A missão de ir além dos lugares habituais para levar o testemunho de Cristo é parte da fundação da Igreja. “Sereis minhas testemunhas até os confins do mundo.” (At 1,8)
Por Nathalia Santos

Desde os apóstolos, evangelização e comunicação andam de mãos dadas. No início, ela era feita de forma oral, escrita. Depois, veio a imprensa. A palavra se tornou impressa e começou a ser transmitida por meio do rádio e da TV, sempre guiada pelo Espírito Santo. Inspirado por esse mesmo Espírito, Carlo Acutis, em 2004, fez de sua vida um testemunho de fé, criando o site Miracoli Eucaristici (https://www.miracolieucaristici.org).
Atualmente, outros jovens seguem esse caminho, levando a missão de evangelizar também às redes sociais.
‘Se a nossa experiência primeira é com Deus, avante!’

“São João Paulo II chamava esse ambiente de ‘Areópagos’; Bento XVI falava em ‘Continente Digital’; Francisco preferia a imagem de ‘Rodovias Digitais’”, relembrou Ronnaldh Oliveira, jornalista, pós-graduado em influência digital e especialista em juventude.
Ronnaldh (@oronnaldh) começou na profissão como repórter, passou pela comunicação da Companhia de Jesus e, em 2019, iniciou no Instagram sua missão de dialogar com os jovens. O trabalho o levou a integrar, em 2024, a comissão de Missionários Digitais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que apoia e reconhece evangelizadores no “Continente Digital.”
Em janeiro, ele esteve no Vaticano para representar os comunicadores católicos brasileiros em encontro com o Papa Francisco.
“Francisco falava em ‘samaritanar’, chegar aonde ninguém consegue e reconhecer que, por trás de cada tela, existe uma pessoa com sonhos, desafios e esperanças. Se a nossa experiência primeira é com Deus, avante! Porque essa missão é nossa, e o Espírito sopra onde quer.”
Existe diferença entre o influenciador digital e o missionário digital, ressaltou Ronnaldh. Ele exemplificou dizendo que um médico, um cantor, um artista pode ser um influenciador cristão que mostra a vivência da fé em sua rotina. No entanto, o missionário digital compartilha o testemunho de uma experiência espiritual concreta e profunda com Deus. Ele não guarda isso para si; sente-se chamado a anunciar. “Se não houver espiritualidade, vira teatro.”, enfatizou.
Para os que se sentem chamados a evangelizar e testemunhar nas redes, o comunicador afirma que o início não é fácil. Entre os principais desafios estão a polarização das redes e os discursos de ódio. Por isso, ele destacou que é preciso estudar, rezar, cultivar uma vida comunitária e ter unidade com a Igreja.
Evangelização que alcança milhares de pessoas

Em setembro de 2024, Michele Alves, que atua no mundo corporativo e descobriu na comunicação sua vocação, começou a compartilhar no TikTok (@michelembalves) registros de viagens ao Vaticano e a santuários europeus. O interesse do público a levou, em janeiro deste ano, a transmitir diariamente suas orações do Terço. Atualmente, ela também compartilha a Quaresma de São Miguel e conteúdos da espiritualidade católica com mais de 30 mil seguidores.
Michele disse que por muitas vezes já pediu a intercessão de Carlo Acutis, principalmente frente aos desafios da evangelização, já que essa não é uma tarefa fácil. Entre as dificuldades, ela citou as próprias plataformas que não são acolhedoras a esse tipo de conteúdo. Recorrentemente, por exemplo, suas transmissões são derrubadas pelo simples fato de ter uma imagem no vídeo. “É justamente por isso que precisamos estar lá. É ali que muitos jovens passam o tempo, às vezes buscando até informações para tirar a própria vida. Se conseguirmos chegar até eles com a mensagem do Evangelho, já vale toda a luta”, reforçou.
‘Não é sobre números, é sobre almas’

Em seu Instagram, a social media Bia Rabelo (@biarabelu) compartilha sua fé e vocação. A inspiração para produzir o conteúdo vem da própria experiência pessoal. “Quando encontrei em Jesus a resposta para as minhas carências, dores e inquietações, percebi que muitas pessoas também buscavam isso. Então, meu coração ardeu em querer compartilhar, porque eu sei o quanto Ele pode transformar a vida de alguém”, explicou.
Bia evangeliza nas redes sociais desde outubro de 2019. Com a experiência adquirida nos últimos anos, ela deixou uma mensagem para aqueles que desejam iniciar um apostolado semelhante: “Comece pequeno, mas comece com verdade. Não queira ser perfeito, queira ser sincero. Não é sobre números, é sobre almas. Se uma única pessoa for tocada pelo que você postar, valeu a pena. E nunca se esqueça: antes de ser evangelizador, você é um filho amado de Deus”.
Pascom, missão de comunicação e evangelização
“Assim como Cristo é o primeiro enviado, isto é missionário do Pai (cf.Jo 20,21) e, como tal, é a sua testemunha fiel (cf.Ap 1,5). Assim, cada cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. E a Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, não tem outra missão senão a de evangelizar o mundo.”, disse o Papa Francisco na alocução para o Mês das Missões de 2022.
Mais do que um canal de informações, a Pastoral da Comunicação (Pascom) deve ser fonte de evangelização. ‘Pasconeiro’, faça com que as redes sociais da sua paróquia levem um convite para que as pessoas conheçam profundamente a vivência da fé em Cristo; traga a espiritualidade para esses canais, isso também é parte da missão. Levar a Palavra de Deus além das paredes da Igreja é um dever pastoral.
E como fazer?
- Envolvendo a comunidade, apresentando seus testemunhos reais;
- Trazendo conteúdos de direcionamento espiritual, por meio de recortes breves das homilias do seu pároco;
- Fazendo dos perfis um espaço acolhedor e informativo.
Agente da Pascom, do mesmo modo que Carlo Acutis enxergou as tecnologias do seu tempo como ferramentas de evangelização, façamos o mesmo. Usemos as redes sociais como uma versão atualizada das redes de São Pedro, pois a técnica da pesca pode ter mudado um pouco, mas a missão de conduzir as pessoas para Deus permanece a mesma.