Extremistas islâmicos intensificam o martírio de cristãos na RD Congo

ONU/Eskinder Debebe

Os últimos meses têm sido marcados pelo intenso derramamento do sangue dos cristãos na República Democrática do Congo (RD Congo), na África Subsaariana, em ataques conduzidos principalmente por milicianos das Forças Democráticas Aliadas (ADF). Cerca de 95% da população do país é cristã.

Em 7 de junho, segundo as autoridades congolesas, 41 pessoas foram assassinadas, algumas delas decapitadas, no território de Beni, em Kivu, no leste da RD Congo. Nos dez primeiros dias do mês passado, as ADF reivindicaram a autoria de 15 ataques em vilas e estradas da região.

“As ADF queimaram mais de 50 cristãos até a morte em suas casas. Eram tantos corpos que o veículo não tinha espaço suficiente para todos”, relatou um pastor à organização Portas Abertas. Além disso, muitas pessoas foram declaradas desaparecidas. As vítimas desta ação estavam trabalhando no campo quando foram atacadas com facões e armas.

Depois, os terroristas foram ao vilarejo e incendiaram tudo que viram pela frente.

As ADF são uma coalizão rebelde surgida em Uganda, em 1995, composta majoritariamente de milicianos muçulmanos. Após se aproximar do Estado Islâmico no fim da década passada, o grupo tem espalhado o terror na região do Sahel. Entre 2020 e 2022, sua área de atuação mais que dobrou.

Estima-se que em 2020, as ADF tenham matado 849 pessoas; e em 2023, cometido mais de mil assassinatos. Em razão dos ataques, cerca de 5 milhões de congoleses já tiveram que deixar suas casas e os que resistem em suas terras não têm conseguido receber ajuda humanitária. Muitas vezes, quem tenta se rebelar é sequestrado e desaparece de sua localidade de origem em definitivo.

INSEGURANÇA ‘ENDÊMICA’ E MARTÍRIO

Há décadas, três províncias do leste da RD Congo – Ituri, Kivu do Norte e Kivu do Sul – estão sob o jugo de mais de 120 grupos que lutam por territórios e a exploração de recursos minerais.

Em abril, os bispos da Província Episcopal de Bukavu manifestaram que “a insegurança tem se convertido em algo endêmico, com desfile de assassinatos até à luz do dia, como o cerco da cidade de Goma pelo M23, apoiado por Ruanda, e com a paralisia da economia mediante a estratégia de isolamento e asfixia dos grandes e pequenos centros”.

No Angelus de 16 de junho, o Papa Francisco falou sobre o momento vivido no país, especialmente do martírio de cristãos: “Continuam chegando notícias dolorosas sobre confrontos e massacres na região leste da República Democrática do Congo. Faço um apelo às autoridades nacionais e à comunidade internacional para que façam todo o possível para acabar com a violência e proteger a vida dos civis. Entre as vítimas, muitos são cristãos mortos por odium fidei [ódio à fé]. Eles são mártires. Seu sacrifício é uma semente que germina e dá frutos, e nos ensina a dar testemunho do Evangelho com coragem e coerência”.

VIOLÊNCIA CRESCENTE

O Relatório de Liberdade Religiosa no Mundo 2023, produzido pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), aponta que tem havido “uma explosão de violência infligida a populações militares e civis na África Subsaariana por grupos jihadistas locais e transnacionais, que perseguem sistematicamente todos aqueles que não aceitam a ideologia islamista extrema”.

Especificamente na região dos Grandes Lagos, nas fronteiras de Ruanda, RD Congo e Uganda, “a competição pelos recursos minerais tem resultado em uma violência feroz e em horríveis violações dos direitos humanos. As estimativas indicam que só na RDC estão ativos cerca de 122 grupos armados, onde, particularmente nas regiões norte e leste do país, milícias como a M23 e jihadistas como a Aliança das Forças Democráticas (ADF – um ramo africano do autoproclamado Estado Islâmico) aterrorizam a população e visam aos líderes religiosos como ferramentas coercivas para espalhar o medo”.

O relatório da ACN indica, ainda, que em muitos casos, “a violência é motivada por uma união tóxica entre jihadistas islamistas, crime organizado e bandidos locais: mercenários ou combatentes, incitados por pregadores extremistas e armados por grupos terroristas transnacionais.

Esses grupos têm como alvo as autoridades estatais, os militares, a polícia e os civis, incluindo os líderes e os fiéis muçulmanos, cristãos e religiosos tradicionais”.

Ainda de acordo com a ACN, grupos jihadistas transnacionais como o Estado Islâmico se valem das divisões já existentes nos territórios: “A estratégia não é tanto a conquista e a defesa de um território fixo, um ‘Estado’ islâmico, como se tentou fazer no Iraque e na Síria, mas antes um califado móvel e oportunista que favoreça ataques a zonas rurais (de preferência) ricas em minerais, nas quais as forças militares, com pouca capacidade de ação, têm menor chance de defesa. Os ataques contra as cidades se destinam a aterrorizar, mas também a imobilizar as forças militares nas zonas urbanas”.

(Com informações de Portas Abertas, ACN Brasil, Agência Fides e jornal Il Foglio)

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