Na França, Papa destacará migrações, mudanças climáticas e a atuação das religiões para a paz

Francisco estará na cidade de Marselha, na sexta-feira, 22, e no sábado, 23, tendo como agenda principal a participação na 3a edição dos ‘Encontros Mediterrâneos’

Ao redor do extenso Mar Mediterrâneo – com uma área total próxima a 2,5 milhões de km2 – cerca de 30 países localizados na Europa, Ásia e no Norte da África compartilham alguns desafios comuns, como os impactos das mudanças climáticas em seus territórios e os números crescentes das migrações forçadas, especialmente a partir do continente africano.

Tais realidades, e a maneira como impactam no agir pastoral da Igreja, motivaram que em 2020 fosse realizada em Bari, na Itália, a primeira edição dos “Encontros Mediterrâneos”, organizada pela Conferência Episcopal Italiana, que voltou a promovê-los em 2022, em Florença, também na Itália.

Desde o domingo, 17, a 3a edição dos Encontros Mediterrâneos ocorre em Marselha, no sul da França. Cerca de 70 bispos católicos, representantes de outras religiões e igrejas cristãs, bem como jovens de diferentes confissões, membros de associações e movimentos dos países banhados pelo Mar Mediterrâneo participam de mesas-redondas, encontros de reflexão, momentos de oração e de apresentações culturais.

COM A PRESENÇA DO PAPA

A participação na 3a edição dos Encontros Mediterrâneos é o motivo principal da 44a viagem apostólica internacional do Papa Francisco, que na sexta-feira, 22, e no sábado, 23, estará em Marselha.

Foto: Vatican Media/Arquivo

Durante o Angelus, no domingo, 17, na Praça São Pedro, o Pontífice ressaltou que os Encontros Mediterrâneos são “uma bela iniciativa que se realiza em importantes cidades do Mediterrâneo, reunindo líderes eclesiais e civis para promover percursos de paz, colaboração e integração em torno do mare nostrum, com especial atenção ao fenômeno migratório que não é um desafio fácil, como vemos também pelas notícias dos últimos dias, mas que deve ser enfrentado em conjunto, pois é essencial para o futuro de todos, que só será próspero se for construído sobre a fraternidade, colocando em primeiro lugar a dignidade humana, as pessoas concretas, especialmente as mais necessitadas.”

Em coletiva de imprensa, na terça-feira, dia 19, Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, reforçou que o foco da viagem apostólica será o fenômeno da migração e a dimensão ecumênica e inter-religiosa, além das mudanças climáticas que têm afetado a bacia do Mar Mediterrâneo. “Certamente o Mediterrâneo é um lugar onde as mudanças climáticas que ocorreram nos últimos anos são fortemente sentidas”, observou.

ATENÇÃO AOS MIGRANTES E REFUGIADOS

Poucas horas após aterrissar em Marselha, na sexta-feira, 22, Francisco irá conduzir um momento de oração na Basílica de “Notre Dame de la Garde” – Nossa Senhora da Guarda –, após o qual participará de um recolhimento com líderes de outras religiões e de igrejas cristãs nas proximidades do Memorial dedicado aos marinheiros e aos migrantes desaparecidos no mar.

Conforme declarou em coletiva de imprensa o Cardeal Jean-Marc Aveline, Arcebispo de Marselha, o Papa também deverá se encontrar com alguns migrantes que chegam à França pela chamada “via alpina”, situada nos Altos Alpes, na região de Provença-Alpes-Costa Azul, a mais alta cidade francesa pela qual, todos os dias, centenas de migrantes conseguem ingressar no continente europeu. Eles colocam a própria vida em risco em trilhas perigosas e sob altas temperaturas, para tentar fugir das barreiras migratórias.

O encontro não está na agenda dos compromissos oficiais do Papa em Marselha (leia detalhes abaixo), porém, por mais de uma vez já foi confirmado pelo Cardeal Aveline de que ocorrerá na sexta-feira, 22, dois dias antes da celebração do 109o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, em 24 de setembro, este ano com o tema “Livres para escolher em migrar ou ficar”.

Em sua mensagem para a data, o Papa lembra que “os fluxos migratórios dos nossos dias são expressão de um fenômeno complexo e articulado, cuja compreensão exige uma análise cuidadosa de todos os aspectos que caracterizam as diferentes etapas da experiência migratória, desde a partida até à chegada, incluindo um possível regresso”.

AS RAÍZES CRISTÃS DA EUROPA

Basílica de “Notre Dame de la Garde”

Na coletiva de imprensa do dia 19, Matteo Bruni lembrou que, possivelmente, o Papa fará alusões as situações de guerra que permanecem no mundo, incluindo o conflito entre a Ucrânia e a Rússia, desde fevereiro de 2022; também deve recordar as raízes cristãs do continente europeu. “Provavelmente, o Papa irá dirigir um pensamento a toda a França também se referindo à vida de seus muitos santos. Palavras que poderiam ter uma repercussão especial para toda a Europa”, ressaltou.

Em entrevista ao Vatican News, em julho, logo após o anúncio da viagem do Pontífice a Marselha, o Cardeal Aveline assegurou que a presença do Santo Padre será “uma grande alegria e um grande orgulho para os cristãos de Marselha e para toda a população, de todas as confissões”.

O Arcebispo também lembrou que Marselha é uma cidade “multicultural e multirreligiosa, com potencial e energia transbordante, mas que enfrenta grandes dificuldades: a precariedade das condições de vida de grande parte da população, os estragos mortais do narcotráfico, os problemas recorrentes do desemprego, insegurança e a falta de acesso à educação. Entretanto, este grande porto mediterrâneo, que ao longo de sua história tem acolhido aqueles que deixam seus países por causa da guerra ou da pobreza, também sabe encontrar em sua diversificada população os recursos de coragem, solidariedade e esperança que todos necessitam para superar as dificuldades da vida”.

Ainda de acordo com o Cardeal Aveline, a partir de Marselha, o Papa “poderá se dirigir a toda a França e aos povos da Europa e do Mediterrâneo”. O Arcebispo acredita que esta visita irá animar a todos os bispos e estimular que desenvolvam uma reflexão teológica baseada nas questões específicas enfrentadas pelos países da bacia do Mediterrâneo.

Também ao Vatican News, o Padre Oliver Spinosa, Reitor da Basílica de Notre-Dame de la Garde – santuário mariano construído a 160 metros acima do nível do mar, no qual o Papa Francisco estará na sexta-feira, 22 – disse ter a certeza de que a Virgem Maria protegerá esta edição dos Encontros Mediterrâneos.

“Temos necessidade de ser ‘guardados’ de tudo que nos desumaniza, de tudo que nos impede de amar a Deus e aos nossos irmãos. Proteção não significa que nada nos aconteça, mas, sim, que no meio das crises somos guardados, protegidos e confirmados na fé. É precisamente isso que o Sucessor de Pedro vem fazer. Confirmar-nos na fé e no desejo de estar atentos a cada ser humano”, afirmou o Sacerdote.

As atenções do Santo Padre com as questões que envolvem a realidade pastoral e a dignidade humana no Mar Mediterrâneo não são uma novidade. Desde o início de seu pontificado, Francisco já esteve na região, nas passagens por Lampedusa, Tirana, Sarajevo, Lesbos, Cairo, Jerusalém, Chipre, Rabat, Nápoles e Malta.

(Com informações do Vatican News – em português, francês e espanhol)

PROGRAMAÇÃO DA VIAGEM DO PAPA FRANCISCO A MARSELHA
*Conforme o horário de Brasília
 
Sexta-feira, 22

9h35 – Partida de Roma para Marselha
11h15 – Chegada e recepção em Marselha
12h15 – Oração mariana com o clero na Basílica de “Notre Dame de la Garde”
13h – Momento de recolhimento com os Líderes Religiosos nas proximidades do Memorial dedicado aos marinheiros e aos migrantes desaparecidos no mar
 
Sábado, 23
4h – Encontro privado com algumas pessoas em situação de necessidade econômica na Casa das Missionárias da Caridade
5h – Sessão conclusiva dos “Encontros Mediterâneos” no “Palais du Pharo”
6h30 – Encontro com o Presidente da República no “Palais du Pharo”
11h15 – Missa no Estádio “Estádio Vélodrome”
13h45 – Cerimônia de despedida no Aeroporto Internacional de Marselha 
15h50 – Chegada ao Aeroporto Internacional de Roma
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