Maria Madalena: História, tradição e lendas da primeira testemunha da Ressurreição

Natural de Mágdala, na Galileia, Maria Madalena, após sua cura e conversão, colocou-se a serviço do Reino de Deus

Mosaico Maria Madalena – Mark Ivan Rupnik

No dia 22 de julho, a Igreja celebra a memória litúrgica de Santa Maria Madalena. A mulher que foi curada por Jesus, passou por um processo de conversão e se tornou uma fiel seguidora do Cristo. Seu testemunho é encontrado nos Evangelhos: “Os Doze estavam com ele, e também mulheres que tinham sido curadas de espíritos maus e de doenças. Maria, dita de Mágdala, da qual haviam saído sete demônios” (Lc 8,1-2).

Natural de Mágdala, na Galileia, Maria Madalena, após sua cura e conversão, colocou-se a serviço do Reino de Deus, que a levou até o momento mais difícil da missão: “Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena” (Jo 19,25). Ela também foi a primeira testemunha da Ressurreição de Jesus: “Então, Jesus disse: ‘Maria!’ Ela voltou-se e exclamou, em hebraico: ‘Rabôni!’, que quer dizer: Mestre” (Jo 20,16).

HISTÓRIA, TRADIÇÃO E LENDAS

Mosaico Deposição da Cruz, 2006 – Mark Ivan Rupnik

“Para os cristãos, o mais relevante e importante é que Maria Madalena é a prova de que, mais que uma doutrina, o Cristianismo é um encontro, uma experiência pessoal. Um encontro com o amor, única possibilidade para poder mudar radicalmente a vida, dando-lhe sentido. Maria Madalena é o exemplo desse encontro”, disse ao O SÃO PAULO a pesquisadora e doutora em Ciências da Religião, Wilma Steagall de Tommaso, autora do livro “Maria Madalena – história, tradição e lendas”, da editora Paulus.

A obra é um desdobramento da pesquisa de três anos de mestrado da autora, que procurou desvendar o que são fatos e o que são lendas nas diversas tradições sobre esta Santa que é uma das figuras mais importantes da Igreja nascente.

SANTA MARIA MADALENA NA ARTE SACRA

Segundo a doutora Wilma, Maria Madalena foi retratada de diferentes formas ao longo da história da Igreja, sofrendo o que denominou ser uma espécie de “plástica cultural”.  

No século III, era reconhecida com “Apóstola dos Apóstolos”, por ser a mulher que anunciou aos seguidores de Jesus que Ele havia ressuscitado (cf. Jo,20). Nos séculos XVIII e XIX, foi injustamente retratada como prostituta e, na atualidade, desde o pós-Concílio Vaticano II, é celebrada como a primeira testemunha da Ressurreição.

“Na época da Contrarreforma (século XVI), foi a Penitente que se despoja do luxo, das joias, do mundo, para viver como eremita em jejum e oração seu arrependimento dos pecados no combate aos protestantes que não acreditavam no sacramento da Reconciliação”, completou a pesquisadora.

MAL-ENTENDIDO HISTÓRICO

Cláudio Pastro. Betânia 1991. Têmpera sobre eucatex.

Segundo a doutora, seu estudo foi fundamental para discernir os fatos que são historicamente comprovados daqueles que, embora contenham alguma lógica possível, foram descartados por falta total de provas ou conteúdo.

Segundo o Cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura, foi por algumas interpretações equivocadas das passagens que narram a conversão de Maria Madalena, como a que Jesus expulsa os sete demônios, que surgiu um “mal-entendido radical”. “Em si mesma, essa expressão na linguagem bíblica poderia indicar um mal físico ou moral muito grave (sete é o número da plenitude) que afetara a mulher e da qual Jesus a libertara.”

“Isso aconteceu apenas porque na página anterior do Evangelho – capítulo 7 de Lucas – é narrada a história da conversão de uma ‘pecadora anônima conhecida nessa cidade’, aquela que derramou nos pés de Jesus óleo perfumado na casa de um fariseu notável, os banhara com suas lágrimas e os secava com seus cabelos. Assim, sem nenhuma conexão textual real, Maria Madalena havia sido identificada com aquela prostituta sem nome”, disse o Cardeal Ravasi, em 2016, na ocasião em que o Papa Francisco elevou a memória litúrgica de Santa Maria Madalena à festa igual aos apóstolos.

CONVERSÃO E HUMANIDADE

El Greco. Madalena Penitente com a cruz. 1587-1596

Para o Padre Mark Ivan Rupnik, um dos mais importantes artistas da arte sacra na atualidade e também responsável pelo prefácio do livro, Maria Madalena se tornou a imagem da humanidade nova, da comunidade eclesial, a humanidade redimida do Filho de Deus.

“A chave da leitura que Maria Madalena nos deu é a do amor […] Portanto, é extremamente importante e enriquecedor realizar uma pesquisa artística sobre essa mulher, sempre com estrito rigor, o objetivo de trazer à tona a autenticidade, a grandeza e o brilho dessa figura tão significativa na primeira Igreja”, reiterou o Padre.

“Cada membro da Igreja que caminha para a salvação deveria se identificar com Maria Madalena, a pecadora (como todos nós) que muito amou (como deveríamos). Ter sido uma pecadora fez Maria Madalena muito humana, seu exemplo se torna para o cristão a esperança da salvação apesar das fraquezas, dos pecados e da culpa inerentes à humanidade”, concluiu Wilma Tommaso.

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jose
jose
1 ano atrás

oi