Em meio ao conflito, cristãos se unem pela paz na Terra Santa

Cristãos participam do Dia de Oração e Jejum pela Paz na Basílica da Anunciação e no Santuário da Sagrada Família de Nazaré, no dia 17
Christian Media Center/Custódia Terrae Sanctae

“Um sinal muito bonito de unidade de toda a comunidade cristã”. Com essas palavras, o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, definiu o Dia de Oração e Jejum pela Paz na Terra Santa, realizado na terça-feira, 17.

Atendendo ao pedido do Patriarca, em nome dos bispos da Terra Santa e em comunhão com os apelos do Papa Francisco, dioceses de todo o mundo se uniram para pedir o fim dos conflitos que, até o fechamento desta edição, já tinham deixado mais 4,4 mil mortos, sendo cerca de 3 mil palestinos e 1,4 mil israelenses, a maioria civis.

“A dor e a consternação pelo que está acontecendo são grandes. Mais uma vez, nos encontramos em meio a uma crise política e militar. Fomos subitamente arremessados em um mar de violência sem precedentes. O ódio, que infelizmente já presenciamos por muito tempo, aumentará ainda mais, e a espiral de violência continuará causando mais destruição”, manifestou o Cardeal Pizzaballa, na mensagem publicada no sábado, 14.

Em uma reunião on-line organizada com jornalistas pela associação internacional Iscom, o Patriarca classificou o ataque dos extremistas islâmicos do Hamas no dia 7 como “injustificável, incompreensível e inaceitável” e expressou seu temor por um possível ataque terrestre de Israel à Faixa de Gaza, manifestando sua preocupação com um conflito que poderia se espalhar e se tornar “regional”.

‘ESTAMOS PRONTOS’

O Cardeal Pizzaballa, que vive na Terra Santa há mais de 30 anos, como missionário Franciscano, também manifestou sua preocupação com os reféns israelenses, especialmente as crianças, em poder do Hamas. Ele não hesitou em declarar que está pronto para se oferecer pessoalmente em troca das crianças que estão nas mãos do Hamas.

“Se isso puder trazer liberdade, trazer essas crianças de volta para casa, não há problema. De minha parte, disponibilidade absoluta… É necessário encontrar uma saída, encontrar uma maneira de libertar os reféns. Temos que fazer isso. Caso contrário, será muito difícil interromper esses acontecimentos. Estamos disponíveis, também podemos nos comprometer, estamos prontos, tudo o que puder restaurar um mínimo de calma, estamos prontos”, reiterou.

O Purpurado alertou para o risco de esse confronto se transformar em um conflito de civilizações. “Obviamente, é importante evitar esse apelo às armas para um choque de civilizações, porque nada de bom resultará disso. A Terra Santa sempre foi um lugar onde o Oriente e o Ocidente se encontram e se chocam, um lugar de atrito”, observou, advertindo sobre o perigo de que a devastação se espalhe também para a Cisjordânia.

CRISTÃOS EM GAZA

Ao todo, cerca de mil cristãos vivem em Gaza. O Patriarcado Latino de Jerusalém informou que essas pessoas estão reunidas nos complexos das igrejas em Gaza, sendo 500 na Igreja Católica Romana, outras 400 no abrigo na Igreja Ortodoxa Grega. Cerca de 300, tanto cristãos quanto muçulmanos, estão abrigados na organização ecumênica cristã YMCA, que tem o compromisso de apoiar principalmente os jovens. Todos eles estão na parte Norte da Faixa, de onde devem sair, conforme o exército israelense.

Segundo a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN em inglês), mesmo com o término do ultimato de evacuação da Faixa de Gaza dado por Israel, as Irmãs do Rosário decidiram ficar na região, na única paróquia católica, que também é um convento. Elas abandonaram a escola e estão agora na paróquia católica da Sagrada Família, em Gaza. “Não iremos. As pessoas não têm nada, nem as coisas básicas; para onde devemos ir? Para morrer na rua? Temos idosos, as irmãs de Madre Teresa também estão aqui, com pessoas com deficiência múltipla e idosos. Precisamos de remédios. Muitos hospitais estão destruídos. Para onde devemos ir?”, disse Irmã Nabila Saleh, em telefonema à ACN.

O Padre Gabriel Romanelli, um dos dois sacerdotes da Paróquia de Gaza para os Católicos Romanos, originário da Argentina, disse que os paroquianos não tinham outra opção senão ficar. Ele apela para a abertura dos corredores humanitários necessários ao bem dos milhares de civis, à cessação dos bombardeamentos de Gaza, à libertação dos reféns israelenses e ao tratamento dos milhares de feridos.

“Pedimos corajosamente a paz em Gaza, em toda a Palestina e em Israel, para que um raio de esperança possa se abrir para todos os nossos povos”, disse o Pároco à agência SIR.

EM NAZARÉ

Na Basílica da Anunciação e no Santuário da Sagrada Família de Nazaré, o Dia de Oração e Jejum pela Paz começou em frente à gruta da anunciação, às 8h local, com a exposição do Santíssimo Sacramento, seguida da récita do Rosário, o Angelus e o Terço da Divina Misericórdia.

À noite, houve uma missa presidida por Dom Rafiq Nahra, Vigário Patriarcal para Israel e Bispo Auxiliar do Patriarcado Latino de Jerusalém, e concluída com a Coroa de São José.

“É um bom sinal ver como todos aqui em Nazaré responderam ao apelo: além do nosso programa, há também outras iniciativas que foram organizadas por comunidades e grupos religiosos presentes na cidade, por exemplo, o da italiana Fatebenefratelli hospital. Não vamos parar de orar. Graças a Deus, não houve confrontos entre os habitantes (em sua maioria árabes) da cidade ‘baixa’ de Nazaré, onde está localizado o santuário, e a cidade alta (Nazaré Illit, que agora se chama Nof HaGalil), onde sabemos que residem principalmente israelenses”, relatou o Frei Wojciech Bołoz, Guadião da Basílica da Anunciação, ao Christian Media Center.

Com informações de CMS/Terra Santa, SIR e ACN

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