Com estruturas de competição que podem ser desmontadas ou reutilizadas, com alto índice de materiais recicláveis e priorização de energia limpa, os organizadores dos Jogos de Paris 2024, megaevento esportivo que começa na sexta-feira, 26, se propõem a realizar a olimpíada mais sustentável de todos os tempos.
A perspectiva é de que as emissões de gases de efeito estufa em Paris 2024cheguem, no máximo, à metade dos 3,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono de Londres 2012. Para tal, muitas estratégias estão sendo adotadas, como apresentamos a seguir.
CADEIRAS E PÓDIOS FEITOS COM PLÁSTICO RECICLÁVEL
Os cerca de 10,5 mil atletas olímpicos e os 4,4 mil paralímpicos que alcançarem a glória de uma medalha em Paris 2024 irão recebê-la em pódios cujo design lembra a parte inferior da Torre Eiffel, a cor cinza remete aos telhados da capital francesa e a composição é 100% feita com plástico reciclado.
A partir de 18 toneladas de resíduos plásticos, foram fabricados 685 módulos para a montagem de 63 pódios, ajustáveis em seus tamanhos para as premiações de esportes individuais, de duplas ou coletivos.
A transformação dos resíduos em pódios coube à startup francesa Le Pavé. A coleta do plástico foi feita por 50 cooperativas de reciclagem. Além disso, estudantes de 50 escolas de ensino fundamental arrecadaram 1 milhão de tampinhas de garrafas, as quais serviram de matéria-prima para as cadeiras de algumas arquibancadas. Ao longo deste processo, crianças e jovens puderam saber mais sobre reciclagem e a urgência de se reduzir a emissão de gases de efeito estufa.
Ao todo, a Le Pavé produziu 11 mil cadeiras com os plásticos reciclados – especialmente embalagens vazias de xampu, termoplásticos usados pelas indústrias frigoríficas e tampas de garrafa PET –, das quais 8 mil foram destinadas à Arena Multiuso Porte de La Chapelle, que receberá as provas de badminton e de ginástica rítmica, e outras 3 mil ao Centro Aquático Olímpico.
Estas duas estruturas têm outros traços de sustentabilidade: a frente da Arena Multiuso é revestida com alumínio reciclável; e no Centro Aquático, cerca de 90% da energia é renovável ou recuperada. Em seu telhado, há mais de 4,6 mil m² de painéis fotovoltaicos. Em outras arenas de disputas, painéis como estes ajudarão a substituir os tradicionais geradores movidos a diesel.
NAS MEDALHAS, METAIS DA TORRE EIFFEL
Quem for ao pódio nos Jogos de Paris também levará um pedaço da Torre Eiffel consigo, isto porque ao centro das medalhas de ouro, prata e bronze há um hexágono metálico feito a partir do ferro utilizado na construção deste ícone da capital francesa na década de 1890.
“Ao colocar fragmentos da Torre Eiffel no centro de suas medalhas, Paris 2024 espera deixar aos atletas uma memória inesquecível dos Jogos, de Paris e da França”, justificou o Comitê Organizador dos Jogos, na apresentação das medalhas em fevereiro deste ano.
As medalhas foram confeccionadas pela companhia francesa Chaumet, especializada na produção de jóias e relógios, que obteve autorização para utilizar pedaços de ferro guardados das sobras da construção da Torre Eiffel.
UMA VILA ALTAMENTE SUSTENTÁVEL
A Vila Olímpica de Paris 2024 certamente é a estrutura que melhor representa os propósitos de sustentabilidade destes Jogos.
Nenhum de seus ambientes têm ar-condicionado instalado, ainda que algumas delegações como as do Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Países Baixos e Canadá tenham obtido autorização para levar aparelhos portáteis de climatização.
A refrigeração da Vila é feita por um sistema que bombeia a água do rio Sena para tubulações subterrâneas, aliada a fachadas que recebem pouca luz solar e à disposição dos 82 blocos de prédios que permite ampla circulação de correntes de vento. Toda esta estrutura sustentável garantirá que a temperatura da Vila seja pelo menos 6°C abaixo do que marcarem os termômetros fora de seu perímetro.
Dentro dos 7,2 mil quartos, todas as camas são 100% recicláveis, feitas de um papelão altamente resistente, capaz de suportar até 200kg, com dimensões ajustáveis. Após a olimpíada e a paralimpíada, os 16 mil colchões da Vila serão doados a instituições francesas.
Ao longo da construção da Vila Olímpica, 9 mil árvores foram plantadas, especialmente por estudantes franceses.
Veículos movidos a combustível fóssil não terão vez na Vila Olímpica. Os atletas contarão com 55 ônibus para se deslocar aos locais de treino e de competição. Haverá ainda veículos 100% elétricos e bicicletas, estas fornecidas pelos organizadores e pelas delegações dos países.
O Comitê Olímpico do Brasil (COB), por exemplo, enviou a Paris 70 bicicletas para uso dos atletas, treinadores e oficiais tanto na Vila Olímpica quanto em outras cidades nas quais os esportistas fazem períodos de aclimatação antes do início da olimpíada. O COB também irá distribuir squeezes e disponibilizar bebedouros para que os atletas não tenham que usar copos descartáveis de água.
Por fim, a água utilizada pelas delegações é tratada em um centro próprio da Vila Olímpica, e no Rio Sena, que teve sua completa despoluição concluída e certificada neste mês, está instalada uma central de energia solar de 400m², flutuante e desmontável, capaz de produzir energia equivalente ao consumo de 94 apartamentos da Vila.
E quando os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Paris 2024 acabarem, o que se fará com toda esta estrutura? De acordo com a Prefeitura de Paris, a Vila Olímpica se tornará um bairro com 2,5 mil moradias, para 6 mil habitantes, contando ainda com duas escolas, um dormitório estudantil, um hotel, lojas, escritórios e um parque público de 30 mil m², legados visíveis dos Jogos “mais verdes” de todos os tempos.
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA OS JOGOS DE PARIS 2024
O esporte é uma linguagem universal que transcende fronteiras, línguas, raças, nacionalidades e religiões; tem a capacidade de unir as pessoas, de incentivar o diálogo e a aceitação mútua; estimula a superação de si mesmo, forma o espírito de sacrifício, promove a lealdade nas relações interpessoais; convida as pessoas a reconhecerem os seus próprios limites e o valor dos outros. Os Jogos Olímpicos, se continuarem a ser verdadeiros “jogos”, podem, portanto, ser um lugar excepcional de encontro entre povos, mesmo os mais hostis. Os cinco anéis interligados representam o espírito de fraternidade que deve caracterizar o evento olímpico e a competição esportiva em geral.
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