Uma mensagem de unidade e paz para a Turquia, o Líbano e todos nós 

Vatican Media

A primeira viagem internacional do Papa Leão XIV, realizada entre o fim de novembro e o início de dezembro, definiu o tom de seu pontificado: a busca pela unidade e pela paz. O destino não poderia ser mais simbólico: o Oriente Médio. Na Turquia, a visita teve como lema “Um só Senhor, uma só fé, um só batismo” (Ef 4,5), tendo no logotipo uma imagem da ponte sobre o Estreito de Dardanelos, que une o Oriente e o Ocidente; já no Líbano, o tema foi “Bem-aventurados os que promovem a paz” (Mt 5,9), com o cedro e a pomba simbolizando a reconciliação. 

TURQUIA, TERRA DE PROVAÇÕES, MAS ABERTA À UNIDADE 

São as primeiras terras a receberem o anúncio cristão, onde aconteceram as primeiras grandes divisões entre os cristãos, mas também onde o diálogo ecumênico tem avançado com tocante espírito fraterno. Estão, ainda, entre as terras em que os cristãos têm sido mais perseguidos e massacrados. Lugares nos quais, hoje, o Cristianismo é minoritário, algumas vezes quase ínfimo, mas onde pode dar um testemunho inequívoco. 

Nas palavras de Leão XIV: “Quando vemos com os olhos de Deus, descobrimos que Ele escolheu o caminho da pequenez para descer entre nós […] Os profetas anunciam a promessa de Deus falando de um pequeno rebento que brotará (cf. Is 11,1), e Jesus elogia os pequenos que confiam Nele (cf. Mc 10,13-16), afirmando que o Reino de Deus não se impõe atraindo a atenção (cf. Lc 17,20-21), mas se desenvolve como a menor de todas as sementes plantadas na terra (cf. Mc 4,31). A lógica da pequenez é a verdadeira força da Igreja. Efetivamente, esta não reside nos seus recursos e nas suas estruturas, nem os frutos da missão da Igreja derivam do consenso numérico, poder econômico ou relevância social. Em vez disso, ela vive da luz do Cordeiro e, reunida em torno Dele, é impulsionada pelas estradas do mundo pelo poder do Espírito Santo. Nesta missão, é constantemente chamada a sempre confiar na promessa do Senhor: ‘Não temais, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o Reino’ (Lc 12,32)” (Encontro de oração com os bispos, os sacerdotes, os diáconos, os consagrados e os agentes pastorais, 28/nov/2025). 

O Cristianismo na Turquia tem uma história marcada por transformações dramáticas. A região foi o coração do Cristianismo primitivo e do Império Bizantino, palco dos primeiros oito concílios ecumênicos, entre eles o de Niceia (325), que completa 1.700 anos em 2025. Neste concílio, foi estabelecido o Credo, ponto de unidade teológica do Catolicismo, que, com pequenas mudanças, é repetido até hoje em missas dominicais e festas litúrgicas. Por isso, essa viagem é considerada uma celebração da unidade entre católicos romanos e ortodoxos, aprofundando o caminho, ainda longo, rumo à reunificação das Igrejas Católicas. 

Constantinopla (atual Istambul) tornou-se o centro da Igreja Ortodoxa Oriental. O Grande Cisma de 1054 dividiu definitivamente a cristandade em Igreja Católica Romana e Igrejas Ortodoxas, em razão de divergências teológicas, litúrgicas e eclesiológicas (autoridade papal). Com a queda de Constantinopla para os otomanos em 1453, os cristãos passaram a viver como minoria sob domínio muçulmano. O século XX trouxe catástrofes: genocídio e migração forçada praticamente eliminaram a antiga presença cristã no país. Hoje, apenas cerca de 0,2% da população turca (aproximadamente 80 a 100 mil fiéis) ainda permanece cristã e enfrenta obstáculos legais e sociais significativos. 

Apesar das provações dos cristãos turcos, Istambul permanece como sede do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, o mais importante da Igreja Ortodoxa. Seu Patriarca, Bartolomeu I, ocupa esta posição desde 1991. Grande defensor do diálogo ecumênico, teve uma interlocução fraterna com São João Paulo II, Bento XVI, Francisco e, agora, com Leão XIV. Sua trajetória de aproximação com o Vaticano é fundamental para o diálogo ecumênico contemporâneo. 

ONDE A PAZ É DESEJO E VOCAÇÃO 

O Líbano, apesar de também verificar uma queda acentuada da população cristã no último século, em função de conflitos internos e migrações, é o país com maior população católica na região. O catolicismo tem peso significativo em um contexto de pluralidade religiosa marcada pelo convívio entre cristãos maronitas, outras comunidades cristãs, muçulmanos sunitas, xiitas e drusos. A Igreja Maronita, em plena comunhão com Roma (mantém a fidelidade ao Papa), é muito relevante na vida social, política e espiritual do país. 

O Líbano tem uma curiosa estrutura política, que busca a integração entre diferentes grupos religiosos. O presidente da república é sempre um católico maronita, eleito pelo Parlamento; o primeiro-ministro é um muçulmano sunita, indicado pelo presidente; e o presidente do Parlamento é sempre um muçulmano xiita, também eleito pelo Parlamento, formado por representantes eleitos segundo quotas confessionais. 

O país enfrenta graves crises econômicas, instabilidade política e as sequelas das guerras na região. Se isso não bastasse, a explosão acidental de 2.750 toneladas de nitrato de amônio, no porto de Beirute, em 2020, devastou a capital libanesa. A tragédia causou 218 mortes confirmadas, cerca de 7 mil feridos e deixou 300 mil pessoas desabrigadas. Os prejuízos materiais foram estimados em 15 bilhões de dólares. Neste contexto, a visita de Leão XIV é um gesto particularmente significativo de solidariedade e esperança de paz. 

Foi justamente o vínculo entre paz e esperança que Leão XIV reforçou em seu discurso às autoridades, à sociedade civil e ao corpo diplomático em Beirute (30/nov/2025): “Aqui a paz é um desejo e uma vocação, é um dom e um canteiro sempre aberto […] Resplandece uma qualidade que distingue os libaneses: sois um povo que não sucumbe e que, diante das provações, sabe sempre renascer com coragem. A vossa resiliência é uma característica imprescindível dos autênticos promotores da paz: realmente, a obra da paz é um contínuo recomeçar […] Perguntai-vos de onde vem a energia formidável que nunca deixou o vosso povo caído no chão [… Foi] sobretudo a língua da esperança, aquela que sempre vos permitiu recomeçar […] Que possais falar uma única língua: a língua da esperança, que faz com que todos se unam para recomeçar sempre de novo. O desejo de viver e crescer juntos, como povo, faça de cada grupo a voz de uma polifonia”. 

Leão XIV sublinhou ainda duas características dos pacificadores: “Não só sabem recomeçar, mas fazem-no sobretudo por meio do árduo caminho da reconciliação. Efetivamente, existem feridas pessoais e coletivas que, para poderem cicatrizar, exigem longos anos, às vezes gerações inteiras. Se não forem tratadas, se não se trabalhar, por exemplo, na cura da memória, na aproximação entre aqueles que sofreram ofensas e injustiças, dificilmente se alcançará a paz […] Ao mesmo tempo, não há reconciliação duradoura sem uma meta comum, sem uma abertura para um futuro em que o bem prevaleça sobre o mal sofrido ou infligido, no passado ou no presente”. Por fim, o Papa destacou que os pacificadores “ousam permanecer, mesmo quando isso implica sacrifício. Há momentos em que é mais fácil fugir ou, simplesmente, mais conveniente ir para outro lugar. É preciso muita coragem e visão de futuro para permanecer ou regressar”. 

Foi uma viagem memorável. Uma grande ocasião para os que vivem naquelas terras, mas também uma grande lição para o mundo. 

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