O Papa Francisco iniciou em 2 de setembro a sua mais longa viagem apostólica nestes 11 anos de Pontificado, com destino à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Cingapura. Veja a seguir os principais destaques desta jornada até o fechamento desta edição do O SÃO PAULO. O retorno do Papa a Roma está previsto para sexta-feira, dia 13.
Indonésia: encorajamento à Igreja local
Embora seja um país em que quase 90% da população é muçulmana, a acolhida do Papa na Indonésia foi calorosa. Um dos seus primeiros compromissos foi um encontro com representantes da igreja local (foto acima), entre bispos, sacerdotes, diáconos, religiosas e catequistas. Em outra ocasião, ele também esteve com jovens e outras pessoas que recebem ajuda material e espiritual em obras de caridade da Igreja no país, entre cristãos e muçulmanos.
Na Catedral de Nossa Senhora da Assunção, em Jacarta, ele fez um grande elogio ao trabalho dos catequistas, dizendo que eles ajudam a “levar a Igreja adiante”.
“Os catequistas são aqueles que vão à frente”, disse ele, referindo-se ao fato de que, muitas vezes, os catequistas são as pessoas mais próximas dos catequizandos no processo de iniciação na fé.
Nesse forte encorajamento aos católicos do país, Francisco afirmou que os catequistas estão “na primeira linha” e são “a força da Igreja”. Lembrou, ainda, que na Igreja “ninguém é mais importante”, pois “cada um, com a sua função, faz crescer o povo de Deus”.
Na missa, no estádio “Gelora Bung Karno” (foto acima), ele convidou os indonésios a serem “peregrinos da esperança”.
Conectados na amizade
Um dos pontos altos da passagem do Papa pela Indonésia foi o encontro inter-religioso na Mesquita “Istiqlal”, que liderou juntamente com o Grande Imã de Jacarta, Nasaruddin Umar.
“Este lugar de culto e de oração é também uma grande casa para a humanidade”, disse o Papa no templo muçulmano. “Na história desta nação e na cultura que aqui se respira, a mesquita e outros lugares de culto são espaços de diálogo, de respeito mútuo, de convivência harmoniosa entre religiões e sensibilidades espirituais diferentes”, declarou.
“É um grande dom, que sois chamados a cultivar todos os dias, para que a experiência religiosa seja um ponto de referência em uma sociedade fraterna e pacífica e nunca um motivo de fechamento e confronto.”
Outro local peculiar marcou essa visita: o chamado “Túnel da Amizade”. Em Jacarta, a mesquita e a catedral católica estão na mesma avenida, frente a frente, e um túnel conecta uma à outra. A relação entre muçulmanos e cristãos é predominantemente amigável no país, que se orgulha de ser um defensor da liberdade religiosa.
Os dois líderes assinaram um acordo (foto ao lado), com o compromisso de unir forças para combater a violência de inspiração religiosa e proteger o meio ambiente, fazendo um apelo conjunto à amizade inter-religiosa e à proteção da “casa comum”, o planeta Terra.
Papua Nova Guiné: o chamado à alegria do Evangelho
Este país oceânico em que cerca de um terço da população é católica é conhecido em todo o mundo por ser um dos mais ricos culturalmente: tribos e grupos locais falam mais de 800 idiomas diferentes. Ali o Papa foi acolhido por muitas crianças, em várias ocasiões, ligadas a obras sociais e caritativas da Igreja, a maioria conduzida por missionários.
“A nossa alegria depende do amor!”, disse ele, em visita a uma escola de ensino técnico da Cáritas em Port Moresby, capital do país. “Dar amor, sempre, e acolher de braços abertos o amor que recebemos das pessoas que nos amam: é isso o mais bonito e o mais importante da vida, em qualquer condição e para todas as pessoas.”
Em outra cidade, Vanimo, o Papa foi ao encontro de uma Igreja missionária, que se faz presente para o povo do país por meio de escolas e hospitais, além das igrejas. “Cristo veio trazer a salvação para todos, a fim de que cada um possa florescer em toda a sua beleza para o bem comum”, afirmou ele.
No espírito de sua encíclica Laudato si’, Francisco disse que o povo de Papua Nova Guiné é “especialista em beleza” e sabe viver em harmonia com a Criação Divina. “Olhando ao redor, podemos ver como é doce o cenário da natureza. Mas, contemplando-nos a nós mesmos, damo-nos conta de que há um espetáculo ainda mais bonito: aquele que cresce em nós quando nos amamos mutuamente”, disse.
Timor-Leste: a periferia é o centro da Igreja
País de língua portuguesa, a população de Timor-Leste é em sua maioria católica. Trata-se de uma exceção na Ásia, como as Filipinas. “O Timor-Leste é um país na periferia do mundo”, disse o Papa Francisco, acrescentando que também ele vem da periferia, a Argentina. “Sabemos que, no coração de Cristo, as periferias da existência são o centro.”
“Gosto de dizer que aqueles que estão na periferia do mundo estão no centro do Evangelho”, declarou o Pontífice na Catedral da Imaculada Conceição, na capital Díli. No encontro com representantes da Igreja local, ele disse: “No Evangelho, as fronteiras são o centro, e uma Igreja que não consegue ir até as fronteiras e se esconde no centro é uma Igreja muito doente.”
Na missa campal em Taci Tolu, também na cidade de Díli, um mar de guarda-chuvas amarelos e brancos compôs o cenário. Foram 600 mil pessoas participando da celebração Eucarística presidida pelo Papa Francisco. Em sua homilia, ele elogiou o fato de que no país haja muitas crianças. “Desejo que continuem a ter muitos filhos: que o sorriso deste povo seja os seus filhos! Cuidem das suas crianças; mas cuidem também dos seus idosos, que são a memória desta terra”, disse.
Ter tantos jovens no país “é uma dádiva”, afirmou. Isso porque “a presença de tantos jovens e crianças renova constantemente a nossa energia e a nossa vida” e “acolhê-los, cuidar deles, e fazermo-nos pequenos diante de Deus e diante uns dos outros, são precisamente as atitudes que nos abrem à ação do Senhor. Fazendo-nos pequenos, permitimos o agir de Deus em nós”, completou o Pontífice.
Antes de partir para Cingapura, o Papa ainda teve um encontro com os jovens em Timor-Leste.