São José: aquele que sempre agiu com o coração de pai

A Solenidade de São José, celebrada na sexta-feira, 19, tem em 2021 um sentido especial, pois acontece no contexto do Ano de São José, instituído pelo Papa Francisco, em dezembro de 2020, para celebrar os 150 anos do decreto Quemadmodum Deus, pelo qual, em 8 de dezembro de 1870, o Beato Pio IX declarou o Esposo da Virgem Maria como Padroeiro da Igreja Católica.

Imagem de São José e do Menino Jesus na biblioteca do Palácio Apostólico no Vaticano; Papa Francisco publicou em 8 de dezembro a carta Patris corde (foto: Vatican Media)

Para demarcar as comemorações, o Papa Francisco publicou a carta apostólica Patris corde (Com coração de pai), que tem por objetivo “aumentar o amor por este grande Santo, para nos sentirmos impelidos a implorar a sua intercessão e para imitarmos as suas virtudes e o seu desvelo”, explicou o Papa.

Francisco menciona títulos atribuídos a São José ao longo da história (leia mais abaixo), ressalta que o Santo amou Jesus “com coração de pai” e apresenta sete características paternais de São José. 

PAI AMADO

O Papa faz menção a uma homilia de São Paulo VI, do ano de 1966, na qual se destaca que a paternidade de São José se exprimiu “em ter feito da sua vida um serviço, um sacrifício, ao mistério da encarnação e à conjunta missão redentora; em ter usado da autoridade legal que detinha sobre a Sagrada Família para lhe fazer dom total de si mesmo, da sua vida, do seu trabalho; em ter convertido a sua vocação humana ao amor doméstico na oblação sobre-humana de si mesmo, do seu coração e de todas as capacidades no amor colocado a serviço do Messias nascido na sua casa”.

PAI NA TERNURA

O Pontífice recorda os gestos de ternura de São José com o Menino Jesus, como o de lhe ensinar a andar, de lhe dar o alimento, e lembra que “a vontade de Deus, a sua história e o seu projeto passam também por meio da angústia de José. Assim, ensina-nos que ter fé em Deus inclui também acreditar que Ele pode intervir, inclusive por meio dos nossos medos, das nossas fragilidades, da nossa fraqueza”.

PAI NA OBEDIÊNCIA

O Santo Padre mostra como São José foi obediente a Deus ao aceitar a gravidez de Maria, fugir com ela e o Menino para o Egito, regressar a Israel e se retirar para Nazaré no momento oportuno. O Pontífice lembra, ainda, que, com São José, Cristo “aprendeu a fazer a vontade do Pai”.

Francisco recorda um trecho da exortação apostólica Redemptoris custos, de São João Paulo II, na qual se aponta que “José foi chamado por Deus para servir diretamente a Pessoa e a missão de Jesus, mediante o exercício da sua paternidade: desse modo, precisamente, ele coopera no grande mistério da Redenção, quando chega a plenitude dos tempos, e é verdadeiramente ministro da salvação”. 

PAI NO ACOLHIMENTO

O Papa retoma uma de suas homilias do ano de 2017, na qual afirma que “José acolhe Maria sem colocar condições prévias. Confia nas palavras do anjo. A nobreza do seu coração fá-lo subordinar à caridade aquilo que aprendera com a lei; (…) apresenta-se como figura de homem respeitoso, delicado que, mesmo não dispondo de todas as informações, se decide pela honra, dignidade e vida de Maria”. 

Ainda de acordo com o Pontífice, “o acolhimento de José convida-nos a receber os outros, sem exclusões, tal como são, reservando uma predileção especial pelos mais frágeis”.

PAI COM CORAGEM CRIATIVA

Francisco enaltece o Carpinteiro de Nazaré como aquele que, com coragem criativa, soube transformar problemas em oportunidades, “antepondo sempre a sua confiança na Providência”, de modo que “Deus confia neste homem, e o mesmo faz Maria, que encontra em José aquele que não só lhe quer salvar a vida, mas sempre a sustentará, ela e o Menino. Nesse sentido, São José não pode deixar de ser o Guardião da Igreja, porque a Igreja é o prolongamento do Corpo de Cristo na história, e, ao mesmo tempo, na maternidade da Igreja, espelha-se a maternidade de Maria”, escreve o Papa, destacando que todos devem aprender com São José a amar o Menino, sua Mãe, os sacramentos, a caridade, a Igreja e os pobres.

PAI TRABALHADOR

O Santo Padre recorda que José, um carpinteiro, é sempre lembrado por sua relação com o trabalho. “Com ele, Jesus aprendeu o valor, a dignidade e a alegria do que significa comer o pão, fruto do próprio trabalho”, indicando, assim, “que o próprio Deus feito homem não desdenhou o trabalho”.

PAI NA SOMBRA

A figura de José é para Jesus a sombra, na terra, do Pai celeste, modelo a ser seguido pelos pais na educação dos próprios filhos:

“Ser pai significa introduzir o filho na experiência da vida, na realidade. Não segurá-lo, nem prendê-lo, nem subjugá-lo, mas torná-lo capaz de opções, de liberdade, de partir. Talvez seja por isso que a Tradição, referindo-se a José, ao lado do apelido de pai colocou também o de ‘castíssimo’. Não se trata de uma indicação meramente afetiva, mas é a síntese de uma atitude que exprime o contrário da posse. A castidade é a liberdade da posse em todos os campos da vida. Um amor só é verdadeiramente tal, quando é casto. O amor que quer possuir acaba sempre por se tornar perigoso: prende, sufoca, torna infeliz. O próprio Deus amou o homem com amor casto, deixando-o livre inclusive para errar e se opor a Ele. A lógica do amor é sempre uma lógica de liberdade, e José soube amar de maneira extraordinariamente livre. Nunca se colocou a si mesmo no centro; soube descentralizar-se, colocar Maria e Jesus no centro da sua vida”, escreve o Papa.

TÍTULOS ATRIBUÍDOS A SÃO JOSÉ

Padroeiro da Igreja Católica

Por meio do decreto Quemadmodum Deus, da Sagrada Congregação dos Ritos, o Papa Pio IX, “consternado pela recentíssima e funesta situação das coisas, para confiar a si mesmo e os fiéis ao potentíssimo patrocínio do Santo Patriarca José (…) solenemente declarou-o Patrono da Igreja Católica”, como consta no documento datado de 8 de dezembro de 1870.

Padroeiro dos Operários

Em 1o de maio de 1955, o Papa Pio XII instituiu a festa de São José Operário e apresentou o Santo como Padroeiro dos Operários. “Trabalhadores e trabalhadoras, agrada-vos o nosso dom? Temos certeza de que sim, porque o humilde artesão de Nazaré não só personifica junto a Deus e à Santa Igreja a dignidade do trabalhador, mas é também sempre providente guardião vosso e de vossas famílias”, declarou o Pontífice na Praça São Pedro.

Guardião do Redentor

Em 15 de agosto de 1989, por meio da exortação apostólica Redemptoris custos, São José foi declarado por São João Paulo II como Guardião do Redentor: “Desejo apresentar à vossa consideração, amados irmãos e irmãs, algumas reflexões sobre aquele a quem Deus ‘confiou a guarda dos seus tesouros mais preciosos’. É para mim uma alegria cumprir este dever pastoral, no intuito de que cresça em todos a devoção ao Patrono da Igreja universal e o amor ao Redentor, que ele serviu de maneira exemplar”.

Padroeiro da Boa Morte

Essa é uma invocação a São José, consagrada pela devoção popular e também mencionada no Catecismo da Igreja Católica: “A Igreja nos encoraja à preparação da hora de nossa morte (‘Livrai-nos, Senhor, de uma morte súbita e imprevista’: antiga ladainha de todos os santos), a pedir à Mãe de Deus que interceda por nós ‘na hora da nossa morte’ (oração da ‘Ave-Maria’) e a entregar-nos a São José, Padroeiro da Boa Morte” (CIC, 1014).

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