Em conversa com jornalistas sobre a atividade missionária da Igreja Católica, na segunda-feira, 7, o padre uruguaio Martin Lasarte, há vários anos missionário salesiano na África, disse que mais do que a perseguição física a maior ameaça ao Cristianismo hoje “é o crescimento do secularismo ocidental, que mata a fé”.
Segundo ele, “o maior perigo que enfrentamos… é a sociedade secularista sem a dimensão da transcendência”. Enquanto a fé cresce rapidamente em lugares nos quais os cristãos são perseguidos, ela declina no Ocidente, tradicionalmente católico. Todavia, embora se trate de um problema mais presente no Ocidente, o Padre observou que, por causa da globalização, ele logo se espalhará “por todo lugar” e essa tendência exigirá uma profunda reflexão missionária.
Padre Lasarte citou como exemplo a situação da Congregação Salesiana na Polônia, onde no passado entravam entre 50 e 60 homens no seminário a cada ano, enquanto hoje esse número gira em torno de 4 ou 5.
Também a América Latina foi atingida por uma onda de “impressionante secularização”, disse ele, deixando um vácuo religioso que tem sido cada vez mais preenchido por igrejas evangélicas. Padre Lasarte recordou que, quando a Igreja perde seu carisma de ensino, missão e difusão da fé, “ela perde sua identidade”.
Segundo ele, a piedade popular é uma grande oportunidade para a Igreja da América Latina recuperar seu zelo evangelizador, perdido no passado, enquanto que na Europa a esperança vem principalmente de missionários africanos e asiáticos, que trazem um frescor à fé que se perdeu no Velho Continente.
O Padre também reconheceu a gravidade da perseguição física aos cristãos. Segundo ele, são cerca de 250 mil perseguidos no mundo e há mais mártires hoje do que nos primeiros séculos do Cristianismo. Padre Lasarte falou de “um novo ecumenismo, o ecumenismo do martírio”, uma vez que os cristãos são normalmente assassinados sem qualquer distinção.
Ele alertou contra o crescimento de um sentimento nacionalista do hinduísmo na Índia, que está causando maior discriminação contra os cristãos e outras minorias, e também mencionou a China, como exemplo de país no qual a situação dos cristãos está se tornando mais precária.
Na China, não apenas os cristãos estão sendo perseguidos por sua fé, mas o comunismo levou a uma centralização do poder e à “absoluta submissão à autoridade política”, disse Lasarte. “Um cristão não pode colocar o governo em primeiro lugar”, acrescentou, recordando que não se pode aceitar – “Eu tenho que questionar” – a exigência da Associação Patriótica Católica Chinesa de que os fiéis coloquem em primeiro lugar o partido e, somente depois, sua fé. O Padre disse também que, segundo o que lhe disseram pessoas que estão atuando no País, “a China está aumentando o controle sobre a população”.
E acrescentou que na China também a secularização é um problema, por conta da urbanização. Nas grandes cidades há menos pontos de referência onde se possa praticar a fé e, por isso, muitas famílias se perdem. Quanto ao atual acordo entre o Vaticano e o governo chinês, que está prestes a ser renovado por mais dois anos, Padre Lasarte disse que é necessária uma cuidadosa consideração da questão.
Segundo ele, apesar da situação, o Cristianismo está crescendo na China. O protestantismo cresce mais rápido do que o catolicismo, mas tal crescimento também é positivo, pois “o Cristianismo enfatiza muito mais os direitos humanos e a dignidade da pessoa”. É irônico, observou o padre, que seja justamente nesses países de governos comunistas e outros regimes autoritários – como Laos – que a Igreja Católica esteja ficando mais forte.
“A vida cristã, a presença da Igreja, está crescendo muito na África e na Ásia, no leste e no sul”. “No Vietnã, que é comunista, a Igreja tem uma enorme vitalidade”. Segundo o Padre Lasarte, os cristãos nesse país são uma minoria “com uma forte identidade, o que deixa sua marca em uma sociedade pluralista”. Também em outros países, como Nepal e Bangladesh, nos quais os cristãos são uma pequena minoria, o Cristianismo cresce com velocidade.
Com relação ao medo de que a Europa, por conta da baixa taxa de natalidade, seja em breve dominada por muçulmanos, o Padre Lasarte insistiu que o principal problema não são os números em si, mas a morte dos cristãos para uma doença chamada secularismo, doença esta que vem de dentro, não de fora do Continente. Segundo ele, embora a existência de um estado laico não seja em si um problema, e possa até ser algo bom, o problema está “naquele acento que é quase combativo da Igreja”. Na Europa, “é necessária uma re-evangelização”.
O Padre Lasarte pediu por uma visão mais ampla que resulte de uma perspectiva multicultural: “quando existe uma comunidade missionária cristã que seja multicultural, tem-se uma comunidade mais rica”.
Martin Lasarte tem um diploma em Sagradas Escrituras e tem sido missionário na África há 25 anos. Em 2019, serviu como delegado papal no Sínodo dos Bispos para a Amazônia. No momento, se prepara para retornar à Angola, apesar das dificuldades provocadas pelo COVID-19 (as fronteiras do País ainda estão fechadas).
(Com informações de Crux Now)