Papa: ‘Que a Santíssima Trindade nos faça crescer na unidade’

Cardeal Kurt Koch reza com líderes cristãos diante do túmulo de São Paulo (Foto: Vatican Media)

“Permanecei no meu amor” (Jo 15, 9). Com essas palavras de Jesus Cristo, o Papa Francisco iniciou sua homilia para a celebração das Segundas Vésperas da Festa da Conversão de São Paulo, nesta segunda-feira, 75, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma.

Devido a uma ciatalgia (fortes dores no nervo ciático), o Pontífice não presidiu a celebração, sendo substituído pelo Presidente do Pontifício Conselho para a promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch. Essa liturgia marcou a conclusão da 54ª Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Como nos anos anteriores, participaram da celebração representantes de diferentes comunidades cristãs.

No texto, lido pelo Cardeal Koch, o Santo Padre destaca a imagem da videira e o ramos apresentada por Jesus. “O próprio Senhor é a videira, a videira ‘verdadeira’, que não trai as expectativas, mas permanece fiel no amor e nunca falha, apesar dos nossos pecados e divisões. Nesta videira que é Ele, estamos enxertados como ramos todos nós, batizados: quer dizer que só unidos a Jesus é que podemos crescer e dar fruto. Nesta tarde, contemplemos esta unidade indispensável, que tem vários níveis. Pensando na videira, poderíamos imaginar a unidade formada por três círculos concêntricos, como os dum tronco”, ressaltou o Papa.

Permanecer n’Ele

“O primeiro círculo, o mais interno, é o permanecer em Jesus. Daqui parte o caminho de cada um rumo à unidade. Na realidade mutável e complexa de hoje, arrastados daqui e dali, é fácil perder a linha. Muitos se sentem intimamente divididos, incapazes de encontrar um ponto firme, uma estrutura estável nas circunstâncias variáveis da vida. Jesus nos indica o segredo da estabilidade: permanecer n’Ele”, acrescentou o Pontífice.

Segundo Francisco, Jesus nos mostrou como fazer isso, “dando-nos o exemplo: cada dia retirava-se em lugares desertos para orar. Precisamos da oração, como de água, para viver. Centrados em Jesus na oração, experimentamos o seu amor. E daí recebe vida a nossa existência, como o ramo que toma a seiva do tronco. Esta é a primeira unidade, a nossa integridade pessoal, obra da graça que recebemos permanecendo em Jesus”.

Unidade com os cristãos

O segundo círculo é “o da unidade com os cristãos”. “Somos ramos da mesma videira, somos vasos comunicantes: o bem e o mal que realiza cada um reverte-se sobre os outros. Além disso, na vida espiritual, vigora uma espécie da ‘lei da dinâmica’: na medida em que permanecemos em Deus, aproximamo-nos dos outros e, na medida em que nos aproximamos dos outros, permanecemos em Deus. Significa que, se invocarmos Deus em espírito e verdade, daí brota a exigência de amar os outros e, vice-versa, ‘se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós’”, escreveu o Papa.

O Santo padre acrescentou que a oração só pode levar ao amor, caso contrário é vão ritualismo. “Com efeito, não é possível encontrar Jesus sem o seu Corpo, composto de muitos membros, tantos quantos são os batizados. Se a nossa adoração for genuína, cresceremos no amor por todos aqueles que seguem Jesus, independentemente da comunhão cristã a que pertençam, porque, mesmo se não são ‘dos nossos’, são d’Ele”.

Segundo o Papa, “constatamos que amar os irmãos não é fácil, porque se apresentam imediatamente os seus defeitos e as suas faltas, e voltam à mente as feridas do passado”.

“Aqui vem em nosso auxílio a ação do Pai que, como sábio agricultor, sabe bem o que fazer: ‘Ele corta todo o ramo que não dá fruto em Mim e poda o que dá fruto, para que dê mais fruto ainda’. O Pai corta e poda. Porquê? Porque, para amar, precisamos de ser despojados daquilo que nos extravia e nos faz debruçar sobre nós mesmos, impedindo-nos de dar fruto. Por isso peçamos ao Pai para cortar em nós os preconceitos contra os outros e os apegos mundanos que impedem a plena unidade com todos os seus filhos. Assim, purificados no amor, saberemos colocar em segundo plano os empecilhos terrenos e os obstáculos doutrora, que hoje nos desviam do Evangelho”, reforça.

Humanidade inteira

O terceiro círculo indicado por Francisco é da unidade, o mais amplo, que se refere à a humanidade inteira. “Neste âmbito, podemos refletir sobre a ação do Espírito Santo. Na videira que é Cristo, Ele é a seiva que chega a todas as partes. Mas o Espírito sopra onde quer, e por todo o lado quer reconduzir à unidade. Leva-nos a amar não só àqueles que nos amam e pensam como nós, mas a todos, como Jesus nos ensinou. Torna-nos capazes de perdoar aos inimigos, e as injustiças sofridas. Impele-nos a ser ativos e criativos no amor. Lembra-nos que o próximo não é só quem partilha os nossos valores e ideias, mas que somos chamados a fazer-nos próximo de todos, bons Samaritanos duma humanidade vulnerável, pobre e sofredora – hoje, tão sofredora –, que jaz por terra nas estradas do mundo e que Deus, na sua compaixão, deseja levantar”, explixou.

O Pontífice enfatizou que Espírito Santo, autor da graça, ajuda a viver na gratuidade, “a amar mesmo quem não nos retribui, porque é no amor puro e desinteressado que o Evangelho dá fruto”. “É pelos frutos que se reconhece a árvore: pelo amor gratuito, se reconhece se pertencemos à videira de Jesus”, completou.

(Foto: Vatican Media)

Rezar pela unidade

Segundo o Papa, “o Espírito Santo nos ensina, assim, o amor concreto por todos os irmãos e irmãs com quem partilhamos a mesma humanidade, aquela humanidade que Cristo uniu inseparavelmente a Si, dizendo-nos que O encontraremos sempre nos mais pobres e necessitados”

“Servindo-os juntos, descobrir-nos-emos irmãos e cresceremos na unidade. O Espírito, que renova a face da terra, exorta-nos também a cuidar da nossa casa comum, a fazer opções ousadas no modo como vivemos e consumimos, porque o contrário de dar fruto é a exploração, e é indigno desperdiçar os preciosos recursos de que muitos estão privados”, acrescentou.

“Nesta tarde o próprio Espírito, artífice do caminho ecumênico, levou-nos a rezar juntos. E ao mesmo tempo que experimentamos a unidade que deriva de nos dirigirmos a Deus com uma só voz, desejo agradecer a todos aqueles que rezaram nesta Semana e continuarão rezando pela unidade dos cristãos”, ressaltou Francisco.

Ao dirigir sua saudação aos presentes, o Santo Padre expressou: “Queridos irmãos e irmãs, permaneçamos unidos em Cristo! Que o Espírito Santo, derramado nos nossos corações, nos faça sentir filhos do Pai, irmãos e irmãs entre nós, irmãos e irmãs na única família humana. Que a Santíssima Trindade, comunhão de amor, nos faça crescer na unidade”.

(Com informações de Vatican News)

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