Marcados pelo encontro com Cristo, leigos evangelizam por meio de uma vida inserida na sociedade

É por meio da diversidade de dons e carismas que a Igreja, corpo de Cristo, realiza a sua missão de anunciar o Evangelho a todos os povos. A propósito, outra característica fundamental que a define é justamente ser povo de Deus. Esse povo de batizados e enviados por Jesus Cristo caminha para a realização de uma vocação universal: a santidade, que se concretiza nas vocações e ministérios específicos.

Dos 1,2 bilhão de católicos que existem no mundo, a maioria maciça é daqueles que são chamados a anunciar o Evangelho na vida cotidiana da sociedade, nos seus mais variados âmbitos: a família, a escola, a universidade, o trabalho, a política e a vida social. Esses são os cristãos leigos.

A vocação laical é marcada pela chamada “índole secular”, isto é, seu campo e âmbito de missão por excelência é o mundo, lugar onde ele se santifica e testemunha o Evangelho com a própria vida. O Papa Francisco reflete sobre esse aspecto na exortação apostólica Gaudete et exsultate, quando diz: “Gosto de ver a santidade no povo paciente de Deus: nos pais que criam os seus filhos com tanto amor, nos homens e mulheres que trabalham a fim de trazer o pão para casa, nos doentes, nas consagradas idosas que continuam a sorrir. Nessa constância de continuar a caminhar dia após dia, vejo a santidade da Igreja militante. Esta é muitas vezes a santidade ‘ao pé da porta’, daqueles que vivem perto de nós e são um reflexo da presença de Deus”.

COM NATURALIDADE

Para o engenheiro ferroviário Pedro Armante Carneiro Machado, 60, não há nada mais secular do que viver a pertença a Cristo e à Igreja, realizando aquilo ao qual foi chamado, na sua profissão, que é parte da sua vocação. “É fundamental ver sua profissão como um dom e vocação que realiza com amor”, enfatizou Machado, acrescentando que, no ambiente profissional, sempre buscou ser ele mesmo: “Uma pessoa marcada pelo encontro com Cristo”.

“Quase que naturalmente, até sem percebermos, aprendemos a ter um olhar mais humano pelos colegas de trabalho, especialmente quando nos aproximamos de alguém que está passando por uma determinada situação e oferecemos ajuda, seja profissional, seja pessoal e, em muitos casos, oferecemos esperança, diante de uma realidade marcada por tanto ceticismo”, completou o engenheiro, que é casado há 31 anos, tem três filhos e é membro do movimento católico Comunhão e Libertação.

Ele salientou que o envolvimento na vida social, na vida política, na participação de iniciativas de caridade, também são formas de colaborar na edificação da Igreja e na construção de uma sociedade nova, recordando que as grandes revoluções operadas pelo Cristianismo ao longo da História aconteceram pela mudança das pessoas a partir de seus ambientes de convívio e atuação.

NO ORDINÁRIO

Silvio Pereira da Rocha Filho, 53, é médico pediatra. De poucas palavras, ele fala mais com os exemplos, respondendo à entrevista ao O SÃO PAULO, por WhatsApp, durante um de seus plantões de mais de 24 horas em um hospital. “Como médico, vivo concretamente a vida cristã atendendo com qualidade e humanidade todas as crianças que chegam até mim, sendo solidário no sofrimento delas e dos familiares”, pontuou.

Casado há oito anos com Magna Celi Mendes da Rocha, 42, assessora da Pastoral Universitária da PUC-SP e professora convidada da Faculdade de Teologia da mesma instituição, Rocha Filho enfatizou que também é chamado a viver sua missão no âmbito familiar, sendo um bom pai, sempre presente e solícito nas necessidades dos filhos e da esposa.

Magna complementou que a vida laical é uma grande oportunidade quando se dá importância às pequenas coisas do cotidiano. “Trocar a fralda de uma criança, fazer um café, dar um beijo no esposo, escrever um artigo para um jornal ou o capítulo de um livro… Tudo o que fazemos é a manifestação da presença e da ação de Deus na medida do amor que colocamos em cada um desses atos”, firmou. Pais de quatro filhos, ela e Rocha Filho são membros da Comunidade Shalom.

EM TODO LUGAR

A professora Jaqueline de Moraes Fiorelli, 54, afirma que não vê “nada de extraordinário” em sua vida em relação ao apostolado. Ao contrário, ela percebe a realização da sua missão no amor renovado que a faz entrar em uma sala de aula e procurar fazer o melhor, “não simplesmente porque desejo ser reconhecida pelo meu profissionalismo, mas por amor aos meus alunos, procurando ajudar cada um em suas dificuldades… Promovendo ações na sala de aula que os levem a colaborar uns com os outros, a fim de que possam não só construir o conhecimento juntos, mas que se sintam instigados a sair de si e ajudar o colega ao lado”, destacou Jaqueline.

Membro do movimento dos Focolares, Jaqueline salientou que a vocação cristã deve ir além do âmbito eclesial. “Não devemos vivê-la de modo estanque, sendo cristãos apenas quando vamos à Igreja, ou entre pessoas que vivem conosco essa experiência, mas em todos os ambientes, procurando reconhecer e amar as diferentes expressões de Jesus presentes na humanidade, naqueles que sofrem, nos excluídos, nos que são indiferentes, até mesmo naqueles que, para nós, são os nossos inimigos”, afirmou.

“Quanto mais sensíveis a Deus nos tornamos, mais sensíveis nos tornamos aos outros, à humanidade que ‘sofre e geme, aguardando a manifestação dos filhos de Deus’” (cf. Rm 8,19), complementou Magna.

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