Família polonesa assassinada por nazistas é beatificada

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Um casal polonês e os seus sete filhos, assassinados pelos nazistas durante a 2ª Guerra Mundial por esconderem judeus na casa em que viviam, foram beatificados no domingo, 10. Esta é a primeira vez que uma família inteira recebe o alto reconhecimento da Igreja.

A beatificação, decidida pelo Papa Francisco em 17 de dezembro do ano passado, foi celebrada em Markowa – pequena aldeia natal dos novos beatos, atualmente com 4,5 mil habitantes –, para onde viajou o Cardeal Marcello Semeraro, Prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos.

“Espero que esta família polonesa, que foi um raio de luz nas trevas da 2ª Guerra Mundial, seja para todos um modelo a seguir do impulso para o bem, para o serviço dos necessitados”, disse o Papa Francisco no domingo.

Em torno de 35 mil pessoas participaram da cerimônia, incluindo Andrzej Duda e Mateusz Morawiecki, respectivamente presidente e primeiro-ministro da Polônia; Michael Schudrich, rabino-chefe do país, além de diversos padres e uma delegação israelense.

Józef e Wiktoria Ulma se casaram em 1935, quatro anos antes do início da 2ª Guerra Mundial. Józef trabalhava no campo, era agricultor e apicultor. No seu tempo livre, dedicava-se à fotografia, que revelava a vida familiar por meio de cenas cotidianas, como as crianças correndo descalças na grama, fazendo a lição de casa, ou a mãe pendurando as roupas no varal. Wiktoria cuidava da casa e das crianças.

MARTÍRIO

Na manhã de 24 de março de 1944, após ter recebido uma denúncia de que estariam a abrigar judeus, uma patrulha nazista cercou a casa da família: começou a atirar em direção ao teto, onde se encontrava o sótão, e o sangue dos oito judeus ali escondidos (Shaul Goldmann, com os seus quatro filhos, Lea Didner, com a sua filha Reshla, de 5 anos, e Golda Grünfeld) começou a escorrer.

Embaixo, no lugar onde o sangue caía, havia uma mesa sobre a qual tinha sido colocada – não se sabe o motivo – uma foto das duas mulheres judias. No braço de uma delas estava desenhada a estrela de David. Esta foto foi conservada até hoje como “relíquia” deste martírio judaico, e também cristão.

Depois, trouxeram o casal para fora de casa e dispararam sobre Józef e Wiktoria, que estava grávida de sete meses e deu à luz durante o massacre. Em seguida, os nazistas dispararam também contra as crianças: Stanisława, de 8 anos; Barbara, de 7; Władysław, de 6; Franciszek, de 4; Antoni, de 3; e Maria, de 2. No fim, incendiaram-lhes a casa, para que não restassem dúvidas aos habitantes daquela pequena aldeia: aquilo era o que lhes aconteceria também, se acaso arriscassem ajudar os judeus.

TESTEMUNHO

O postulador da causa da família Ulma, o Padre Witold Burda, contou que, mesmo depois do incêndio, dentro da casa foi encontrada uma Bíblia na qual a parábola do bom samaritano estava sublinhada com caneta vermelha.

Ele acrescentou que Józef e Wiktoria eram conhecidos em sua comunidade pela disposição de “ajudar qualquer um que batesse em sua porta”.

“Eles construíram sua família sobre o fundamento da fé com fidelidade aos dois mandamentos essenciais: o mandamento de amar a Deus e o mandamento de amar o próximo”, disse o Sacerdote.

Jozef e Wiktoria Ulma foram reconhecidos por Israel, em 1995, como membros dos “Justos entre as nações”, uma distinção dada aos não judeus que deram ou arriscaram suas vidas para salvar filhos do povo judeu do extermínio nazista.

Em Markowa, desde 2004 existe um museu dedicado à família. Em 2018, a Polônia decretou 24 de março, data do massacre, como dia de homenagem aos poloneses que resgataram judeus durante a ocupação alemã.

Fontes: G1 e Instituto Humanitas Unisinos

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