A internet se tornou uma grande oportunidade para a evangelização no século XXI, mas é importante ficar atento às ‘ciladas on-line’
Você sabia que é possível ser missionário sem sair de sua casa? Mas como? Por meio do seu smartphone! O ambiente digital também é um lugar para comunicar Jesus – Mestre, Caminho, Verdade e Vida – às pessoas.
Isso é tão verdade que atualmente diversas pessoas usam as redes sociais digitais e outras plataformas on-line para divulgar mensagens religiosas e espirituais. Trata-se de um verdadeiro fenômeno de influenciadores digitais da fé.
TER JESUS COMO O CENTRO
Ao mesmo tempo em que a cultura digital oferece inúmeras oportunidades para a missão, não se pode negar os riscos que ela também apresenta para a evangelização e a vivência da fé católica.
Assim está escrito no parágrafo 254 do Diretório de Comunicação da Igreja no Brasil: “Em muitos casos, é necessário um profundo discernimento para que a presença e a influência de presbíteros, religiosas e religiosos, leigas e leigos em rede não manifeste aquilo que o Papa Francisco denuncia como mundanismo espiritual. Isto é, aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja que não buscam a glória do Senhor, mas promovem apenas a glória humana, os próprios interesses, o bem-estar pessoal, um cuidado excessivo com a aparência ou um exibicionismo com a liturgia, com a doutrina e com o prestígio da Igreja, um elitismo narcisista e autoritário do ponto de vista moral ou doutrinal (cf. Evangelii gaudium 93-95)”.
Na carta pastoral “Tudo por causa do Evangelho”, publicada em 2023, Dom Valdir José de Castro, SSP, Bispo de Campo Limpo (SP) e Presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), lembra que “Jesus é a nossa primeira referência na comunicação” e que “graças também ao desenvolvimento das tecnologias digitais, temos muitas possibilidades de nos comunicar. As redes sociais são exemplos claros. Nas relações presenciais ou no mundo conectado, três atitudes, entre outras, são fundamentais na busca de uma comunicação geradora de comunhão. Destacamos a escuta, o diálogo e o discernimento”.
DESAFIOS PASTORAIS
A convite da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, os pesquisadores Fernanda de Farias Medeiros, Aline Amaro da Silva, Alzirinha Rocha de Souza, Moisés Sbardelotto e Vinícius Borges Gomes realizaram uma pesquisa sobre o universo da influência digital católica. Os resultados estão apresentados no livro “Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas”, publicado pelas editoras Ideias & Letras e Paulus.
Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte (MG), estava à frente desta Comissão Episcopal quando da realização dessa pesquisa. Ele recorda que foram mapeados como principais os seguintes desafios pastorais do fenômeno dos influenciadores digitais católicos:
- Fazer influência digital com sólido, indiscutível e pleno pertencimento à Igreja, com o Papa Francisco e seu magistério, passando pelos caminhos da Igreja latino-americana, em comunhão com a CNBB e cada Igreja local;
- Realizar influência digital com total identificação com a evangelização no mundo contemporâneo, apresentando-se como tal e rompendo com a lógica do mercado midiático para aderir à lógica da missão evangelizadora;
- Fazer influência digital que chegue a todos os lugares e, também, em todas as dioceses, sem interferir, contradizer e atrapalhar o caminhar de cada uma delas, exatamente por serem as Igrejas locais.
Entre as conclusões da pesquisa, Dom Joaquim Mol lembra que “é possível ser evangelizador digital em efetiva e afetiva comunhão com a Igreja e seus ensinamentos, mas essa possibilidade depende das opções de cada influenciador em entendimento com a Igreja local”.
ATENÇÃO AOS MISSIONÁRIOS DIGITAIS
A Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, junto com a Comissão para a Juventude, vem realizando um trabalho de acompanhamento dos missionários digitais.
Marcus Tullius, coordenador nacional da Pascom Brasil, conta que a iniciativa “tem sido uma experiência bonita para construir um caminho conjunto e responder àquilo que o Relatório de Síntese da primeira sessão do Sínodo (2021-2024) apontou como proposta no capítulo 17 [referente aos missionários no ambiente digital]”.
Tullius destaca que a Igreja no Brasil começou este processo ainda antes da publicação do Relatório, em outubro de 2023. “É um sinal do Espírito entender a necessidade de caminhar junto para promover a cultura do encontro nas rodovias digitais, como propõe o documento Rumo à Presença Plena [publicado em maio de 2023 pelo Dicastério para a Comunicação, com reflexões pastorais sobre a participação nas redes sociais]”, afirma o coordenador.
Todo missionário digital, portanto, tem a necessidade de uma formação sólida, para comunicar o que a Igreja pensa e não o que ele próprio pensa. A propósito, sempre será válida esta pergunta decisiva: “Estou fazendo isso para mim oupara Jesus?”
DICAS PARA A MISSÃO ON-LINE E OFF-LINE*
1º Amar a Jesus Cristo e o seu Evangelho, pois só esse amor nos faz amar também a Igreja. Quem a ama não contraria os ensinamentos de Jesus e da Igreja e o efetivo sinal deste amor é o caminhar juntos, a prática da sinodalidade;
2º Libertar-se do mercado midiático, que determina o ‘tom’ da influência e aprisiona o influenciador aos interesses financeiros;
3º O influenciador digital católico deve participar da vida da Igreja local e geral, presencialmente, efetivamente, junto com os que compõem as diversas instâncias de participação, como conselhos, comissões e pastorais específicas;
4º Também deve dar real testemunho da pobreza evangélica, por meio de uma vida simples no que se refere às suas vestes, moradias, equipamentos, carros, alimentação e viagens.
(*A partir de entrevista com Dom Joaquim Mol, Bispo Auxiliar de Belo Horizonte (MG) e ex-presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB)
‘Há muitas iniciativas on-line, de grande valor e utilidade, ligadas à Igreja, que fornecem uma excelente catequese e formação para a fé. Infelizmente, há também alguns sites nos quais as temáticas ligadas à fé são tratadas de forma superficial, polarizada e até cheia de ódio. Como Igreja e, pessoalmente, como missionários digitais, temos o dever de nos interrogarmos como garantir que a nossa presença on-line constitua uma experiência de crescimento para as pessoas com quem nos comunicamos’
‘A internet está cada vez mais presente na vida dos adolescentes e das famílias. Embora tenha um grande potencial para melhorar a nossa vida, pode também causar danos e feridas, por exemplo, por meio do bullying, da desinformação, da exploração sexual e da dependência. É urgente refletir sobre a forma como a comunidade cristã pode apoiar as famílias a garantir que o espaço on-line não só seja seguro, mas também espiritualmente vivificante’
‘A cultura digital não é tanto uma área distinta da missão, mas uma dimensão crucial do testemunho da Igreja na cultura contemporânea. Por essa mesma razão, reveste-se de um significado particular em uma Igreja sinodal’
‘Devemos considerar também as implicações da nova fronteira missionária digital para a renovação das estruturas paroquiais e diocesanas existentes. Em um mundo cada vez mais digital, como evitar que fiquemos prisioneiros da lógica da conservação e, por outro lado, libertar energias para novas formas de exercício da missão?’
(Fonte : Relatório de Síntese da 1ª sessão do Sínodo, capítulo 17)