Leão XIV destaca a missão pastoral e evangelizadora do Celam no continente

O Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam) deu início, na terça-feira, 27, à sua 40ª Assembleia Geral Ordinária. O encontro, que acontece no Rio de Janeiro, foi escolhido para marcar os 70 anos da histórica primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada em 1955, na então capital brasileira.

Com representantes de 22 países, a Assembleia reúne bispos e secretários das Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe para refletir sobre os principais desafios sociais, econômicos e eclesiais enfrentados pela região.

MENSAGEM DO PONTÍFICE

O Papa Leão XIV enviou uma mensagem ao Celam, na qual lembrou a importância do “espírito colegial para discernir juntos os desafios que o tempo presente apresenta à Igreja na América Latina”; sobretudo, convidou-os a buscar soluções segundo “os critérios da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério”, celebrando também os 70 anos de caminhada pastoral da entidade.

“Uno-me à ação de graças ao senhor pela celebração desta feliz efeméride, que nos recorda como o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho é um sinal de colegialidade, assim como um órgão de contato, colaboração e serviço das Conferências Episcopais da América Latina na tarefa da evangelização e da atenção pastoral ao santo povo fiel de Deus que peregrina nesse amado continente”, lê-se em um dos trechos da mensagem, cuja íntegra pode ser vista a seguir.

SR. CARDEAL JAIME SPENGLER
ARCEBISPO DE PORTO ALEGRE
PRESIDENTE DO CELAM

Por ocasião da 40ª Assembleia Geral Ordinária do CELAM, na qual se comemora o 70º aniversário da Primeira Conferência do Episcopado Latino-Americano e da criação desse Conselho Episcopal, saúdo cordialmente todos os bispos da América Latina e do Caribe, reunidos em espírito colegial para discernirem juntos os desafios que o tempo presente apresenta à Igreja na América Latina, e para buscarem, em comunhão afetiva e efetiva, iniciativas pastorais que levem a soluções segundo os critérios da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério.

Uno-me à ação de graças ao senhor pela celebração desta feliz efeméride, que nos recorda como o Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho é um sinal de colegialidade, assim como um órgão de contato, colaboração e serviço das Conferências Episcopais da América Latina na tarefa da evangelização e da atenção pastoral ao santo povo fiel de Deus que peregrina nesse amado continente. Na atual conjuntura histórica, em que um grande número de homens e mulheres sofre tribulações e pobreza causadas pelas contínuas crises em escala continental e mundial, temos urgente necessidade de recordar que é o Ressuscitado, presente em nosso meio, quem protege e guia a Igreja, reacendendo nela a esperança por meio do amor que “foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5), suplicando ardentemente a Ele que fortaleça a Igreja em sua missão de ir ao encontro de tantos irmãos e irmãs, para anunciar-lhes a mensagem de salvação de Cristo Jesus e torná-los participantes da alegria que nasce do encontro pessoal com Ele.

Agradecendo ao CELAM pelo serviço de animação missionária que realiza nessas terras latino-americanas, peço-lhes que rezem ao Bom Pastor por mim, para que eu seja sempre fiel ao ministério em favor da Igreja Universal que Ele quis confiar-me. Ao mesmo tempo, invocando a constante proteção de Nossa Senhora de Guadalupe, concedo de coração a Bênção Apostólica, como penhor de abundantes bens celestes.

LEÃO P.P. XIV

DIAGNÓSTICOS DAS REALIDADES LOCAIS

Dentre as atividades, os participantes foram convidados a compartilhar os diagnósticos e preocupações relativas às realidades locais.

Um dos destaques das discussões foi a fala de Dom Ricardo Hoepers, Bispo Auxiliar de Brasília (DF) e Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Dom Ricardo apresentou um panorama da situação atual do Brasil, marcada, segundo ele, por “profundas transformações sociais, culturais e eclesiásticas”; e ressaltou que o País enfrenta um contexto de insegurança e incerteza: “A maior preocupação dos bispos do Brasil é a crise futura. Enfrentamos um tempo que fragiliza a capacidade de projetar a vida com um horizonte amplo”.

O Prelado destacou ainda a tensão nas estruturas democráticas, o aumento da violência — com ênfase no feminicídio e na atuação de facções criminosas — e a crescente crise socioambiental, evidenciada por desastres climáticos recentes, como os que atingiram Porto Alegre (RS) e outras localidades da Região Sul.

No campo eclesial, o Bispo apontou sinais de desesperança e criticou uma pastoral ainda voltada à conservação de costumes, sem responder adequadamente às demandas de uma sociedade plural. “A individualização da fé enfraquece a dimensão comunitária e missionária”, alertou. Mencionou o risco de polarização nas propostas pastorais, que, se não forem abertas ao diálogo, podem fragmentar ainda mais o tecido eclesial.

Apesar das dificuldades, Dom Ricardo apresentou os sinais positivos, como iniciativas de escuta, criatividade pastoral e presença solidária da Igreja nas periferias. Para ele, esses movimentos apontam caminhos de esperança e renovação, em consonância ao Ano Jubilar.

O SÍNODO DAS SINODALIDADES NA AMÉRICA LATINA

Na manhã da quarta-feira, 28, os participantes da Assembleia refletiram sobre a recepção do Sínodo sobre a Igreja sinodal, cuja última sessão foi realizada em 2024. Por videoconferência, o secretário adjunto do Sínodo dos Bispos, Dom Luís Marín de San Martín, deu indicações sobre a fase de implementação da Assembleia Sinodal, vivida pela Igreja atualmente.

O secretário tomou como base de sua partilha a constituição apostólica Episcopalis Communio, do Papa Francisco, e explicou que a fase de implementação é essencialmente prática, na qual as dioceses recebem os resultados do Sínodo. Elas devem, assim, “definir e aplicar as conclusões do sínodo na vida da igreja local”.

O ponto de partida e de chegada da implementação, recordou Luís Marin, é o povo de Deus, e os organismos de participação “devem existir em todas as dioceses e ter funcionamento”. Segundo ele, a “sinodalidade não é um fim em si mesmo, mas aponta para a missão”.

“A sinodalidade é um caminho de renovação espiritual dos indivíduos, das comunidades, da Igreja” motivado pelo Papa Francisco e agora pelo Papa Leão XIV. Também é um caminho “de reforma estrutural”, afirmou. “Temos de tomar decisões para mudar estruturas, que são um meio, e, se não servem, se muda”.

Dom Luís Marin motivou os participantes a superarem o perigo da indefinição, que é observado em alguns lugares, e a não apenas falar da sinodalidade, “mas viver a sinodalidade”.

Uma das indicações práticas para a aplicação das decisões do Sínodo compartilhadas é a sugestão de integrar a colaboração entre os organismos continentais, ajudando outros continentes e enriquecer-se com as contribuições a partir das outras realidades, o que o Celam pode contribuir com a experiência.

As reflexões continuaram com o diretor do Centro de Formação do Celam (Cebitepal), Rafael Luciani, que tratou do processo de recepção do Sínodo na América Latina. Ele recordou a 37ª Assembleia do Celam, em 2019, como momento importante para promover um processo de renovação e reestruturação institucional do organismo continental, apontando para a sinodalidade.

A Comissão responsável pela recepção do Sínodo na América Latina e no Caribe partilhou o trabalho realizado, e os bispos seguiram dialogando sobre o trabalho de recepção do Sínodo e da Assembleia Eclesial em seus países.

Fonte: CNBB e Celam

(Edição de texto: Karen Eufrosino/O SÃO PAULO)

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