O desvendar: o domínio da Inteligência versus o Artificial

Alena Darmel/Pexels

A busca pela sabedoria e felicidade tem sido uma constante na história humana. E o combo perfeito de soluções passa, na atualidade, por uma alta carga tech de inovação e de resolução de problemas. A promoção desse avanço, entretanto, requer um delineamento claro de cada instituição, num sentido de responsabilidade partilhada entre empresas de tecnologia, organizações econômicas e governamentais. Assim, ciência, entretenimento e educação são áreas que trazem promessas de transformações, que afetam tempo e valores.

Nessa saída da cultura do contato para as relações virtuais, surge o medo do desconhecido. Compreender esse contexto é indispensável para situar o indivíduo na sociedade complexa potencializada pela Inteligência Artificial (IA). E a ordem do conhecimento desempenha um papel crucial para navegar com liberdade nesse ambiente.

No entanto, decisões e ações não podem ser definidas por inovações digitais, uma vez que estas transformações estejam “a serviço do ser humano”, como enfatiza o Papa Francisco. Ainda mais, na promoção do bem-estar e finalidade vital e não na desfiguração da sua imagem e semelhança. Tudo isso sem negligenciar valores fundamentais.

No Inter Mirifica, o documento do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) que trata sobre os meios de comunicação social, a Igreja os reconhece como “algo maravilhoso”, demonstrando, assim, que acolhe os avanços tecnológicos.

A IA é útil para as relações e ‘requer inteligência criativa’

Durante um encontro sobre o futuro das universidades católicas, realizado no mês de julho, o Cardeal José Tolentino de Mendonça, atual Prefeito do Dicastério da Cultura e Educação da Santa Sé, tratou sobre como a Inteligência Artificial pode ser útil à vida em sociedade, além de sua utilidade como ferramenta de divulgação da ética e do entretenimento. Falou, também, sobre os desafios que ela impõe à educação.

O Cardeal Tolentino enfatizou que diante da IA cabe a posição de renewal and awareness (renovação e conscientização)“Isto requer inteligência criativa, mas também um discernimento que não pode ser parcial, nem improvisado, mas solidamente baseado nos próprios valores”.

Resgata-se, portanto, a lembrança de que o movimento ético coeso ainda passa pelo critério humano. Desse modo, não é uma tendência algorítmica que poderá decidir o destino de uma família ou de uma nação. O critério do entendimento e a finalidade do conhecimento ainda devem ser avaliados. E fazer escolhas acertadas é próprio do ser humano, ainda que diante de bancos de dados acelerados.

Nesse sentido, acrescentou o Cardeal Tolentino: “Sem dúvida, esta nova era histórica representada pela transição do analógico para o digital e pelo impacto, em grande parte ainda por descobrir e regulamentar da inteligência artificial, obriga-nos a um delicado exercício de responsabilidade”. Do mesmo modo, ainda se requer maior transparência a respeito da condução de dados, imparcialidade, segurança e privacidade em todas as esferas da vida.

Deus também se manifesta nas redes digitais

Caderno Pascom em Ação perguntou ao Frei Darlei Zanon, filósofo, teólogo e mestre em Comunicação, a respeito dos recentes apelos do Papa Francisco para a Igreja em relação à comunicação diante dos meios digitais. “O Papa insiste na necessidade de uma comunicação humana, próxima, interpessoal, para uma presença mais cristã no mundo digital”, enfatizou.

No contexto da vivência da fé on-line, Frei Darlei observou que a linguagem digital trouxe uma revolução que “provocou na Igreja uma nova cultura, capaz de mudar categorias como tempo, espaço, presença e relações”.

O Religioso destacou que é impossível pensar na fé sem considerar como vivê-la também no ambiente digital: “É evidente que Deus se manifesta também na internet e nas redes sociais digitais, visto que são ambientes de encontro e de relações. A questão é como correspondemos a essa Revelação”.

A ênfase agora, portanto, é aprender a viver e comunicar o Evangelho por esses meios disponíveis, com o domínio necessário e uso criativo das ferramentas, construindo relações, em conformidade com o magistério da Igreja; refletir sobre o Gênesis da humanidade: “Então, disse Deus: ‘Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Domine ele … com gestos’”. (Gn 1,26-28). É essa perspectiva que nos direciona ao recriar de maneiras complexas e impactantes, incluindo o uso da Inteligência Artificial.

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