
A 30ª sessão da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA), com a presença de representantes de 194 países e da União Europeia, também é alvo de atenção da Igreja.
Além de membros da Arquidiocese de Belém, da presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e demais bispos, uma delegação de 10 pessoas da Santa Sé participa da COP30 – iniciada na segunda-feira, 10, e que prosseguirá até o dia 21 –, incluindo o Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado do Vaticano e representante do Papa Leão XIV na conferência.
Todos estão em risco
Já na sexta-feira, 7, o Cardeal Parolin leu a mensagem do Papa à COP30, na qual Leão XIV ressalta que não será possível cultivar a paz sem que se cuide da Criação. Ele aponta que o atual panorama das mudanças climáticas coloca em risco a vida de todos os povos, sendo, portanto, necessária “uma cooperação internacional e um multilateralismo coeso e voltado para o futuro, que coloque a sacralidade da vida, a dignidade inerente a cada ser humano e o bem comum no centro das atenções. Lamentavelmente, observamos abordagens políticas e comportamentos humanos que seguem na direção oposta, caracterizados por egoísmo coletivo, desrespeito ao próximo e visão de curto prazo”.
Leão XIV recorda que já nos anos 1990, São João Paulo II enfatizava que a crise ecológica “é uma questão moral” e como tal “revela a urgente necessidade moral de uma nova solidariedade, especialmente nas relações entre as nações em desenvolvimento e as altamente industrializadas”. O atual Pontífice lembra que “tragicamente, aqueles em situações mais vulneráveis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das mudanças climáticas, do desmatamento e da poluição. Cuidar da Criação torna-se, portanto, uma expressão de humanidade e solidariedade”.
Colocar em prática os compromissos assumidos

Leão XIV aponta ser “vital transformar palavras e reflexões em escolhas e ações baseadas na responsabilidade, justiça e equidade para alcançar uma paz duradoura, cuidando da Criação e do nosso próximo”, e lembra que o caminho para alcançar os objetivos pactuados no Acordo de Paris, em 2015, “continua longo e complexo”.
Esse alerta já havia sido feito pelo Papa Francisco na exortação apostólica Laudate Deum (LD), em 2023, na qual aprofundou preocupações sobre mudanças climáticas já externadas na encíclica Laudato si’, em 2015: “Com o passar do tempo, dou-me conta de que não estamos a reagir de modo satisfatório, pois este mundo que nos acolhe está se esboroando e talvez aproximando de um ponto de ruptura” (LD 2). O Pontífice também lamentava que “os acordos [feitos nas COPs] tiveram um baixo nível de implementação, porque não se estabeleceram adequados mecanismos de controle, revisão periódica e sanção das violações… [e que] as negociações internacionais não podem avançar significativamente por causa das posições dos países que privilegiam os seus interesses nacionais sobre o bem comum global” (LD 52).
Conversão ecológica, finanças e educação
Leão XIV pede aos participantes da COP30 que abracem com coragem um caminho de “conversão ecológica em pensamento e ação, tendo em mente o lado humano da crise climática”; e deseja que tal conversão ecológica “inspire o desenvolvimento de uma nova arquitetura financeira internacional centrada no ser humano, que assegure que todos os países, especialmente os mais pobres e vulneráveis aos desastres climáticos, possam atingir seu pleno potencial e ver a dignidade de seus cidadãos respeitada”
O Pontífice diz ser fundamental “uma educação em ecologia integral que explique por que as decisões nos níveis pessoal, familiar, comunitário e político moldam o nosso futuro comum, ao mesmo tempo que aumente a consciencialização sobre a crise climática e incentive mentalidades e estilos de vida que respeitem melhor a Criação e salvaguardem a dignidade da pessoa e a inviolabilidade da vida humana”.
Pontos de atenção
Em entrevista ao Vatican News, Dom Giambattista Diquattro, Núncio Apostólico no Brasil, lembrou que uma das atenções da Santa Sé na COP30 será na educação para a ecologia integral como campo decisivo para enfrentar a crise climática.
Outro ponto de destaque refere-se à implementação do Global Stocktake (GST), o Balanço Global do Acordo de Paris, “adotado na COP28, e ao compromisso correspondente de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis”, detalhou.
Dom Giambattista Diquattro comentou, ainda, que a Igreja estará atenta aos debates sobre “a reforma da arquitetura financeira global e sua ligação com o financiamento climático. Uma reflexão internacional evidencia o vínculo entre dívida externa e dívida ecológica, já evocado na exortação Spes non confundit”.
Também a transição energética justa é uma preocupação da Igreja, a fim de que tal transição não se faça apenas por critérios econômicos, mas também sociais e ambientais.
“Por fim, o debate sobre o Gender Action Plan oferecerá a ocasião de reafirmar o peso desproporcional que a mudança climática exerce sobre as mulheres, convidando à promoção de sua participação ativa na implementação do Acordo de Paris”, concluiu.
Simpósio ‘A Igreja Católica na COP3O’

Na quarta-feira, 12, acontece em Belém o simpósio “Igreja Católica na COP30”, para tratar sobre o desenvolvimento sustentável, justiça climática, ecologia integral e o cuidado com a Casa Comum.
O evento é organizado pela articulação Igreja Católica na COP30, formada pela CNBB, a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), a Cáritas Brasileira e o Movimento Laudato Si’. Saiba mais detalhes no site https://igrejarumoacop30.org.
Na última semana, na reunião do Conselho Permanente da CNBB, em Brasília (DF), a realização da COP30 foi um dos assuntos em pauta. Dom Francisco Lima Soares, Bispo de Carolina (MA), apresentou a análise de conjuntura social, na qual se enaltece o fato de a conferência do clima estar sendo realizada na Amazônia. No texto, há o alerta para uma decisão urgente a ser tomada pela humanidade: ou se acelera a transição energética, para reduzir o uso de combustíveis fósseis, ou se ultrapassará os limites de sobrevivência civilizatória.
Segundo dados da plataforma Climate Watch, o uso de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, representa 75% das emissões de gases que causam o efeito estufa.
No dia 4 deste mês, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente publicou o relatório Lacuna de Emissões, com o alerta de que se não houver mudanças significativas em relação à ação climática, o mundo pode ter um aumento de 2,3°C em relação ao período pré-industrial. O documento enfatiza ser preciso ampliar a meta atual de 35% para 55% na redução das emissões anuais de gases de efeito estufa, em comparação com os níveis de 2019, para cumprir, até 2035, o objetivo de não se elevar a temperatura média do planeta para além 1,5°C em comparação aos níveis pré-industriais, conforme se comprometeram as nações no Acordo de Paris.
O grande entrave a ser debatido em Belém, como demonstrado em edições anteriores da COP, é sobre o financiamento efetivo das ações para consolidar a transição para uma economia global mais sustentável.
(Com informações de Vatican News, CNBB e Agência Brasil)






