Papa: ‘Às vezes na vida, é preciso sujar as mãos para não sujar o coração’

Pontífice encontrou-se na manhã da quinta-feira, 3, com jovens que participam da iniciativa Scholas Occurentes, na cidade de Cascais, próxima a Lisboa

Ao fim da manhã da quinta-feira, 3, no segundo dia de sua viagem apostólica a Portugal, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, o Papa Francisco foi a sede da Scholas Ocurrentes em Cascais, a oeste de Lisboa, onde deu a “pincelada final” em uma pintura em estilo mural feita por mais de 2 mil pessoas como parte da ação “Vida entre mundos”, liderado pela Scholas Ocurrentes com vistas a proporcionar o encontro entre pessoas em diferentes partes do planeta.

Iniciadas pelo Papa Francisco quando ainda era Arcebispo de Buenos Aires, na Argentina, Scholas Ocurrentes, atualmente uma fundação pontifícia, é um movimento educacional que une arte, lazer, esporte e tecnologia em busca do desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e jovens.

Como definiu o Papa na ocasião, as Scholas Ocurrentes possibilitam que cada um se sinta interpretado, respeitosamente e de maneira dinâmica, “faz mover para que as coisas aconteçam”, mostram o caminho adiante. “As Scholas são um encontro que se faz caminhando, juntos, independemente do país que você é, da religião a que pertença”, enfatizou.

RECEPÇÃO

Na chegada à sede da instituição, Francisco foi saudado pelo presidente da Scholas Ocurrentes, José Maria del Corral, que recordou que por muitas vezes o Papa já disse que a educação atual exige voltar às origens para integrar a linguagem do coração de cada jovem com a mente e as mãos.

“Sabemos que uma educação que não gera sentido, acaba por gerar violência, guerra e exclusão. Esta sede da Scholas é testemunho vivo do Pacto Educativo que promoves em todo o mundo, já que aqui em Portugal e em Cascais, o governo, as empresas, os diferentes religiosos e as organizações sociais trabalham de em comunhão em resposta às problemáticas que os jovens apresentam em cada encontro da Scholas Cidadania”, disse José Maria del Corral.

Após ouvir o testemunho de três jovens de diferentes religiões que participam das Scholas Ocurrentes – Paulo da Silva, evangélico; Mariana Barradas, católica; e Aladje Dabo, muçulmano – Francisco soube detalhes sobre o cojunto de 30 composições que formam o mural de 3,5 km, pintado ao longo de dois meses por jovens presos, crianças de orfanatos, idosos, pessoas com deficiência, refugiados, funcionários do governo, pessoas hospitalizadas, empresários, pessoas sem teto, estudantes de escolas públicas e privadas, entre outros.

Francisco recebeu de uma jovem um dos pinceis utilizados para a pintura, e da direção da Scholas Ocurrentes um pincel chamado de “arma virtual para a paz”, com o qual deu a última pincelada no projeto “Vida entre mundos”, no qual jovens se encontraram para compartilhar suas dores e sonhos e criaram uma obra de arte imersiva, ou seja, tornaram real a “sala de aula sem paredes”. A iniciativa busca incarnar a visão pedagógica do Papa Francisco, destacando a importância do encontro entre as pessoas, entre as pessoas e o mundo, entre o mundo e a vida, no qual a vida recupera seu significado.

DO CAOS AO COSMOS

Francisco teve uma conversa descontraída com os jovens e respondeu a algumas perguntas, uma delas sobre as crises da humanidade e os caminhos para superá-las:  “Cabe a nós escolhermos entre uma vida sem crises ou uma vida asséptica”, lembrou.  “Temos que assumir as crises e resolvê-las. Nas crises é preciso caminhar, é preciso caminhar juntos, para enfrentar as crises juntos”.

Ao saber por uma das jovens que um dos sentidos do mural era expressar o caos vivenciado pelas pessoas, o Papa falou sobre as origens da palavra caos e disse que cabe ao ser humano, a exemplo do Criador, “fazer do caos um cosmos; a partir daquilo que não tem sentido, que está desordenado, criar um cosmos convidativo”.

“Existem momentos de crise que são caóticos, e todos nós vivemos estes momentos obscuros”, apontou. “Nunca duvidem disto: transformar o caos num cosmos”, prosseguiu, lembrando que nem se deve permanecer em um nível de vida caótico, o que é sinal de uma vida fracassada, nem estar acomodado em uma vida sem caos, com tudo perfeito, mas sem sabor: “A vida que se transforma num cosmos vai adiante, dá o seu fruto”, enfatizou.

O BOM SAMARITANO

Por fim, o Papa presentou a Scholas Ocurrentes de Cascais com um quadro do bom samaritano: “Nenhum de nós está isento de ser um Bom Samaritano”, lembrou, e após explicar os detalhes da obra e da parábola do Bom Samaritano, indagou aos jovens: “Onde eu estou? Estou ajudando as pessoas? Eu sujo as minhas mãos na vida pelo outro? Às vezes na vida, é preciso sujar as mãos para não sujar o coração”, destacou.

Francisco concluiu sua passagem pela sede da Scholas Ocurrentes regando uma plantação de oliveira da paz, feita pelos jovens.

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