Bispos da Espanha condenam a decisão de legalizar a eutanásia

Após meses de debates na sociedade espanhola e contra a vontade da igreja, país europeu aprova a lei que permite às pessoas a prática da eutanásia

Arte: Conferência Episcopal Espanhola

Os bispos católicos espanhóis condenaram a legalização da eutanásia no país, na quinta-feira, 18. O parlamento aprovou a lei, cuja votação obteve 202 votos a favor e 141 contrários, e ela entrará em vigor em três meses.

“Este é um momento para promover a objeção de consciência e tudo o que está relacionado a esta cultura da vida que quer ter uma linha vermelha dizendo ‘Não matarás’”, disse Dom Luís Argüello, Secretário-Geral dos bispos espanhóis.

“Infelizmente, [os parlamentares] tentaram encontrar uma solução para evitar o sofrimento, induzindo a morte de alguém que está sofrendo”, disse ele. “É dramático que 60 mil pessoas morram todos os anos na Espanha com grande sofrimento, quando isso poderia ser contornado com uma política adequada de cuidados paliativos.”

A nova legislação da Espanha a torna o quarto país da Europa a legalizar a eutanásia, depois da Bélgica, Holanda e Luxemburgo.

CULTURA DA VIDA

Dom Luís disse que este é o momento de “promover uma cultura da vida e dar passos concretos para a promoção de um testamento vital, ou declarações antecipadas que permitam aos cidadãos espanhóis expressar de forma clara e determinada o desejo de receber cuidados paliativos: a vontade de não ser sujeito à aplicação desta lei de eutanásia”, afirmou ele.

O bispo acrescentou que este é também um momento para a Igreja Católica lembrar a sociedade espanhola de que “você não causará de boa vontade a morte de uma pessoa para aliviar o sofrimento dela, mas, pelo contrário, você cuidará, praticará a ternura, a proximidade, a misericórdia e o encorajamento para aquelas pessoas que estão na reta final de sua existência, talvez em momentos de sofrimento, em que mais precisam de conforto, cuidado e esperança”.

Uma vez que a lei seja aplicada, qualquer pessoa maior de 18 anos que sofra de uma doença “grave e incurável”, ou “estado grave, crônico e incapacitante” que afete sua autonomia e que gere “sofrimento físico ou psicológico constante e intolerável” pode optar pelo fim de sua vida.

MANIFESTAÇÃO DA IGREJA

Vários bispos foram às redes sociais para expressar sua preocupação com a legalização. Entre eles estava o Cardeal Carlos Osoro, Arcebispo de Madri.

“A pandemia deve causar uma mudança de paradigma: vamos passar da busca egoísta de nosso próprio bem-estar para o cuidado… Somos cuidadores de outras pessoas e, portanto, é dramático que hoje apostemos na eutanásia”, escreveu ele.

O Cardeal Juan José Omella, de Barcelona, ​​presidente da conferência episcopal espanhola, disse que a nova legislação seria usada para coagir os doentes terminais a ver a morte como sua única opção.

“Não podemos nos considerar uma sociedade avançada ao aprovar uma lei que incentiva os doentes a jogar a toalha e acabar com sua existência”, argumentou.

Arte: Conferência Episcopal Espanhola

ARGUMENTOS

Enquanto o projeto de lei estava sendo debatido, a Igreja Católica lutou contra a sua aprovação, dizendo que os cuidados paliativos não estavam sendo utilizados de forma adequada no país.

Em nota divulgada em 14 de setembro do ano passado, os bispos argumentaram que a defesa do “direito à eutanásia” é uma visão reducionista da pessoa humana e que apresenta uma liberdade desvinculada de responsabilidade.

“Por um lado, a dimensão social do ser humano é negada, quando se diz ‘Minha vida é minha e só eu posso tirá-la’, e, por outro lado, é solicitado que outra pessoa – ou seja, a sociedade organizada – legitime a decisão”, escreveram os bispos.

VATICANO

Cinco dias depois, vários bispos espanhóis foram recebidos pelo Papa Francisco no Vaticano e, segundo consta, discutiram o assunto longamente.

“É uma questão que preocupa o Papa”, disse o Cardeal Omella a jornalistas em Roma após a reunião. “Eu acredito que não se trata apenas de morrer ou não, mas também [sobre] dor e acompanhamento. Quando a pessoa recebe tratamento para a dor e se sente acompanhada pela família e pelos profissionais, quer viver”.

“A questão da vida não é apenas sobre refugiados, é desde a criança no ventre da mãe até a morte”, disse ele.

“A morte não é o fim”, disse o Cardeal. “É a porta para o outro lado. Se soubermos como compartilhar isso com a pessoa que está doente, as perspectivas mudam. Mas se dissermos que é isso, estamos retirando a esperança e a espiritualidade, coisas que todos carregamos em nossos corações. A pessoa humana é chamada à eternidade e ao amor. ”

Fonte: Crux Now

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