Regime ditatorial da Nicarágua condena bispo católico a 26 anos de prisão

Dom Rolando José Álvarez, Bispo de Matagalpa, foi condenado por um tribunal nicaraguense depois de se recusar a deixar o país junto com outros sacerdotes e opositores à ditadura de Daniel Ortega

Foto: Vatican Media

Dom Rolando José Álvarez Lagos, Bispo da Diocese de Matagalpa e Administrador Apostólico da Diocese de Estelí, ambas na Nicarágua, foi condenado por um tribunal do país a 26 anos de prisão por ter se recusado a deixar o solo nicaraguense, após haver a determinação para que fosse deportado com os outras 222 pessoas, entre as quais padres, seminaristas, opositores políticos ou simples críticos do regime ditatorial de Daniel Ortega.

Uma sentença lida por um juiz da Corte de apelação definiu Dom Álvarez, 56 anos, como um “um traidor da pátria”, condenando-o a permanecer na prisão até 2049.

O Bispo de Matagalpa é acusado de “conspiração para minar a integridade nacional e propagação de falsas notícias por meio das tecnologias da informação e da comunicação em detrimento do Estado e da sociedade nicaraguense”.

O julgamento estava previsto para começar em 15 de fevereiro, mas o veredito veio primeiro. Além do bispo, dois outros sacerdotes, Manuel García e José Urbina, do clero da Diocese de Granada, ainda estão detidos em prisões nicaraguenses.

SACERDOTES EXPULSOS COMO “TRAIDORES À PÁTRIA

Outros cinco padres, um diácono e dois seminaristas acusados de “conspiração” e condenados a dez anos de prisão já chegaram aos Estados Unidos, onde devem receber uma autorização de residência por um período inicial de dois anos.

As oito pessoas estão entre aquelas para as quais o Tribunal de Apelação de Manágua ordenou “a expulsão imediata e efetiva por cometer atos que minam a independência, soberania e autodeterminação do povo, por incitar a violência, o terrorismo e a desestabilização econômica”.

Os expulsos foram declarados “traidores da pátria”, tiveram seus “direitos de cidadania suspensos por toda a vida” e foram privados de sua cidadania nicaraguense.

AS ACUSAÇÕES DE ORTEGA

Dom Rolando Álvarez com os fiéis (foto: Diocese de Matagalpa)

O presidente Daniel Ortega falou sobre a condenação de Dom Álvarez na televisão nacional, chamando a posição do bispo de “absurda” e afirmando que ele está preso por “terrorismo”.

A polícia havia prendido Dom Álvarez em agosto passado e os tribunais o acusaram sucessivamente de “conspiração” e de divulgar “falsas notícias”.

O Cardeal Jean-Claude Hollerich denunciou a falsidade das acusações em uma carta datada de 6 de fevereiro e dirigida a Dom Carlos Enrique Herrera Gutiérrez, Presidente da Conferência Episcopal Nicaraguense.

Na missiva, o Cardeal, em sua qualidade de presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia, tomou uma posição sobre a situação na Nicarágua, expressando a solidariedade dos bispos da União Europeia para com a Igreja católica no país centro-americano “que enfrenta um profundo sofrimento como resultado da perseguição do Estado”.

O Cardeal Hollerich denunciou o agravamento da situação com eventos recentes como “o fechamento de estações de rádio católicas, a obstrução do acesso às igrejas pela polícia e outros atos graves que perturbam a liberdade religiosa e a ordem social”.

DA PRISÃO DOMICILIAR AO CÁRCERE

Dom Álvarez é o primeiro bispo a ser preso e condenado desde que o presidente Daniel Ortega voltou ao poder na Nicarágua, em 2007.

Ele havia sido levado do palácio episcopal em Matagalpa na madrugada de 19 de agosto por policiais, juntamente com padres, seminaristas e leigos, após ter sido detido à força durante 15 dias na Cúria sob a acusação de tentar “organizar grupos violentos” com o “objetivo de desestabilizar o Estado nicaraguense e atacar as autoridades constitucionais”.

O Bispo foi, depois, transferido para sua residência particular em Manágua sob prisão domiciliar, mas agora foi transferido para uma prisão de segurança máxima.

Fonte: Vatican News

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Edgard
Edgard
1 ano atrás

Absurdo, este autoritarismo!
Lamentável!

Marcio Cavalcanti
Marcio Cavalcanti
1 ano atrás

Resta saber a opinião do “Santo Padre” sobre essa abominável condenação