Igreja celebra memória da missionária italiana que viveu, morreu e foi beatificada em São Paulo
Na quinta-feira, 1º, a Igreja celebra a memória da Bem-aventurada Assunta Marchetti, religiosa italiana, co-fundadora da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu (Scalabrinianas), que viveu e morreu na capital paulista.
Assunta nasceu em Lombrici – Camaiore, na Itália, em 15 de agosto de 1871, data da Solenidade da Assunção de Nossa, que deu origem ao seu nome. Seus pais, Angelo Marchetti e Carolina Ghilarducci, eram moleiros.
Toda a família se dedicava ao trabalho da moagem de cereais, e como meeiros dos proprietários, dependiam do moinho não só para o sustento como para a moradia. Além do pesado trabalho, a mãe adoentada confiava na ajuda de Assunta no cuidado dos irmãos menores, pois era a terceira filha de 11 irmãos. A situação dificultou a realização de seu desejo de se tornar religiosa clarissa, contemplativa. Seu anseio foi adiado ainda mais, pois seu irmão mais velho, José Marchetti, ingressou no seminário de Lucca, e foi ordenado sacerdote em 1892.
VOCAÇÃO
Eram os anos da grande imigração italiana para as Américas. Impulsionado pela pregação do Beato Dom João Batista Scalabrini, apóstolo dos migrantes, seu irmão embarcou para o Brasil em outubro de 1894. Em fevereiro de 1895, iniciou a construção do Orfanato Cristóvão Colombo, em São Paulo, e retornando à Itália, convidou Assunta a abraçar a causa dos migrantes.
Não foi fácil convencê-la, pois queria ser irmã de clausura, e dedicar-se à vida de oração pela Igreja. Seu irmão lhe disse: “…lá estou sozinho com 200 órfãos”, e indicando um quadro acrescentou: “olhe para o Coração de Jesus, escute seus apelos e depois me responda se vem ou não comigo para o Brasil”. Diante do chamado da graça, a jovem tomou sua decisão definitiva e total. Tinha, então, 24 anos.
DOAÇÃO
Assunta chegou ao Brasil com suas companheiras em 27 de outubro de 1895 e teve uma vida de Fé, esperança e caridade radical. Amou intensamente o próximo e especialmente, as suas irmãs de congregação, dedicando-se de modo preferencial aos migrantes, aos órfãos, aos doentes, aos sofredores e aos pobres que precisavam de ajuda.
A religiosa suportou, com heroísmo, as duras provas do dia adia. À noite, atendia quantos batiam à sua porta no pequeno ambulatório instalado no orfanato feminino de Vila Prudente. Quando trabalhava nos hospitais, não tinha um instante de descanso, pois os doentes sempre a queriam por perto, seja para dizer-lhes uma boa palavra, seja para curar suas feridas. Dormia ao lado dos indigentes, para atendê-los a toda hora.
VIDA DE ORAÇÃO
A religião, para ela, era o serviço ao pobre: servia-o como se servisse a Cristo em pessoa. Com a mesma solicitude com que se dirigia à capela para rezar, dirigia-se ao pobre para servi-lo, pois o Cristo presente na Eucaristia era o mesmo presente nos sofredores.
Moderada no comer e no beber, não escolhia alimentos, procurando sempre aqueles que menos apreciava. Pouco repousava, amava a simplicidade e recusava a comodidade. Enquanto superiora da sua congregação, aliava a oração e a adoração eucarística aos mais pesados serviços junto das irmãs, mostrando real interesse pelo que faziam, levantando-lhes o ânimo. Sabia ouvir, partilhar, valorizar. Antes de resolver qualquer problema, costumava passar horas junto ao sacrário, ponderando os prós e contras, até decidir-se pelo melhor. Costumava dizer: “Tudo o que acontece é bom, porque vem de Deus”.
MORTE E BEATIFICAÇÃO
Nos últimos meses, viveu em uma cadeira de rodas. Mesmo imobilizada, interessava-se por tudo o que se passava na casa, preocupando-se com todos. Após 53 anos de vida missionária, Madre Assunta morreu em 1º de julho de 1948, junto aos órfãos do Orfanato Cristóvão Colombo (atualmente chamado Associação Educadora e Beneficente Casa Madre Assunta Marchetti), no bairro de Vila Prudente, em 1º de julho de 1948.
Assunta Marchetti foi beatificada em 25 de outubro de 2014, em uma celebração na Catedral da Sé, presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, com a presença do Cardeal Angelo Amato, então prefeito da Congregação para a Causa do Santos, que leu a Carta Apostólica do Papa Francisco que proclamou a religiosa como Bem-aventurada.
‘CRISTÃ EXTRAORDINÁRIA’
Na mesma carta, o Santo Padre apresentou Madre Assunta como “testemunha da caridade de Cristo para com os migrantes e órfãos, dos quais foi ‘mãe’ terna”.
Na homilia, Dom Odilo destacou a religiosa como “uma cristã extraordinária que viveu de maneira exemplar sua fé esperança e caridade”.
“A caridade da Madre não era ostentação, mas serviço humilde sacrificado e paciente. É esta a herança que a Beata Assunta Marchetti deixa não só às suas irmãs, mas a todos nós. O seu convite à caridade inclui a exortação à humildade, à pobreza e também à alegria de fazer o bem com generosidade e simplicidade”, completou o Arcebispo.
Os restos mortais de Madre Assunta estão sepultados na capela do antigo orfanato onde ela viveu e morreu, que, em 2014, tornou-se um memorial dedicado a ela, o memorial contém seus objetos pessoais, fotografias e documentos que contam um pouco da história da religiosa.