É possível ser missionário sem sair de casa?

Em seu novo livro, Frei Patrício Sciadini se inspira em Santa Teresinha do Menino Jesus para afirmar que todos são chamados ao apostolado

Luciney Martins/O SÃO PAULO

Missionário carmelita no Egito, há mais de 15 anos, e um dos maiores escritores sobre a espiritualidade dos santos carmelitas, Frei Patrício Sciadini está em visita ao Brasil para o lançamento do livro “Santa Teresinha: ser missionário sem sair de casa”, publicado pela editora Angelus.

Inspirado no exemplo da Santa e doutora da Igreja, venerada como padroeira das missões sem nunca ter saído da clausura do Carmelo de Lisieux, na França, o autor mostra como é possível viver a missionariedade apesar das limitações físicas ou da idade, que eventualmente impedem algumas pessoas de partirem em missão para terras ou realidades distantes.

PADROEIRA DAS MISSÕES

A obra tem a apresentação do Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, que elogiou “a feliz intuição” do Frei Patrício em escrever este livro sobre a ação missionária, que envolve a todos e é dever de todos os batizados.

“Lembrando o exemplo de Santa Teresinha do Menino Jesus que, mesmo sem ter ido às missões uma única vez, é a Padroeira dos Missionários. Ainda adolescente, Santa Teresinha já ingressou num convento carmelita de clausura, em que viveu até falecer, ainda muito jovem. Compreendendo bem que se pode ‘ser missionário mesmo sem sair de casa’, ela rezava muito pelos missionários, escrevia cartas a eles e os encorajava na missão. Santa Teresinha ardia de fervor missionário, oferecendo sua vida pelos missionários e pela missão da Igreja”, escreveu Dom Odilo.

O Arcebispo recordou, ainda, que o desafio missionário se tornou realmente muito abrangente e chama em causa a todos os batizados e membros vivos da Igreja. “E o Papa Francisco não se cansa de nos conclamar a sermos ‘Igreja em saída missionária’, que vai ao encontro das pessoas, na direção das periferias, dos esquecidos, dos abandonados e distantes da prática da fé”, completou.

Dom Odilo também apresentou algumas pistas para ser um missionário sem sair de casa: cultivando um profundo amor por Deus, por meio da vivência na Igreja, “corpo missionário de Cristo; apoiando a ação missionária por meio de orações, ofertas e sacrifícios; colaborando com a formação de crianças, adolescentes e jovens para a missão; e conhecendo melhor os trabalhos missionários da Igreja.

ARDOR MISSIONÁRIO

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Frei Patrício explicou que a ideia de escrever esse livro surgiu da contemplação da sua própria realidade. “Cheguei aos 78 anos e, portanto, a atividade lentamente vai diminuindo, as forças físicas igualmente. Porém, não pode diminuir o ardor missionário, algo que é muito mais profundo, pois nasce do nosso Batismo. Por isso, pensei nas pessoas que não podem mais fazer o apostolado como antes, seja por idade, seja por incapacidade”, destacou.

Frei Patrício salientou, ainda, que aqueles que de suas casas se dedicam à missão são uma riqueza para a Igreja.

“Essas pessoas consideradas inativas, na verdade, são fermento, são sal e luz”, afirmou.

“Uma frase de Santa Teresinha que me orientou é ‘O amor cresceu comigo’. A missionariedade nasce do amor que arde no coração de uma pessoa. Quando se ama alguém, queremos que esta pessoa seja conhecida por todos, amada por todos. Quando esta pessoa é Jesus, o nosso amor se faz necessariamente missionário, não se compra, como aos que não creem, com promessas econômicas, nem favores, mas somos atraídos pelo testemunho de vida”, continuou o Carmelita, recordando a sua experiência como missionário no Egito, país predominantemente islâmico, onde a evangelização só é possível por meio do testemunho dos cristãos na vida cotidiana.

ORAÇÃO E SACRIFÍCIO

“Com Teresa do Menino Jesus, podemos ser todos, sem exceção, missionários. Temos duas vias que realizam todos os sonhos e ideais da nossa vida: a oração e o sacrifício. Não é necessária outra coisa para sermos autênticos”, disse.

“Este pequeno livro quer ser um instrumento fácil, eficaz para as comunidades, para a mesma Igreja, para reassumir o seu espírito missionário, o seu ardor missionário, o seu contágio pela santidade… Estou convencido de que, neste momento histórico, a Igreja se perde em muitas ‘coisinhas’ que não ajudam a evangelização. Ela deve recuperar a sua profecia, a sua capacidade de martirizar-se e a sua força orante”, enfatizou Frei Patrício, reforçando que a oração “salvará a Igreja da mundanidade espiritual, da politicagem, de uma ‘socialização’ que a leva, às vezes, para longe do querigma essencial: encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo”.

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