Jogos Paralímpicos Paris 2024 reforçam o ideal de um mundo mais inclusivo

Até 8 de setembro, capital francesa receberá 4,4 mil atletas para a disputa de 22 modalidades. Delegação brasileira será de 280 esportistas 

Na 1ª edição dos Jogos Paralímpicos, realizada em Roma 1960, participaram 400 atletas; em Paris 2024 serão 4,4 mil esportistas, sendo 280 brasileiros, em 20 modalidades, uma delas a bocha
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“O esporte cria empatia e congrega pessoas provenientes de qualquer percurso de vida, gerando uma cultura do encontro. Ele deve fugir da ‘cultura do descarte’ e ser acessível, acolhedor e inclusivo. Além disso, o esporte deve garantir a integração das pessoas com deficiência”.

Estes apontamentos do documento “Dar o melhor de si”, sobre a perspectiva cristã para o esporte – publicado em 2018 pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida – poderão ser vistos concretamente nos próximos dias durante a 17ª edição dos Jogos Paralímpicos, que começam na quarta-feira, 28, em Paris, e prosseguem até 8 de setembro.

Ao todo, participam 4,4 mil atletas, de mais de 180 nações, além de uma Equipe Paralímpica de Refugiados e outra Atletas Paralímpicos Neutros, cujos países estão proibidos de representação em eventos esportivos, como é o caso da Rússia e de Belarus.

O esporte e a ‘revolução da inclusão’

Mais do que as conquistas das medalhas de ouro, de prata e de bronze que estarão em disputa nas 549 provas das 22 modalidades do programa paralímpico, Paris 2024 busca reforçar o ideal da inclusão social, um dos propósitos permanentes dos Jogos Paralímpicos. 

“Além de sermos um evento esportivo empolgante de se acompanhar, somos também um movimento com um objetivo claro [a promoção de direitos humanos]. Acredito que, em geral, o futuro do esporte estará na interseção entre o entretenimento e um empenho com um propósito humanístico”, comentou o brasileiro Andrew Parsons, presidente do Comitê Paralímpico Internacional, em recente entrevista ao jornal italiano Avvenire.

Alessandra Cabral/CPB

Parson também revelou o desejo de que Paris 2024 inicie “um caminho duradouro para mudar as mentalidades sobre a nossa percepção geral do que significa uma pessoa com deficiência no mundo de hoje… Uma sociedade é para todos e deve ser construída por todos. Quando começamos nosso raciocínio separando as pessoas com deficiência das demais, já estamos cometendo um erro, não intencional e certamente de boa-fé. Nos Jogos Paralímpicos, ao contrário do que alguns ainda acreditam, o público não é, de forma alguma, composto principalmente por pessoas com deficiência. Em geral, são apaixonados por esportes de todos os tipos que vêm simplesmente para admirar e incentivar grandes atletas em ação. Esse é um bom começo para a ‘revolução da inclusão’”. 

Como tudo começou

Os Jogos Paralímpicos têm sua origem ligada à 2º Guerra Mundial. Assim que teve início o conflito, em 1939, o governo da Grã-Bretanha decidiu organizar em Stoke Mandeville, na Inglaterra, uma ala hospitalar especializada em lesões de medula espinhal, que acabaria por ser a situação clínica de muitos dos soldados que regressavam da guerra. 

Em 1944, Stoke Mandeville passou a ser dirigida pelo médico alemão judeu Ludwig Guttman, que aprimorou os tratamentos de fisioterapia para os feridos de guerra com o uso de objetos esportivos como bolas, além de desenvolver novos modelos cadeiras de rodas e promover momentos de práticas esportivas entre os pacientes.

Por ocasião da Olimpíada de Londres 1948, Guttman foi convidado a organizar competições demonstrativas de arco e flecha e de basquete em cadeira de rodas com 16 de seus pacientes. Surgiam, assim, os Jogos de Stoke Mandeville, que se repetiriam nos anos seguintes, tendo a partir de 1952 a presença de atletas de outros países. 

A expansão das práticas esportivas entre pessoas com deficiência, especialmente na Europa, culminou na realização da 1ª Olimpíada dos Portadores de Deficiência, em Roma, entre 18 e 25 de setembro de 1960, com a presença de 400 atletas, de 23 países. 

Nas primeiras edições, as disputas se davam apenas entre atletas cadeirantes, mas a partir da edição de Toronto 1976 os esportistas amputados e com comprometimento visual também puderam participar. Atualmente, além destes também podem competir pessoas com diferentes tipos de deficiências motoras e esportistas com determinados tipos de deficiência mental, mas somente em categorias específicas do atletismo, natação e tênis de mesa. 

Desde Seul 1988, todas as edições da paralimpíada tem ocorrido na mesma cidade que, semanas antes, recebe a olimpíada, geralmente com uso das mesmas arenas esportivas e da vila dos atletas, com as necessárias adaptações. 

O evento que encantou São João XXIII

Ao término da 1ª edição dos Jogos Paralímpicos de Roma 1960, o Papa João XXIII recebeu parte dos oficiais e esportistas no Vaticano, e se disse emocionado por ter visto atletas com algumas limitações físicas participarem dos Jogos com “um ânimo admirável”. Afirmou, ainda, que eles demostraram “o que pode realizar uma alma enérgica, apesar dos obstáculos – aparentemente insuperáveis – que o corpo impõe. Longe de se deixar abater pela prova, vocês a dominam e, com sereno otimismo, enfrentam competições esportivas que, a primeira vista, seriam reservadas apenas a homens com pleno vigor”. 

São João XXIII também enalteceu a todos os atletas pela demonstração de força, “uma virtude necessária ao homem, mas necessária sobretudo ao cristão” e assegurou-lhes que a eles “não deixa de inclinar-se com muito particular afeto o coração do Pai que está no Céus”. 

Mais recentemente, em fevereiro de 2022, às vésperas da realização dos Jogos Paralímpicos de Inverno de Pequim, o Papa Francisco falou sobre os bons ideais que emergem das paralimpíadas: “Ganharemos juntos a medalha mais importante se o exemplo dos atletas com deficiências ajudar todos a superar preconceitos e receios e a tornar as nossas comunidades mais acolhedoras e inclusivas. Esta é a verdadeira medalha de ouro!”.

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Brasil: uma potência paralímpica

O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) envia aos Jogos de Paris 2024 uma delegação com 280 esportistas, número recorde para uma edição realizada fora do Brasil. Foram convocados 255 atletas com deficiência, além de 19 atletas-guia, três calheiros da bocha, dois goleiros do futebol de cegos e um timoneiro do remo.

A lista de convocados é liderada pelo atletismo (89 esportistas), seguida pela natação (37), vôlei sentado (24), judô (15), tênis de mesa (15), bocha (12), goalball (12), halterofilismo (11) e futebol de cegos (10).

“Temos certeza de que será uma das mais importantes participações do Brasil em Jogos Paralímpicos. Vamos chegar em Paris após o nosso ciclo mais vitorioso da história, com campanhas históricas em Mundiais e no Parapan de Santiago 2023 [quando o Brasil obteve o desempenho recorde de 343 medalhas, com 156 ouros]. Estamos muito esperançosos de que nossos atletas tenham as suas melhores trajetórias da carreira”, afirmou Mizael Conrado, presidente do CPB, na coletiva de imprensa de convocação dos atletas em 18 de julho. 

Na história dos Jogos Paralímpicos, o Brasil já conquistou 373 medalhas, sendo 109 de ouro, 132 de prata e 132 de bronze. Tanto nos Jogos Rio 2016 quanto em Tóquio 2020, os atletas brasileiros chegaram a 72 pódios, tendo os melhores desempenhos do Brasil na história das paralimpíadas: 8º lugar no ranking de medalhistas em 2016 (com 14 ouros) e 7º lugar em Tóquio 2020 (22 ouros ao todo). 

(Com informações do CPB e Vatican.va)

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