‘Vós sois o perfume do Evangelho neste país’, diz o Papa a leigos, religiosos e clérigos em Timor-Leste

Em encontro na Catedral de Díli, Francisco reiterou que o dom que cada pessoa recebe de Deus – ‘o perfume’ – não é para si própria, mas para anunciar e testemunhar o Cristo, servindo especialmente os mais pobres; também exortou os timorenses a se aprofundarem na doutrina cristã, por meio de uma ‘formação espiritual, catequética e teológica’

Fotos: Vatican Media

O Papa Francisco encontrou-se, na terça-feira, 10, com os bispos, sacerdotes, diáconos, pessoas consagradas, seminaristas e catequistas na Catedral da Imaculada Conceição, em Díli, Timor-Leste, no âmbito de sua 45ª Viagem Apostólica Internacional.

“Estou feliz por me encontrar entre vós, no contexto de uma viagem que me vê como peregrino nas terras do Oriente”, disse Francisco no início de seu discurso, recordando as palavras dirigidas a ele pelo presidente da Conferência Episcopal de Timor-Leste, Dom Norberto do Amaral, que definiu Timor-Leste um país “nos confins do mundo”.

O CORAÇÃO DE CRISTO AS PERIFERIAS DA EXISTÊNCIA

“Porque está nas fronteiras, encontra-se no centro do Evangelho! Este é um paradoxo que devemos aprender: nos Evangelhos, as fronteiras são o centro e uma Igreja que não é capaz de chegar às fronteiras e que se esconde no centro é uma Igreja muito doente. Uma Igreja que pensa na periferia, envia missionários, se coloca naquelas fronteiras que são o centro, o centro da Igreja. Obrigado por estar nas fronteiras. No coração de Cristo, as periferias da existência são o centro”, disse Francisco.

“O Evangelho está repleto de pessoas, figuras e histórias que se encontram nas margens, nas fronteiras, mas são convocadas por Jesus e tornam-se protagonistas da esperança que Ele veio trazer”, prosseguiu o Papa.

“Alegro-me convosco e por vós, porque sois nesta terra os discípulos do Senhor”, disse Francisco, recordando “um episódio de ternura e intimidade”, no Evangelho de João, “ocorrido na casa dos amigos de Jesus: Lázaro, Marta e Maria. A certa altura, durante o jantar, Maria ‘ungiu os pés de Jesus com uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, e os enxugou com os seus cabelos. A casa encheu-se com a fragrância do perfume’. Maria unge os pés de Jesus e aquele perfume difunde-se pela casa”.

A seguir, o Papa refletiu sobre estes dois elementos: guardar o perfume, difundir o perfume.

“Guardar o perfume. Sentimos sempre necessidade de voltar à origem do dom recebido, do nosso ser cristãos, sacerdotes, consagrados ou catequistas. Recebemos a própria vida de Deus através do seu Filho Jesus, que morreu por nós e nos deu o Espírito Santo. Fomos ungidos com o Óleo da alegria e, escreve o apóstolo Paulo, ‘somos para Deus o bom odor de Cristo’”.

TER CONSCIÊNCIA DO DOM RECEBIDO 

“Caríssimos, vós sois o perfume de Cristo! E este símbolo não vos é estranho: aqui em Timor, efetivamente, crescem em abundância árvores de sândalo, com o seu perfume muito apreciado e procurado também por outros povos e Nações. A própria Bíblia enaltece o seu valor, quando narra que a Rainha de Sabá visitou o Rei Salomão, oferecendo-lhe madeira de sândalo”, prosseguiu.

“Irmãos e irmãs, vós sois o perfume do Evangelho neste país. Como uma árvore de sândalo, de folha perene, forte, que cresce e dá frutos, também vós sois discípulos missionários, perfumados com o Espírito Santo para inebriar a vida do vosso povo.”

Segundo Francisco, “o perfume recebido do Senhor deve ser guardado com cuidado, como Maria de Betânia o tinha conservado precisamente para Jesus. Também nós devemos guardar o amor com que o Senhor perfumou a nossa vida, para que não se dissipe nem perda o seu aroma”.

“O que significa isto?” – indagou o Papa, respondendo a seguir: “Significa ter consciência do dom recebido, recordar que o perfume não é para nós, mas para ungir os pés de Cristo, anunciando o Evangelho e servindo os pobres; significa vigiar sobre nós mesmos, porque a mediocridade e a tibieza espiritual andam sempre à espreita.”

O Pontífice lembrou-se de algo que o Cardeal De Lubac disse sobre a mediocridade e a mundanidade: “A pior coisa que pode acontecer às mulheres e aos homens da Igreja é cair na mundanidade, na mundanidade espiritual”. E sublinhou: “Cuidado! Guardem esse perfume que tanto nos dá vida”.

O Papa convidou os timorenses a não se descuidar “de aprofundar a doutrina cristã, de amadurecer a partir da formação espiritual, catequética e teológica”, pois, disse ainda Francisco, “tudo isto serve para anunciar o Evangelho na vossa cultura e, ao mesmo tempo, para a purificar de formas e tradições arcaicas, por vezes supersticiosas. A pregação da fé deve ser inculturada na vossa cultura, e a vossa cultura deve ser evangelizada. E isso se aplica a todos os povos, não apenas a vós.”

O PERFUME DE COMPAIXÃO

“Difundir o perfume. A Igreja existe para evangelizar, e nós somos chamados a levar aos outros o doce perfume da vida nova do Evangelho. Maria de Betânia não usa o precioso nardo para se perfumar a si mesma, mas para ungir os pés de Jesus, e assim espalha o aroma por toda a casa. Além disso, o Evangelho de Marcos especifica que Maria, para ungir Jesus, parte o frasco de alabastro que continha o unguento perfumado”, comentou, complementando: “A evangelização acontece quando temos a coragem de ‘partir’ o frasco que contém o perfume, de quebrar a ‘casca’ que muitas vezes nos fecha em nós mesmos e sair de uma religiosidade preguiçosa e cômoda, vivida apenas para as necessidades pessoais”.

“Também o vosso país, radicado numa longa história cristã, precisa hoje de um renovado impulso na evangelização, para que chegue a todos o perfume do Evangelho: um perfume de reconciliação e de paz, depois dos sofridos anos da guerra; um perfume de compaixão, que ajude os pobres a reerguerem-se e que suscite o compromisso em levantar os destinos econômicos e sociais do país; um perfume de justiça contra a corrupção”, enfatizou o Papa.

Francisco disse ainda que “o perfume do Evangelho deve ser difundido contra tudo o que humilha, deturpa e até destrói a vida humana, contra as chagas que geram vazio interior e sofrimento, como o alcoolismo, a violência e a falta de respeito pela dignidade das mulheres. O Evangelho de Jesus tem o poder de transformar estas realidades obscuras e gerar uma sociedade nova”.

RELIGIOSAS: ‘MÃES DO POVO DE DEUS’

Diante do fenômeno da falta de respeito pelas mulheres, as religiosas devem levar a mensagem de que “as mulheres são a parte mais importante da Igreja, porque cuidam dos mais necessitados: curam e acompanham eles, acompanham eles. Sejam mães do povo de Deus; tenham a coragem de criar comunidades, de serem mães. É o que peço a vós”.

O MINISTÉRIO NÃO É PRESTÍGIO SOCIAL

A seguir, o Pontífice disse aos sacerdotes: “Soube que o povo se dirige a vós com muito carinho, chamando-vos ‘Amu’, que é o título mais importante entre vós e significa ‘senhor'”.

“Isso não deve provocar em vós um sentimento de superioridade em relação ao povo: vós sois do povo. Não se deixem levar pela tentação do orgulho e do poder; não deve fazer-vos pensar no ministério como um prestígio social. Não! O ministério é um serviço. Lembremo-nos disto: com o perfume se ungem os pés de Cristo, que são os pés dos nossos irmãos na fé, começando pelos mais pobres.”

Por fim, Francisco destacou que “o padre é um instrumento de bênção”, e que “nunca deve aproveitar-se da sua função, mas deve sempre abençoar, consolar, ser ministro de compaixão e sinal da misericórdia de Deus”.

Fonte: Vatican News

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