Comunicar com o coração, testemunhando a verdade no amor

O SÃO PAULO apresenta os principais aspectos abordados na mensagem do Papa Francisco para o 57º Dia Mundial das Comunicações Sociais

Realizado pela primeira vez em 1967 e celebrado no Domingo da Ascensão do Senhor, o Dia Mundial das Comunicações Sociais chega à sua 57ª edição, este ano em 21 de maio, com o tema Falar com o coração. Testemunhando a verdade no amor”.

“Foi o coração que nos moveu para ir, ver e escutar [verbos que nortearam as mensagens de anos anteriores], e é o coração que nos move para uma comunicação aberta e acolhedora. Após o nosso treino na escuta, que requer saber esperar e paciência, e o treino na renúncia a impor em detrimento dos outros o nosso ponto de vista, podemos entrar na dinâmica do diálogo e da partilha que é, em concreto, comunicar cordialmente. E, se escutarmos o outro com coração puro, conseguiremos também falar testemunhando a verdade no amor (cf. Ef 4,15)”, escreve o Papa Francisco na introdução da mensagem.

A realização de um dia voltado às comunicações foi algo proposto no Concílio Vaticano II e está indicado no decreto conciliar Inter mirifica (IM), de 1966: “Para que se revigore o apostolado da Igreja em relação com os meios de comunicação social, deve celebrar-se em cada ano, em todas as dioceses do mundo, um dia em que os fiéis sejam ensinados a respeito das suas obrigações nesta matéria, convidados a orar por esta causa e a dar uma esmola para este fim, a qual se destina a sustentar e a fomentar as instituições e as iniciativas promovidas pela Igreja nesta matéria” (IM 18).

AMOR, VERDADE E ENCONTRO

Na mensagem deste ano, Francisco enfatiza que o cristão não deve ter medo de proclamar a verdade, ainda que incômoda, e precisa fazê-lo com o coração puro.

“Trata-se de um coração que revela, com o seu palpitar, o nosso verdadeiro ser e, por essa razão, deve ser ouvido. Isso leva o ouvinte a sintonizar-se no mesmo comprimento de onda, chegando ao ponto de sentir no próprio coração também o pulsar do outro. Então, pode ter lugar o milagre do encontro, que nos faz olhar uns para os outros com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito, em vez de julgar a partir dos boatos, semeando discórdia e divisões”, afirma o Pontífice, destacando que esse falar com o coração é indispensável em um mundo “tão propenso à indiferença e à indignação, baseada, por vezes, até na desinformação que falsifica e instrumentaliza a verdade”.

COMUNICAÇÃO ATENTA AO PRÓXIMO

O Papa também lembra que é preciso comunicar cordialmente, de modo que “a pessoa que nos lê ou escuta seja levada a deduzir a nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens do nosso tempo. Quem assim fala, ama o outro, pois preocupa-se com ele e salvaguarda a sua liberdade, sem a violar”.

O Pontífice destaca que essa comunicação “de coração e braços abertos” deve ser uma preocupação não apenas dos agentes de informação: “Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor. De modo particular nós, cristãos, somos exortados a guardar continuamente a língua do mal (cf. Sl 34,14)”.

Francisco também exorta que nos meios de comunicação de massa não se fomente uma comunicação que gere ódio e conduza ao confronto, “mas que se ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade onde vivem”.

COM CORAGEM E LIBERDADE, A EXEMPLO DE SÃO FRANCISCO DE SALES

Na mensagem, o Papa enaltece São Francisco de Sales (1567-1622), Doutor da Igreja e que há cem anos, em 1923, foi declarado padroeiro dos jornalistas católicos.

“Francisco de Sales foi bispo de Genebra no início do século XVII, em anos difíceis, marcados por animadas disputas com os calvinistas. A sua mansidão, humanidade e predisposição em dialogar pacientemente com todos, e de modo especial com quem se lhe opunha, fizeram dele uma extra- ordinária testemunha do amor misericordioso de Deus”.

O Pontífice lembra ainda que o Santo ensinou que somos aquilo que comunicamos“uma lição contra-corrente hoje, num tempo em que, como experimentamos particularmente nas redes sociais, a comunicação é muitas vezes instrumentalizada para que o mundo nos veja, não por aquilo que somos, mas como desejaríamos ser”.

“Possam os agentes da comunicação sentir-se inspirados por este Santo da ternura, procurando e narrando a verdade com coragem e liberdade, mas rejeitando a tentação de usar expressões sensacionalistas e agressivas”, exorta o Papa.

NA IGREJA, UMA COMUNICAÇÃO COM DEUS E COM O PRÓXIMO

Como já afirmara em outras ocasiões, na mensagem deste ano o Papa reforça que também na Igreja “há grande necessidade de escutar e de nos escutarmos”, e lembra que tal escuta deve ser “sem preconceitos, atenta e disponível”, uma comunicação “que inflame os corações, seja bálsamo nas feridas e ilumine o caminho dos irmãos e irmãs”.

Nessa perspectiva, Francisco confidencia: “Sonho uma comunicação eclesial que saiba deixar-se guiar pelo Espírito Santo, gentil e ao mesmo tempo profética, capaz de encontrar novas formas e modalidades para o anúncio maravilhoso que é chamada a proclamar no terceiro milênio. Uma comunicação que coloque no centro a relação com Deus e com o próximo, especialmente o mais necessitado, e esteja mais preocupada em acender o fogo da fé do que em preservar as cinzas de uma identidade autorreferencial”.

PROMOVER A LINGUAGEM DA PAZ

Na parte final da mensagem, Francisco conclama que este “falar com o coração” ajude a promover uma cultura de paz e abrir sendas de diálogo e reconciliação.

“No dramático contexto de conflito global que estamos vivendo, urge assegurar uma comunicação não hostil. É necessário vencer ‘o hábito de denegrir rapidamente o adversário, aplicando-lhe atributos humilhantes, em vez de se enfrentarem num diálogo aberto e respeitoso’. Precisamos de comunicadores prontos a dialogar, ocupados na promoção de um desarmamento integral e empenhados em desmantelar a psicose bélica que se aninha nos nossos corações, como exortava profeticamente São João XXIII na encíclica Pacem in terris [de 1963]: ‘A verdadeira paz entre os povos não se baseia em tal equilíbrio [de armamentos], mas, sim, e exclusivamente, na confiança mútua’ (n° 113)”.

Francisco conclama que se rejeite toda a retórica belicista, assim como toda a forma de propaganda que manipula a verdade, deturpando-a com finalidades ideológicas. “Em vez disso, seja promovida, em todos os níveis, uma comunicação que ajude a criar as condições para se resolverem as controvérsias entre os povos”.

“Que o Senhor Jesus, Palavra que Se fez carne, nos ajude a colocarmos à escuta do palpitar dos corações, para nos reconhecermos como irmãos e irmãs e desativarmos a hostilidade que divide”, conclui o Pontífice.

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