
Os cristãos na Terra Santa estão se preparando para as celebrações da Páscoa com uma mistura de angústia, frustração e esperança de paz, diante das conversas sobre um possível novo cessar-fogo para libertar dez reféns israelenses.
Pelo segundo ano consecutivo, a celebração da Páscoa se dará em meio à violência e ao conflito em curso, além de crescentes restrições à liberdade de mobilidade. A esperança, porém, habita o coração dos fiéis.
“Esta é a nossa vocação: construir, unir, derrubar barreiras, esperar contra toda esperança”, disse o Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, em sua mensagem para a procissão do Domingo de Ramos na Terra Santa.
“A Paixão não é a última palavra de Deus sobre o mundo, mas o Ressuscitado é. E estamos aqui para afirmar isso mais uma vez, com força, com amor e com fé inabalável”, continuou o Cardeal.
Os fiéis celebraram o Domingo de Ramos, 13, com a bênção dos ramos e a missa na Igreja do Santo Sepulcro, local do sepultamento de Jesus. Depois, fizeram uma procissão pelas mesmas ruas que Jesus percorreu durante sua entrada triunfal na Cidade Santa antes de sua Paixão e Morte.
“Sabemos que estamos vivendo tempos difíceis”, disse o Patriarca. “Mas não estamos aqui hoje para falar apenas de dificuldades. Estamos aqui para proclamar com força que não temos medo. Nós somos filhos da luz, da ressurreição, da vida. Acreditamos em um amor que vence tudo”.
No período pascal, as autoridades israelenses normalmente concedem autorizações especiais para que cristãos palestinos da Cisjordânia visitem Jerusalém. Este ano, no entanto, apenas 6 mil autorizações foram concedidas — válidas por apenas uma semana — apesar de haver cerca de 50 mil cristãos palestinos que desejam celebrar sua fé nos Locais Sagrados neste período religioso crucial.
O Padre Ibrahim Faltas, OFMCap., Vigário da Custódia da Terra Santa em Jerusalém, responsável por lidar com tais pedidos na região de Belém, disse estar muito decepcionado com a decisão: “Apesar de várias reuniões de alto nível, não conseguimos obter mais autorizações”, lamentou, lembrando que os cristãos da Cisjordânia enfrentam muitas restrições à sua liberdade de mobilidade durante o ano e esperam o período da Páscoa para viajar a Jerusalém e rezar nos Locais Sagrados.
O Frade franciscano observou que as contradições de Jerusalém, como um lugar sagrado para as três religiões monoteístas e um ponto focal de conflito, refletem nitidamente as contradições da humanidade: “Em apenas algumas centenas de metros quadrados, os Lugares Sagrados para cristãos, judeus e muçulmanos ecoam com vozes, canções e orações diferentes, porém semelhantes — e, ao mesmo tempo, nesta mesma cidade, o ódio impede o direito de professar a fé uns dos outros”.
O calendário religioso deste ano torna esses contrastes ainda mais pungentes, já que a Páscoa cristã (celebrada conjuntamente por católicos e ortodoxos) e a Páscoa judaica caem no mesmo dia, 20 de abril. Essa rara coincidência, argumentou o Padre Faltas, deve servir como uma poderosa oportunidade para o diálogo e o respeito mútuo neste momento trágico para a Terra Santa. “Não se pode se acostumar com a violência tendo a beleza dos Lugares Santos diante dos olhos”, disse ele.
Enquanto isso, em Gaza, devastada pela guerra, as celebrações da Páscoa continuam ofuscadas pelo trauma da morte e da destruição. O Padre Gabriel Romanelli, Pároco da Igreja Latina da Sagrada Família, falou sobre o clima nestes dias de preparação para a Páscoa, que, segundo ele, é bem diferente do Natal passado, quando a possibilidade de um cessar-fogo entre Israel e o Hamas deu algum motivo de esperança.
Agora, os ataques aéreos e bombardeios israelenses recomeçaram, atingindo civis e infraestruturas vitais, como hospitais, como aconteceu no Domingo de Ramos com um ataque mortal ao Hospital Ahli Arab.
No entanto, afirmou o Padre Romanelli, o desejo de participar das celebrações da Páscoa, “especialmente entre crianças e adolescentes”, é mais forte do que a devastação e o medo. No Domingo de Ramos, os fiéis se reuniram para celebrar a missa em um clima de oração, silêncio e meditação. Entre eles, estavam também muitos ortodoxos gregos que haviam sido deslocados da igreja vizinha de São Porfírio.
“Todos rezamos juntos pela paz, por todos os que morreram, pela libertação de todos os que foram privados de liberdade, os prisioneiros e os reféns”, disse ele. “Além disso, este ano, ao celebrarmos juntos, pedimos a graça da unidade para todos os cristãos do mundo: uma unidade de fé, esperança e caridade”.
Os próximos dias serão pontuados por missas, leituras e celebrações, como no resto do mundo, até a Quinta-feira Santa e a Sexta-feira Santa, mas sem serviços religiosos ao ar livre: “Este ano”, explicou ele, “não pudemos preparar a encenação da Paixão de Cristo, como sempre fazemos, porque é muito perigoso”.
O Padre argentino fez um apelo sincero aos cristãos em todo o mundo para que continuem rezando pela paz, pela conversão pessoal e pelo fim da guerra: “Devemos convencer o mundo de que é possível pôr fim a todos os conflitos, porque a guerra não fará bem algum e, quanto mais durar, mais danos causará”.
O Sacerdote também ex-pressou profunda gratidão ao Papa Francisco por sua proximidade inabalável à comunidade paroquial de Gaza: “Ele continua a nos chamar e está sempre perto de nós, mesmo nestas semanas de impotência física.”
Fonte: Vatican News