Padre indígena defensor dos direitos humanos é assassinado no México

O Padre Marcelo Pérez Péres foi morto no domingo, 20, em San Cristóbal de las Casas, logo após celebrar a missa

Conhecido em Chiapas por seu trabalho incansável e corajoso pela paz e pelos direitos dos povos indígenas, o Padre Marcelo Pérez Pérez, sacerdote indígena do grupo étnico Tsotsil, foi assassinado em San Cristóbal de las Casas, logo após celebrar a missa, no domingo, 20.

O ataque ocorreu quando o padre estava dirigindo seu veículo e foi interceptado por dois homens armados em uma motocicleta. De acordo com a mídia local, ele foi atingido por pelo menos oito tiros e morreu instantaneamente. Recentemente, ele alertara que havia um preço sobre sua cabeça, colocado pelo crime organizado.

Ordenado em 2002, o trabalho pastoral do Padre foi profundamente marcado por seu compromisso com as comunidades mais vulneráveis, especialmente em áreas afetadas pela violência, pelo crime e pela exploração. Ao longo de seu ministério, Padre Marcelo mediou conflitos sociais complexos, particularmente em Pantelhó e Simojovel, outra área assolada pela violência decorrente do tráfico de drogas e da exploração ilegal de âmbar.

O Sacerdote chegou a liderar marchas e movimentos sociais para denunciar o tráfico de pessoas, o tráfico de armas e a exploração de recursos naturais. Foi ainda um dos fundadores da Rede eclesial ecológica mesoamericana em 2019.

CONSTERNAÇÃO E SOLIDARIEDADE

Um misto de tristeza, indignação e solidariedade com os familiares do sacerdote e com a Diocese de San Cristóbal de las Casas foram expressos nas horas que se sucederam ao fato.

“Ele foi um dos primeiros padres indígenas que ordenei como pároco. Sempre esteve comprometido com a justiça e a paz entre os povos originários. Nunca se envolveu em política partidária, mas sempre lutou para que os valores do Reino de Deus fossem vividos nas comunidades. Esses são os valores da verdade e da vida, da santidade e da graça, da justiça, do amor e da paz”, disse o Cardeal Felipe Arizmendi, Bispo Emérito de San Cristóbal de Las Casas. “Era muito concentrado em sua vocação, muito orante, muito próximo do tabernáculo e muito comprometido com seu povo”, prosseguiu.

A presidência da Conferência Episcopal Mexicana, em uma nota, ressalta que o assassinato do Padre Marcelo Pérez Pérez, “não apenas priva a comunidade de um pastor dedicado ao seu povo, mas também silencia uma voz profética que lutou incansavelmente pela paz com verdade e justiça na região do Chiapas. Marcelo Pérez foi um exemplo vivo de compromisso sacerdotal com os mais necessitados e vulneráveis da sociedade”.

Os bispos pedem que as autoridades realizem “uma investigação exaustiva e transparente que esclareça esse crime e faça justiça ao Padre Marcelo Pérez”, implementem “medidas efetivas para garantir a segurança dos sacerdotes e agentes pastorais” e redobrem “seus esforços para combater a violência e a impunidade que assolam a região do Chiapas” e o país em geral.

Também o Conselho Episcopal Latino-americano e Caribenho (Celam), em mensagem dirigida a Dom Rodrigo Aguilar, Arcebispo de San Cristóbal de las Casas, manifestou “consternação e dor” pelo assassinato do sacerdote”, recordou que o presbítero foi “incansável em buscar a paz e a justiça entre seu povo, fruto de seu fiel compromisso com o Evangelho e de sua total dedicação a Cristo presente entre os que mais sofrem”; e ao manifestar proximidade aos familiares do sacerdote e à comunidade de fiéis disse renovar “a esperança que este grão de trigo que hoje morre dará frutos abundantes no Senhor”.

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA DO CELAM

Também em comunicado, a Companhia de Jesus do México destacou o compromisso com a justiça e a solidariedade que caracterizou o Padre Pérez e condenou veementemente “qualquer tentativa de minimizar esses eventos como casos isolados”. Ressaltou, ainda, que o crime organizado semeia medo e dor em várias regiões do México e que a violência no Chiapas reflete um problema estrutural que exige uma resposta integral e urgente do Estado: “Apelamos urgentemente às autoridades para que respondam com firmeza e restaurem a ordem e o estado de direito”.

(Com informações de Vatican News e Celam)

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