Live abre comemorações do centenário de nascimento do Cardeal Arns

Na última segunda-feira, 14, data em que foram comemorados os 99 anos do nascimento de Dom Paulo Evaristo Arns, foi realizada uma videoconferência, transmitida pelo canal do jornalista Juca Kfouri, para homenagear o Cardeal da Esperança, falecido em 2016. Ele foi Arcebispo de São Paulo entre 1970 e 1998. O evento virtual reuniu personalidades, jornalistas, parlamentares e pessoas que atuaram com Dom Paulo na defesa dos direitos humanos e da dignidade das pessoas.

Entre os convidados estava o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano de São Paulo. “O objetivo deste evento é celebrar a vida de Dom Paulo, abrindo as comemorações do seu centenário, que será celebrado em 2021. Ele marcou a história recente do nosso País”, afirmou a jornalista Evanise Sydow, uma das organizadoras do encontro e curadora da exposição que homenageará o Cardeal Arns na Assembleia Legislativa de São Paulo, a partir de março do próximo ano.

FRANCISCANO

Em sua participação, Dom Odilo recordou a trajetória de vida de Dom Paulo na Igreja. Frade Franciscano, estudante de Teologia Patrística na Universidade de Sorbonne, em Paris, na França, foi professor em Petrópolis (RJ) até ser nomeado Bispo Auxiliar de São Paulo por São Paulo VI, em 1966. Quatro anos depois, foi nomeado Arcebispo de São Paulo, função na qual esteve à frente por 27 anos.

O Cardeal Scherer lembrou, ainda, que seu predecessor viveu um contexto histórico muito peculiar. “Era o período pós-conciliar. Embora não tenha participado do Concílio, pois foi nomeado bispo depois, ele estudou muito e procurou traduzir o Vaticano II em práticas eclesiais novas, atentas a questões próprias do tempo, da vida em sociedade e da cultura”, afirmou, sublinhando que Dom Paulo era um homem de vasta cultura, de uma “inteligência muito brilhante, muito perspicaz para perceber as situações”.

ARCEBISPO

Nesse sentido, o Cardeal Arns logo notou a necessidade de uma nova presença da Igreja em todas as áreas da cidade, sobretudo nas periferias, que cresciam muito nas décadas de 1970 e 1980. “Dom Paulo introduziu as Comunidades Eclesiais de Base [CEBs], criou uma grande quantidade de paróquias, ordenou muitos sacerdotes e incentivou os estudos eclesiásticos e uma grande atenção às camadas mais pobres da população”, ressaltou Dom Odilo.

“Dom Paulo marcou presença no contexto da Igreja no Brasil por sua envergadura, naturalmente, como Arcebispo e Cardeal. Sua presença foi sempre marcante nas assembleias dos bispos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e também no contexto latino-americano”, acrescentou o Cardeal Scherer.

Por fim, Dom Odilo enfatizou que o Cardeal Arns “deixou uma marca profunda na Igreja em São Paulo”, recordada com muita gratidão e “esperando que, aquilo que ele inspirou na Igreja em São Paulo, continue inspirando hoje as nossas comunidades, sacerdotes e a todos que, em nome da Igreja, estão presentes no meio do povo”.

JUSTIÇA E PAZ

Ex-ministro da Justiça entre os anos de 2000 e 2001, o advogado José Gregori foi membro da Comissão Justiça e Paz, fundada por Dom Paulo em 1972. Ele manifestou sua gratidão ao clérigo e afirmou que o homenageado conseguiu unir o que de melhor existia na religião e na política.

“Dom Paulo conseguiu o respeito de toda a classe política que estava interessada em estabelecer a democracia no Brasil. Realmente, ele sabia avaliar e conduzir bem as coisas e as pessoas. Não havia uma atitude, palavra ou ordem de Dom Paulo que fossem mesquinhas. Tudo tinha como objetivo superar as condições menos apreciadas da vida comum”, destacou.

DEFENSOR DA VERDADE

A jornalista britânica Jan Rocha era correspondente da rede de televisão BBC, na década de 1970, quando conheceu o Cardeal Arns. “Naquela época, por causa da censura, era muito difícil conseguir informações e saber o que realmente estava acontecendo no Brasil. O papel de Dom Paulo, ao abrir a Cúria para os jornalistas, sendo fonte importante de notícias, era fundamental para nós”, afirmou.

Foi com o apoio de Dom Paulo que Jan criou, com o pastor presbiteriano Jaime Wright, o Comitê pelos Direitos Humanos no Cone Sul (Clamor), que atuou na solidariedade aos presos, perseguidos e refugiados políticos e na denúncia dos crimes cometidos pelas ditaduras sul-americanas. “Dom Paulo sempre estava presente para dar conforto e esperança e divulgar o que estava acontecendo realmente, a verdade e não as fake news da época”, completou a jornalista.

HOMEM DE DEUS

José Gregori salientou, ainda, que teve o privilégio de conviver com “um santo em ação”. “Ele foi um diácono [servidor], um apóstolo, um pastor e um profeta. Percorreu todos esses caminhos por meio de uma palavra de paz”, disse, sublinhando a profunda vida de oração de Dom Paulo.

“Várias vezes eu chegava para as reuniões da Comissão Justiça e Paz e Dom Paulo estava rezando na capela. Eu nunca vi ninguém rezando com tanto fervor, entrega e emoção. Uma das luzes que me ilumina é o fervor que vi em suas orações”, concluiu o advogado.

(Colaborou: Jenniffer Silva)

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