Quando Carlo Acutis, um adolescente de 15 anos, vestido com uma calça jeans e apaixonado pela internet, é reconhecido como o primeiro santo millennial, o mundo inteiro é convidado a refletir sobre como a santidade pode ser vivida nas pequenas escolhas do cotidiano.
Muitos outros homens e mulheres também viveram uma intensa experiência do Evangelho e, assim como o “apóstolo da internet”, demonstram o chamado universal à santidade. A seguir, O SÃO PAULO apresenta histórias de quem encarnou o Evangelho no dia a dia, transformando a simplicidade da vida comum em caminho de fé e entrega.
MÉDICO, SURFISTA E VENERÁVEL

Nascido em 22 de maio de 1974, em Volta Redonda (RJ), Guido Schäffer foi educado na vivência da fé e, desde cedo, demonstrava amor pelo esporte e pelo mar.
Em 1993, ingressou na faculdade de Medicina, dedicando-se, ainda durante a formação, ao acolhimento de pacientes com HIV/Aids. No mesmo ano em que se formou, fundou o grupo de oração Fogo do Espírito Santo, na Igreja Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, na capital fluminense.
Durante a residência médica, em 1999, iniciou o trabalho na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e o atendimento à população em situação de rua com as Missionárias da Caridade.
Durante uma peregrinação a Roma, por ocasião do Ano Santo de 2000, sentiu-se chamado ao sacerdócio. Em 2005, residiu em Queluz (SP), onde atuou como médico voluntário da Prefeitura e no Ambulatório Padre Pio.
Em 1º de maio de 2009, Guido surfava com amigos na praia do Recreio dos Bandeirantes, quando sofreu um trágico acidente e faleceu.
Os registros reunidos sobre o Venerável revelam uma vida marcada por profunda confiança em Deus e pela certeza de que viveria para anunciar o Evangelho. Em um de seus escritos, datado de 26 de junho de 2003, ele declarou: “Ó, Senhor, eis-me aqui para corresponder ao Vosso plano de amor. Quero ser Vosso humilde servo para fazer Vossa vontade.”
No mesmo ano, em mais um diálogo com o Senhor, Guido escreveu ter ouvido do Pai: “Ser santo é viver a liberdade, é obedecer à Minha voz. Todas as graças para viver a liberdade Eu as providencio na Santa Missa, que é a montanha do Meu sacrifício.”
ATRIZ E MISSIONÁRIA

Em Derry, Irlanda do Norte, nasceu, em 14 de novembro de 1982, a Irmã Clare Crockett. Apaixonada por literatura e teatro, desde a infância sonhava em ser uma grande atriz de Hollywood, desejo que começou a realizar ainda na adolescência.
Durante a Sexta-feira Santa do ano 2000, aos 17 anos, participou de um encontro de oração e diante da cruz viveu uma profunda experiência de conversão.
Em 2001, ingressou na Congregação das Irmãs Servas do Lar da Mãe, fazendo os primeiros votos em 18 de fevereiro de 2006, quando assumiu o nome religioso de Irmã Clare Maria da Trindade e do Coração de Maria. Estava marcada a mudança definitiva de seu projeto de vida, que, a partir daquele momento, teria como propósito ser: “Uma santa serva, muito unida a Ele, disposta a sofrer tudo e a ir a qualquer parte por amor a Ele.”
Com alegria e talento, realizou inúmeras missões, evangelizando por meio da arte e do testemunho.
Em 16 de abril de 2016, faleceu aos 33 anos, soterrada durante um terremoto em Playa Prieta, no Equador, junto com outros cinco jovens postulantes, durante uma aula de violão.
Ela, tão habituada aos palcos, escolheu dar protagonismo a quem a amou primeiro e nunca teve receio de esconder sua decisão: “Dá-me a graça de nunca ter medo de dar testemunho de Ti (…) Ajuda-me a nunca fugir do lobo.”
O MÉDICO DOS POBRES

Em 26 de outubro de 1864, no estado andino de Trujillo, nasceu José Gregório Hernández Cisneros. Formado em Medicina, viveu a profissão como uma missão em favor dos mais necessitados na Venezuela.
Foi responsável por introduzir o uso do microscópio no país e fundou a cátedra de Bacteriologia na Universidade de Caracas.
Conhecido como “médico dos pobres”, durante a epidemia de gripe espanhola dedicou-se ao cuidado dos enfermos. Sua entrega em favor dos que mais precisavam era expressa em cada encontro. Segundo ele, “a existência não se realiza acumulando dinheiro, reconhecimento e fama, mas doando-se.”
O médico faleceu em 29 de junho de 1919, vítima de um atentado em Caracas. Partiu deste mundo pronunciando o nome da Virgem Maria, deixando para a humanidade um exemplo de fé e dedicação. Ele foi canonizado no último dia 19, pelo Papa Leão XIV, no Vaticano.
UMA ALIANÇA ETERNA

São Luís Martin era relojoeiro e Santa Zélia Guérin, rendeira, ambos nascidos em famílias de boas condições financeiras e marcadas por uma profunda fé no Cristo Ressuscitado.
Outra coincidência entre eles era o desejo, desde a adolescência, de entregar-se à vida consagrada, mas foi no Matrimônio que trilharam o caminho rumo aos altares.
O encontro entre os dois aconteceu em 1858. Após poucos meses de namoro e noivado, se casaram e dessa união nasceram nove filhos, entre eles Santa Teresinha do Menino Jesus.
Buscavam diariamente a Eucaristia e cultivavam uma vida de oração, tanto individual quanto em casal. Frequentemente, se confessavam e demonstravam atenção constante às necessidades da paróquia que frequentavam.
Em uma carta que escreveu a Santa Teresinha, certa vez Zélia contou-lhe: “Teu pai foi fazer a Adoração noturna na noite passada, ainda que estivesse muito fatigado quando nos deixou, às 9 horas da noite”. Em outro escrito da mãe, há a demonstração de sua fé quando Teresinha, ainda criança, adoeceu gravemente: “Subi depressa ao meu quarto, ajoelhei-me aos pés de São José e lhe pedi a graça da cura para a pequena, resignando-me, porém, à vontade do bom Deus, se Ele quisesse levá-la consigo. Eu não choro frequentemente, mas chorei ao rezar”.
O casal foi canonizado pelo Papa Francisco em 18 de outubro de 2015, como sinal de que a santidade pode florescer no dia a dia conjugal e na educação dos filhos






