar de Java todos os anos. A iniciativa conta com o apoio do governo da Indonésia, que até 2025 tem a meta de reduzir em 70% os detritos plásticos marinhos.

Quanto à Grande Mancha de Lixo do Pacífico, a organização afirma que se conseguir instalar dez de seus sistemas atuais, que já começaram a trabalhar, conseguirá limpá-la completamente. “Depois que frotas de sistemas forem implantadas em todos os giros oceânicos [que formam as ‘ilhas de plástico’], combinadas com a redução de fontes, a Ocean Cleanup projeta ser capaz de remover 90% do plástico flutuante nos oceanos até 2040”, informa a organização.

A tecnologia da Ocean Cleanup faz com que resíduos plásticos de mares e rios fiquem agrupados e formem uma grande barreira, que é conduzida até uma zona de retenção para ser depositada em um navio, nos quais há contêineres. Quando estes são preenchidos, as embarcações retornam à costa litorânea para que o material seja recolhido e destinado para a reciclagem. “Os apoiadores que recebem os produtos ajudam a financiar a limpeza contínua dos oceanos”, lê-se no site da ação.

PARCERIA COM AS NAÇÕES UNIDAS

Em fevereiro, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) e a Ocean Cleanup assinaram um memorando de entendimento para pensar ações com vistas a eliminar a poluição plástica nos oceanos e rios.

“Esta aliança é um passo importante para reduzir o fluxo de poluição plástica nos oceanos e rios, mas também para aumentar a consciencialização, apoiar a elaboração de políticas sólidas e desencadear mudanças comportamentais ao longo de toda a cadeia de valor do plástico”, disse Achim Steiner, chefe do Pnud.

“Acreditamos que, por meio desta aliança, podemos ajudar a acelerar a implantação das nossas tecnologias para eliminar os plásticos dos oceanos e rios, bem como apoiar políticas mais amplas destinadas à gestão de resíduos e à redução da poluição plástica”, declarou o fundador e CEO da Ocean Cleanup, Boyan Slat.

A Ocean Cleanup também integra a Aliança de Inovação para um Tratado Global sobre Plásticos (IAGPT), que reúne pensadores sobre o tema de combate aos danos dos plásticos no meio ambiente. O grupo está entre os que se empenham pela efetivação do Tratado Global sobre Plásticos, que pretende ser um instrumento de combate à poluição plástica a ser assinado pelos governos de todo o mundo até o fim de 2024. A próxima rodada de discussões sobre o Tratado ocorrerá em novembro, no Quênia.

CONHEÇA MAIS SOBRE A OCEAN CLEANUP CLICANDO AQUI

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários