Proteção de menores: formação do caráter e das virtudes é indispensável aos futuros padres

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, participou, no dia 4, do Congresso Internacional sobre a Proteção de Menores e das Pessoas Vulneráveis.

O evento on-line foi organizado pelo Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro e Extensões de Goiânia e Londrina; a Sociedade Brasileira de Canonistas (SBC); o curso de Teologia da PUC-Goiás; o Instituto Superior de Direito Canônico Santa Catarina e a Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo, com o apoio das Arquidioceses de Goiânia (GO) e de Londrina (PR).

Dom Odilo fez uma conferência sobre as medidas de prevenção a serem tomadas no processo de formação nos seminários contra os abusos e delitos cometidos por clérigos. “Devemos fazer um grande esforço, em todas as frentes, para que os abusos de menores e pessoas vulneráveis não aconteçam e sejam evitados de toda forma”, disse o Cardeal, explicando sua intenção de lidar com o assunto não como um canonista, mas “a partir de um olhar de pastor muito interessado em que este tema seja tratado e enfrentado”.

Discernimento e atenção

Dom Odilo partiu da Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis (2016), as mais recentes diretrizes da Santa Sé sobre a formação dos sacerdotes, que ressalta que deve ser dada a máxima atenção a esse assunto, cuidando para que aqueles que pedem a admissão a uma casa de for mação “não tenham, por qualquer modo, incorrido em delitos ou situações problemáticas neste âmbito”.

Sobre esse aspecto, o Arcebispo destacou que já na seleção e acompanhamento dos candidatos ao seminário, é preciso discernir e identificar se existem sinais que façam suspeitar de desvios de comportamento sexual e afetivo.

Essa atenção criteriosa também deve se dar nos anos seguintes do processo formativo, quando há a possibilidade de um conhecimento melhor de cada seminarista por meio do convívio cotidiano. Para isso, requer-se dos formadores o devido preparo, idoneidade e a assídua presença junto dos candidatos. Quando identificados sinais de fragilidade ou desiquilíbrio no âmbito afetivo e sexual, o candidato não pode prosseguir para as etapas seguintes da formação até que essas questões sejam acompanhadas com maior cuidado e, quando houver problemas evidentes, deve ocorrer o devido afastamento.

Valores

Outro aspecto enfatizado pelo Cardeal é quanto à formação do caráter. “Isso tem a ver com a verdade, transparência, firmeza de vontade, capacidade de escolha, honestidade, retidão, senso moral”, sublinhou, acrescentando que a formação do caráter também está relacionada com a formação dos valores morais e o cultivo das virtudes.

“Nesse sentido, o ambiente cultural atual dificulta a formação do caráter, porque existem antropologias que desprezam a questão da vontade, da escolha, dos valores, colocando o sentimento e a emoção como valor máximo”, salientou Dom Odilo.

O Arcebispo frisou, ainda, a necessidade da devida formação sobre o valor da castidade. “Temos que nos perguntar se nossos jovens estão, de fato, sendo formados acerca dessa virtude. Porque parece que a castidade virou algo ultrapassado ou um tabu… Quem não consegue cultivar a castidade durante o seminário, vai cultivá-la depois da ordenação?”, indagou o Cardeal.

Para isso, Dom Odilo destacou a necessidade de uma formação madura e consciente a respeito da sexualidade em vista do cultivo de um sadio autodomínio e, consequentemente, da renúncia própria dessa vocação. “Não é manter a pessoa na ignorância, mas educá-la para escolher o valor”, completou.

Vida espiritual

O Cardeal acrescentou que para evitar delitos morais, é imprescindível uma sólida formação espiritual dos futuros padres, por meio da qual se estabelece um verdadeiro encontro com Deus, do qual se recebe a graça e a força para superar as fragilidades humanas e as tentações. “Isso deve ser assimilado como um valor ao longo do período da formação para que, com a graça de Deus, com o auxílio que vem do alto, na humildade, perseveremos até o fim”.

O Arcebispo ressaltou, por fim, a importância de que a formação humana e espiritual não se resuma ao período do seminário, mas seja uma realidade contínua na vida do sacerdote e na vida doada ao povo, por meio de um fecundo exercício do ministério sacerdotal.

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