Francisco nomeia jesuíta educador como bispo de Hong Kong

Embora sob o rígido fechamento à Igreja promovido pelo governo chinês, Hong Kong terá um novo bispo, com a nomeação de um padre jesuíta, natural daquela região, profundo conhecedor de sua realidade e com forte atuação na área da educação

Padre Stephen Chow Sau-yan, Bispo eleito de Hong Kong (Companhia de Jesus)

O Papa Francisco nomeou na segunda-feira, 17, o Padre jesuíta Stephen Chow, 61, natural daquela região e que já atuava como provincial da Companhia de Jesus na China e supervisor das faculdades jesuítas de Wah Yan, para ser o novo bispo da diocese de Hong Kong.

A diocese estava vacante desde a morte de Dom Michael Yeung, em janeiro de 2019, cuja atuação durou somente 17 meses.

ACORDO COM A SANTA SÉ

O bispo emérito de Hong Kong, Cardeal Joseph Zen, é um ferrenho crítico do governo comunista e, por isso, também do acordo entre a Santa Sé e as autoridades chinesas, assinado em 22 de setembro de 2018 e renovado em outubro de 2020, de forma experimental, por mais dois anos.

Com esse acordo, a Santa Sé readmitiu à plena comunhão eclesial os bispos nomeados pelo governo comunista enquanto o governo de Pequim se comprometia a cessar a perseguição religiosa contra os católicos no país.

A agência católica Asia News diz que, segundo cláusulas secretas do acordo, nem a Santa Sé nem o papa teriam participação na escolha dos novos bispos.

SITUAÇÃO DA REGIÃO

Hong Kong foi palco de protestos contra a nova Lei de Segurança, sancionada pelas autoridades chinesas em 30 de junho de 2020. A nova legislação permite que o governo comunista de Pequim envie para julgamento na China continental qualquer pessoa presa em Hong Kong. Os habitantes de Hong Kong temem que isso sirva para prender ativistas pró-democracia.

Hong Kong tem um regime especial acertado entre Pequim e o Reino Unido desde 1999, quando a região passou do controle britânico para a China, o que garante maior democracia do que há na China continental. Os militantes de Hong Kong acusam Pequim de não respeitar o acordo.

Segundo a America Magazine, a revista dos jesuítas dos Estados Unidos, a Santa Sé “estava procurando um candidato que não fosse abertamente identificado com os protestos democráticos dos últimos anos em Hong Kong e, portanto, não fosse visto como um desafio político a Pequim”.

PERFIL DO NOVO BISPO

Em um artigo publicado em novembro passado na revista Ming Pao Weekly, de Hong Kong, o Padre Stephen disse que uma de suas funções nas faculdades é ser “uma ponte” entre os membros da comunidade escolar – funcionários e alunos – que têm opiniões divergentes sobre quanta autonomia Hong Kong deveria receber do governo central chinês.

“Você sabe como funciona uma ponte?” perguntou o Padre Stephen à revista. “Uma ponte deve ser transposta por pessoas, para que possam ser conduzidas para o outro lado”, concluiu ele.

“Ser uma ponte, em certo sentido, implica carregar o fardo. Minhas palavras podem não atender a ambos os lados, mas, pelo menos, fazem com que as pessoas dos dois lados se reúnam no meio [da ponte]. Do contrário, não há futuro para a sociedade”, afirmou, segundo a tradução para o inglês do artigo, que foi publicado no site da província chinesa dos jesuítas.

“Nas faculdades de Wah Yan, todos podem falar o que quiserem, em qualquer assunto, desde que não seja propaganda, mas uma discussão de diferentes perspectivas apoiada em fatos convincentes”, disse ele.

REPERCUSSÃO

Saudando a nomeação do Padre Stephen, o Padre jesuíta Arturo Sosa, Superior-Geral da Companhia de Jesus, disse: “Estou feliz que o Padre Stephen possa continuar a servir e desejo-lhe todas as bênçãos neste novo ministério. Os jesuítas se orgulham de nossos laços com o povo chinês, que remontam ao grande missionário Matteo Ricci, que tinha muito respeito pela cultura chinesa”, afirmou.

Em uma apresentação de um livro na sede dos jesuítas em 11 de maio, o Padre Arturo descreveu a província chinesa como “muito complexa porque inclui a China continental e também a ilha de Taiwan, Hong Kong e Macau”.

A IGREJA NA REGIÃO

Com um território de mais de 1.100 km2, Hong Kong compreende, além da ilha homônima, a península de Kowloon, a ilha de Lantau e mais de outros 200 ilhéus menores.

Segundo o anuário pontifício, Hong Kong tem uma população de 7,5 milhões de pessoas e cerca de 626.000 católicos (8,3% da população), que são atendidos por 71 padres diocesanos e 214 outros padres membros de ordens religiosas A diocese é composta de 52 paróquias, 100 capelas e 253 institutos educacionais. Há também 336 membros de institutos religiosos masculinos e 441 membros de institutos religiosos femininos.

A diocese conta, ainda, com um bispo auxiliar, o franciscano Dom Joseph Ha Chi-shing, OFM.

Fonte: Catholic News Service e ACI Digital

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