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Papa e bispos pedem a lideranças globais ações efetivas contra as mudanças climáticas

ADN-Celam

A 30ª sessão da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Na­ções Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) aproxima-se de seu término, na sexta-feira, 21, em Belém (PA), e cresce a expectativa de que se chegue a consen­sos sobre a Agenda de Ação da COP30.

Na segunda-feira, 17, André Corrêa do Lago, presidente da COP30, enviou carta aos representantes das nações, pe­dindo que se dê celeridade ao debate de alguns dos itens da Agenda, entre os quais as definições sobre o Objetivo Glo­bal de Adaptação (GGA), o programa de trabalho sobre transição justa, os planos nacionais de adaptação, caminhos efe­tivos para o financiamento climático, o programa de trabalho sobre mitigação, os assuntos relacionados à Comissão Permanente de Finanças, e a compo­sição e gestão de quatro fundos: Verde para o Clima; Global para o Meio Am­biente; para Resposta a Perdas e Danos; e de Adaptação; além do programa de Implementação de Tecnologia e assuntos relacionados ao Artigo 13 do Acordo de Paris, que trata dos relatórios de transpa­rência das ações climáticas.

LEÃO XIV: OS CLAMORES DA CRIAÇÃO

Na segunda-feira, 17, o Papa Leão XIV enviou mensagem de vídeo às Igre­jas particulares do Sul Global reunidas no Museu das Amazônias, em Belém, na qual pediu aos países que não fiquem apenas nas “palavras e aspirações”, mas que apresentem “ações concretas”, peran­te os notórios impactos das mudanças climáticas no planeta: “A criação clama em enchentes, secas, tormentas e um ca­lor implacável. Uma de cada três pessoas vive em grande vulnerabilidade em con­sequência dessas mudanças. Para elas, a mudança climática não é uma ameaça distante. Ignorar essas pessoas é negar nossa humanidade compartilhada. Ain­da há tempo para manter o aumento da temperatura global abaixo de 1,5 °C, mas a janela está se fechando”.

Leão XIV destacou que o Acordo de Paris, de 2015, “tem impulsionado um progresso real e continua sendo nossa ferramenta mais poderosa para proteger as pessoas e o planeta”, mas que ainda está falhando em seus objetivos em razão da “vontade política de alguns”.

PREOCUPAÇÕES EM TODO O PLANETA

No dia 12, foi realizado em Belém o simpósio internacional “Igreja Católica na COP30”, para refletir sobre os cami­nhos da ecologia integral, da justiça cli­mática e da conversão ecológica.

Na ocasião, Dom Giambatistta Di­quattro, Núncio Apostólico no Brasil, re­cordou a preocupação do falecido Papa Francisco com a mudança climática glo­bal, a qual não pode ser entendida apenas como uma questão técnica ou econômi­ca, mas em uma abordagem ecológica e social que ouça tanto o clamor da Terra quanto o clamor dos pobres.

O Cardeal Jaime Spengler, Presiden­te da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episco­pal Latino-Americano e Caribenho (Ce­lam), comentou que os povos indígenas e ribeirinhos devem ser ouvidos quanto às soluções para a atual crise ambiental. No mesmo dia, em coletiva de impren­sa, o também Arcebispo de Porto Alegre (RS) lembrou que a Igreja na Améri­ca Latina e no Brasil tem desenvolvido ações com vistas à maior conscientiza­ção comunitária em torno dos desafios e das decisões relacionadas às mudanças climáticas, como foi o caso da Campa­nha da Fraternidade deste ano, que tra­tou sobre a Ecologia Integral.

Já o Cardeal Filipe Neri Ferrão, Pre­sidente das Conferências Episcopais da Ásia, lembrou que aquele continente tem sido um dos mais afetados pelas mudan­ças climáticas globais. No debate “Cons­truir a justiça climática no Sul Global”, na segunda-feira, 17, ele destacou que para se alcançar a justiça climática há cinco ações indispensáveis: distribuir de ma­neira equitativa os encargos e benefícios da ação climática, em particular o apoio financeiro; financiar as comunidades afetadas pelas mudanças climáticas; re­conhecer as vulnerabilidades específicas, o contexto histórico e os conhecimentos ecológicos tradicionais das comunidades do Sul Global; apoiar a resiliência climá­tica e a aplicação da justiça; e reconhecer a liderança das mulheres para a constru­ção de uma resposta eficaz de resiliência.

O Cardeal Leonardo Steiner, Arcebis­po de Manaus (AM) e Presidente do Re­gional Norte 1 da CNBB, lamentou, em coletiva de imprensa, no dia 12, que o que foi aprovado em COPs passadas pouco tenha sido colocado em prática. Ele fez votos de que a humanidade consiga ter um olhar renovado para sua relação com o meio ambiente, passando de uma lógi­ca de domínio e depredação em vista de lucros, para um despertar à “necessidade urgente do cuidado com a nossa Casa Co­mum – ou como diria o Papa Francisco – a necessidade de uma conversão ecoló­gica. Nós não podemos pensar no Reino de Deus sem levarmos em consideração a Ecologia Integral”.

Já o Cardeal Fridolin Ambongo, Presidente do Simpósio das Conferên­cias Episcopais da África e Madagascar, recordou no já referido simpósio sobre o processo de empobrecimento, explo­ração, roubo e saque pelo qual passou o continente africano, e que resultou na desertificação de alguns territórios e em inundações em outros. Por sua vez, Dom Ryan Jiménez, Presidente da Conferên­cia Episcopal do Pacífico, lembrou que as ilhas da Oceania correm o risco de serem submersas em razão do aquecimento global, e que a mineração no fundo do mar está causando ainda mais destrui­ção: “Nossas comunidades já sentem os impactos das mudanças climáticas. Tufões e aquecimento do mar são duas ameaças reais”.

Na quinta-feira, 13, na Zona Azul da COP30, a Igreja Católica na América La­tina, Ásia, África e Oceania apresentou o documento “Um chamado por justi­ça climática e a casa comum: conversão ecológica, transformação e resistência às falsas soluções”, no qual enfatiza a urgên­cia de ações concretas das nações para limitar o aquecimento global a 1,5ºC.

(Com informações da CNBB, Celam, Vatican News e Agência Brasil)

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